Antes de tudo, uma observação: Repetição. Por que quadros tão iguais? Por que sempre tantas cores, sempre a tinta aplicada de forma tão semelhante? Por que tantos rostos? Daí me lembro dos inúmeros autorretratos de Frida, dos incansáveis corpos nus de Schiele, dos vários rostos pescoçudos de Modigliani, dos quase cansativos quadrados de Mondrian e me convenço – ou tento.
Ser artista no fim das contas tem um pouco disso, não? Dessa paranoia com determinados temas, de uma certa fixação em técnicas e materiais específicos: Como que buscando a perfeição, num eterno exercício e estudo da sua arte (a cara do mundo das especializações em que vivemos). Mas, que paradoxo: buscando a perfeição com artifício, tinta e tela! Tenho que pensar mais sobre isso… Agora, vamos à artista que escolhi para ilustrar essa reflexão: Françoise Nielly.
Na criação de seus quadros, a francesa Nielly abre mão dos pinceis e usa espátulas e facas, para dar movimento e força à tinta a óleo sobre suas enormes telas. Em entrevista à Crane.tv, ela afirma acreditar que “há algo muito triste e duro sobre a vida”, o que a leva a preencher e saciar esse vazio com cores e colocar toda sua energia na arte.
E, realmente, sua arte tem bem a ver com isso. Com uma energia extravasada em muitas cores, como num ímpeto, numa explosão. Explosão essa que não se preocupa em reproduzir as cores das coisas de forma fiel, mas brinca com elas, tornando-as ainda mais vivas e atraentes. Seus retratos não abrem mão dos tons vibrantes, das cores neon e de closes quase que fotográficos.
Talvez isso seja reflexo da sua influência e contato com a cultura popular, especialmente no que se refere à street art, com seus ricos grafites, estênceis e murais. Tudo isso tornando impossível não percebermos o latente diálogo das suas obras com a pop art à la Andy Warhol. Nielly traz uma repetição sobre os mesmos temas que é impossível não ser apreciada.
Tentando transver o mundo, como Manoel de Barros bem disse ser preciso.