Há muito escuto falar de Gustavo Duarte, um jovem e promissor quadrinista que conquista o público a cada ano com o esmero de seus traços e sua criatividade para narrativas. Confesso que tinha lido pouco dele. Certa vez, folheei Monstros! (2012, Companhia das Letras) e também dei uma olhada superficial em Chico Bento – Pavor Espaciar (2013, selo Graphic MPS), mas a primeira vez que sentei para ler, de fato, com a atenção merecida, uma obra de Duarte foi recentemente com o relançamento de Có! (2009) e Birds (2011), em um único livro pelo selo Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, publicado em novembro deste ano.
Se eu pudesse fazer uma comparação entre Gustavo Duarte e um ícone do universo dos cinemas, diria que ele era o Charles Chaplin brasileiro dos quadrinhos. Explico. Assim como o mestre do cinema mudo, Gustavo faz questão de ser econômico com as palavras. Seus desenhos, em preto e branco (outra semelhança!), se mostram muitas vezes cinematográficos, quase como um storyboard bem elaborado, em que as imagens falam por si só, sem o apoio de balões de textos.
E como, no mundo de hoje, é difícil prender a atenção dos leitores apenas com traços! Mas, mesmo correndo o risco de ser taxado de literatura “infantil” ou “fácil”, Gustavo o faz competentemente. E como se enganam os que pensam dessa forma. Foram incontáveis as vezes que me peguei voltando alguns quadros ou virando uma página para “ler melhor” os traços de Gustavo e conseguir assimilar o roteiro.
Por falar em roteiro, Gustavo Duarte tem um tino sem tamanho para a desgraça. É meio aquela história do “rir para não chorar”. Mas, nas histórias de Duarte, a exemplo da proximidade dos nomes, graça e desgraça se relacionam muito bem. A pegada sci-fi, que ele estimulou bem em Pavor Espaciar, já é encontrada desde Có, quando um extraterrestre dá as caras no terreno de um criador de porcos. Já em Birds, os personagens são vítimas de uma brincadeira mórbida, parceria entre Gustavo e ninguém menos que a própria Morte. Uma pitada de humor negro e de sangue em preto e branco na deliciosa receita do autor.
Có & Birds chega ao mercado como uma carta de aceita definitiva de Gustavo Duarte como um quadrinista conceituado que, após várias produções independentes, conquista o seu espaço de vez no mercado editorial nacional. O lindíssimo livro possui 80 páginas em brochura e está sendo vendido pelo preço de R$ 34,90.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.