Ryan Murphy já se tornou uma autarquia no meio televisivo. Produtor e roteirista, ele é responsável pelo sucesso mundial Glee e por outras produções responsáveis por inseri-lo de vez no radar dos grandes estúdios e do público em geral, tais como American Horror Story, The Politician, Pose e Feud. Esta última, minissérie protagonizada por Jessica Lange e Susan Sarandon, conta a história da richa midiática e histórica entre Joan Crawford e Bette Davis, atrizes consagradas da Era de Ouro de Hollywood. Com temática correlata, tornando clara uma das grandes paixões de Murphy, temos a recente série Hollywood, lançada pela Netflix neste mês.
Hollywood é, como o nome já induz, uma homenagem à Hollywood dos anos 50, mas também uma sátira sobre o que ela poderia ter sido, não fossem os excessos de testosterona e preconceitos existentes na indústria. A série mistura fatos e personagens reais com um roteiro fictício e chega a um resultado que poderá agradar os fãs mais progressistas do cinema clássico e ofender àqueles mais tradicionais. De toda forma, vale conferir antes de qualquer julgamento.
A mão de Ryan Murphy é perceptível no ato. Quem acompanha as suas produções já é habituado com algumas características peculiares: cores bem vivas e cheias de personalidade, figurino icônico, personagens caricatos, montagem ágil, e um tom de humor que equilibra bem o sarcarmo e a crítica social. O tom progressista também está sempre presente, propondo pautas que passam longe de uma abordagem conservadora.
Em Hollywood, inclusive, Murphy utiliza-se bem da licença poética para propor uma leitura completamente inverossímel de questões como homossexualidade, racismo e representatividade feminina na Los Angeles do meio do século XX. No entanto, é importante lembrar que a arte não tem compromisso com a realidade e, para aqueles que se permitam imaginar, a experiência de idealizar uma postura diferente na indústria cinematográfica americana pode ser até bastante emocionante.
Na série, Murphy milita. E não só ele. O elenco, composto por veteranos (tais como Jim Parsons e Patti LuPone) e novatos, está alinhado e determinado na missão de contar a história que poderia ter sido a que conhecemos. Mas não é. Devido ao tom otimista e à clara intenção por traz da obra, a série se torna um tanto previsível, mas isso não anula por completo os seus méritos. Fica a “moral da história” e o desejo de uma segunda temporada que aprofunde melhor personagens e conflitos e um pouco menos as bandeiras – já magistralmente levantadas no primeiro momento.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.