Grease e o figurino que diferenciou as tribos nos filmes de adolescentes

A década de 70  nunca foi tão doce quanto a estreia de Grease – Nos tempos da brilhantina, dirigido por Randal Klaiser. Ambientado nos anos 50, o filme conta a história de Sandy (Olivia Newton-John) e Danny (John Travolta), um casal de jovens que viveu um amor de verão, mas acabaram se separando. A película estadunidense é o debut da então cantora Olivia Newton-John.

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Com o figurino assinado por Albert Wolsky (Manhattan e Across the Universe), o filme destaca a distribuição social dos adolescentes em tribos. Essa divisão colabora como um prelúdio aos famosos filmes sobre escolas como “As patricinhas de Beverlly Hills” e “Meninas Malvadas”, que tornaram-se clássicos nas décadas posteriores.

A narrativa revela a situação social norte-americana sob o ponto de vista dos adolescentes da década de 50. As peças usadas pelos protagonistas revelam a tribo e a personalidade de cada um, além de destacar a ideologia pregada na época. Grease contextualiza o que viriam a se tornar arquétipos e estereótipos em filmes adolescentes: o galã popular, a mocinha e a “bitch”.

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O início do filme em animação mostra as referências culturais da época e sua relação com a narrativa do filme. Na década de 50, os ícones eram James Dean, Marlon Brando e Elvis Presley. É comum encontrarmos referências desses ícones na identidade de cada personagem. Os EUA passava pelo momento de ruptura dos ideais americanos, a juventude estadunidense lutava pela liberdade e o viver intensamente. O rock se propagava e ser descolado era o desejo de cada jovem da época.

Danny Zuko (John Travolta) e sua turma – os T-Birds – representam diretamente a subcultura jovem americana da época. As jaquetas de couro e as calças jeans com a barra dobrada usadas pelo grupo de Danny são a simbologia de jovens descolados. Eles fumam e são briguentos na escola. Os T-Birds são em sua essência os Brandos e os Deans daquela geração. Inclusive o próprio Danny Zuko faz referência aos ícones rebeldes ao possuir duas jaquetas: uma vermelha e a preta dos T- Birds.

A escola funcionava como uma espécie de sociedade e lá você encontrava sua tribo. Os rebeldes não se misturavam com os atletas e o estilo preppy. As garotas eram, por sua vez, divididas entre as puras e as descoladas. A personagem Sandy (Olivia Newton-John) simboliza a pureza daquela sociedade. Os vestidos midi acinturados e os sapatos que lembram o estilo Mary Jane denotavam que a garota era pura. Sandy representa o estilo “bobbysoxer” que surgiu em meados da década de 40 e cujas peças de guarda-roupa principais eram saias de pregas e suéteres. Além disso, blusas com golas Peter Pan e o sapato Oxford também fazia parte das vestimentas daquelas que adotavam o estilo.

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No decorrer da história, vemos a transformação do figurino da personagem Sandy desde o bobbysoxer até o bombshell. As Candy Collors usadas pela personagem destacavam a personalidade doce de Newton-John na tela. Um fato interessante é que no filme acontece um makeover inverso dos protagonistas em que a compreensão se dá somente no final com a canção “You’re the one that I want”. Enquanto Danny tenta se encaixar no mundo de Sandy (ele acaba se tornando adepto ao famoso estilo “preppy”, ou seja, o estilo universitário londrino, suéter da escola e calças sociais), Sandy, no auge de sua epifania, revela-se uma rebelde usando wet leggings e blusa preta, além de um salto e batom vermelho. O último figurino usado por Olivia Newton-John configurou-se como atemporal, sendo um dos mais copiados até hoje.

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Outra personagem que mitificou a personificação de “bitch” nos filmes sobre escola foi Rizzo (Stockard Channing), que representava a garota moderna e desprovida de pudor. A líder das “Pink Ladies” usava, em sua maioria, roupas que marcavam o corpo destacando as curvas e sua sensualidade. As peças como shorts, saia, lápis com cinto e blusas pólo ou gola blazer destacavam a praticidade na vestimenta que a época exigia . A personagem  Rizzo consegue  se opor ao tema “amor de escola” ao envolver-se com questões como sexo sem camisinha e gravidez na adolescência. Outro detalhe interessante é que a personagem usa calças, capri e shorts, tornando a forma como se veste masculinizada para a época.

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Além de popularizar a categoria “filmes de escolas”, o filme dirigido por Randal Kleiser abordou temas importantes ainda retratados nos filmes atualmente, tais como: corridas de carros proibidas e a tão temida segregação social. Em sua essência, o filme Grease foi o alicerce para as futuras Reginas Georges, Chers e Cady Herons, tornando-o um cult e clássico filme do gênero.

  • “You’re the one that I want” para a Chanel

A grife Chanel famosa, pelo pioneirismo no vestuário feminino e também pelos comerciais belíssimos do perfume Chanel nº5, elegeu a música You’re the one that I want como tema do perfume em 2014. Dirigido pelo cineasta australiano Baz Luhrmann  e estrelado pela uber model brasileira Gisele Bündchen, o comercial conta a história de uma mulher que larga tudo em busca do amor.

Se você pensa que a versão de You’re the one that I want é aquela animadinha do filme, se engana. Conhecido pelas releituras extravagantes, Baz Lurhmann não deixa a desejar nessa versão “cabaret” da canção mais famosa do filme Grease. Interpretada pelo até então desconhecido Lo-Fang a música tem o propósito de confundir quem a ouve com a seguinte pergunta: “Eu conheço essa música , mas de onde?” . Mais uma vez Baz acertou em sua releitura.

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Maria Aparecida Borges
Estudante de jornalismo, aspirante a figurinista e fã incondicional de Grace Codington, Anna Wintour, Nina Garcia e Miranda Priestly. Frase favorita: “That’s all” .
Maria Aparecida Borges

Maria Aparecida Borges

Estudante de jornalismo, aspirante a figurinista e fã incondicional de Grace Codington, Anna Wintour, Nina Garcia e Miranda Priestly. Frase favorita: "That's all" .

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