Homem de Ferro 3: diretor reestreia bem em possível fim de franquia

Por João Victor Wanderley, especial para o blog O Chaplin

Depois do sucesso estrondoso de bilheteria de Os Vingadores, qualquer filme solo dos heróis da Marvel passou a ter uma responsabilidade maior, e o primeiro a passar pelo teste foi o Homem de Ferro. Com a saída do diretor dos dois filmes anteriores – Jon Favreau (Cowboys & Aliens) – coube a Shane Black (Beijos e Tiros), em seu segundo filme, a direção desse aparente último episódio da franquia. E o resultado foi surpreendentemente bom.

Homem de Ferro 3 se centra em Tony Stark (Robert Downey Jr. de Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras). Inseguro e sofrendo ataques de pânico, o milionário dedica a maior parte de seu tempo a construir armaduras novas e mais seguras, o que prejudica seu relacionamento com Pepper (Gwyneth Paltrow de Contágio) e o afasta de seus amigos.

Além dos problemas pessoais, Tony precisa lidar com o Mandarim (Ben Kingsley de A Invenção de Hugo Cabret), terrorista responsável por diversos atentados pelos Estados Unidos. Após quase perder a vida e muito de seus recursos, Stark percebe que precisará superar suas fraquezas para fazer seu Homem de Ferro evoluir.

Mais uma vez, Robert Downey Jr. domina a tela com sua magnética interpretação de Stark. Aqui, Downey continua carismático, marca registrada de sua atuação, e traz a energia cênica habitual. Porém, acresce ao seu personagem certo desequilíbrio psicológico que dita a essência da película. A necessidade de combater o inimigo esbarra na incapacidade de lidar com seus medos e inseguranças, o que não era presente nos filmes anteriores. É justamente nesses momentos que Downey mostra que é possível transformar um super-herói em um humano crível.

Sua química com Paltrow continua afiada rendendo cenas interessantes e renovando o interesse do público pelo casal. Kingsley empresta ao seu Mandarim toda a credibilidade que sua persona cinematográfica emana. Mesmo com pouco tempo de tela, Kinsgsley mostra qualidade ao adaptar seu personagem às viradas provocadas pelo roteiro. Quem também tem destaque positivo é Favreau no papel de Happy, o ex-segurança de Tony e agora responsável pela segurança das empresas Stark.

O restante do elenco parecia estar no piloto automático. Guy Pearce (Prometheus) opta pelo comum com seu Aldrich Killian mantendo-se quase sempre linear, a não ser por pequenos exageros durante o filme. Rebecca Hall (Atração Perigosa) empresta sua graça à Maya Hansen e só. Mesmo sua personagem tendo importância para a trama, o papel não exige muito da atriz que não acrescenta e nem atrapalha. Já o Jim Rhodes de Don Cheadle (O Voo) claramente evolui em relação ao segundo filme. Cheadle está mais à vontade e consegue impor ritmo e humor em suas cenas, principalmente ao lado de Downey, mas ainda não tem a presença de tela de Terrence Howard (Dead Man Down), intérprete do personagem no primeiro filme da série.

Apesar do protagonismo excelente de Downey, o grande destaque deste filme é Shane Black. O diretor tem no currículo os quatro filmes da franquia Máquina Mortífera como roteirista e apenas Beijos e Tiros (protagonizado por Robert Downey Jr.) como diretor. Em Homem de Ferro 3, Black também assina o roteiro. No script, o diretor-roteirista parecia ser a escolha correta. Sua experiência na franquia de sucesso estrelada por Mel Gibson (Plano de Fuga) e Danny Glover (da série Touch) mostra sua capacidade em mesclar ação e comédia. Se havia dúvidas, eram na capacidade de execução num filme desse porte financeiro.

Ignorando a pressão do cargo, Black entrega o filme mais maduro da franquia. As cenas de ação e a comédia estão lá e em grande número, mas o elemento humano é o cerne da fita. Tony Stark tem mais tempo de tela que seu alter ego metalizado, exigindo do seu protagonista (e que sempre corresponde) uma atuação mais tridimensional, pondo em conflito seus medos e obrigações. As cenas de ação são de muito bom gosto e de muita criatividade, sempre levando o expectador por caminhos novos, nunca se repetindo entre si. Uma direção firme e, até certo ponto, autoral, distanciando-se da característica industrial dos filmes anteriores.

Com todas as qualidades, o filme tem algumas falhas. Mesmo que não comprometam o andamento da obra, elas incomodam o expectador que sempre procura mais que um blockbuster “pipocão”. Homem de Ferro 3 é o mais maduro e o mais sério dos três filmes. Porém, também é o que entra mais fundo no “irreal”. Indo na contramão das próprias escolhas da produção e dos filmes anteriores, o filme apresenta vilões com superpoderes, o que faz sentido em Os Vingadores e em Thor, não aqui. E se a produção acerta em descaracterizar determinado personagem pra inseri-lo num contexto contemporâneo, ela erra tirando poderes de quem poderia ter e colocando em quem nem deveria.

Mediante ao futuro incerto da franquia a partir de agora, o Homem de Ferro 3 pode ser um ótimo final para o arco iniciado em 2008. Dessa forma, a Marvel pode se orgulhar do que foi feito até agora assim como Shane Black mostrou um bom cartão de visitas.

Ficha Técnica

Título Original: Iron Man 3
Dirigido por Shane Black
Com Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Don Cheadle
Produção: Kevin Feige
Roteiro: Shane Black, Drew Pearce
Fotografia: John Toll
Trilha Sonora: Brian Tyler
Duração: 130 min.
Ano: 2013
País: EUA,China
Gênero: Ação
Distribuidora: Disney
Estúdio: DMG Entertainment / Marvel Studios / Paramount Pictures
Classificação: 12 anos


Nota: 8/10

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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Leonardo Campos
11 anos atrás

De maneira geral eu gostei do filme e compartilho a maioria das suas opiniões. Confesso que como espectador fiquei com um gostinho de faltou algo mais. Talvez seja por ter visto os trailers, acredito que eles entregaram praticamente o filme todo ali e criaram expectativas de que teria algo mais. Isso me fez decidir não mais ver o material promocional antes do filme na íntegra. É melhor esperar pra ser surpreendido diante da telona 😉

João Victor Wanderley
João Victor Wanderley
11 anos atrás

Leonardo, essa sua atitude é muito sensata. É muito comum a gente ficar ansioso demais com um filme pelo material promocional. Tem filme que a frustração é muito grande, mesmo sendo bom, por causa da expectativa que criamos. Gosto dos filmes da Marvel, mas acho que a maioria deles é assim. Até porque são filmes feitos para todos os públicos. Tem que ser equilibrado a ação, a comédia, o drama. Dentro do contexto, achei esse Homem de Ferro 3 o melhor, até agora, da Marvel. E ainda prefiro os filmes solos ao filme dos Vingadores que não é ruim. Ficou melhor do que eu esperava, mas aquém do que poderia (deveria).

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10 anos atrás

[…] filmes do ano, Gravidade, é claro, e os outros quatros estão entre os piores do ano pra mim: Homem de Ferro 3, Star Trek: Além da Escuridão, O Cavaleiro Solitário e O Hobbit – A Desolação de […]

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