Ignorados pelo Oscar: reconhecidos pela crítica e pelo público, mas sem estatuetas

A festa do Oscar foi criada nos anos 20 do século passado com um objetivo: prestigiar e, sobretudo, promover a indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Por esse motivo, cinéfilo que é cinéfilo já se frustrou com alguma determinação do Oscar. E também deve ter em mente que se assegurar apenas no que vê nas telonas não é garantia de que suas escolhas sejam as acertadas, no fim das contas. Portanto, sejamos cautelosos nos bolões e leiamos este texto antes de apostar as fichas em uma produção “merecida”.

Algumas etapas determinam a escolha dos nomes que levarão para casa o almejado prêmio: primeiro, produtoras e distribuidoras inscrevem seus filmes na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, mais conhecida por Hollywood. Depois de organizada a lista, os filmes inscritos são enviados aos membros da Academia para uma pré-seleção. Nessa segunda fase, votam membros que trabalham na categoria em questão. Então, são anunciados os indicados e, por fim, as cédulas retornam aos quase 6.000 integrantes da Academia (entre diretores, produtores, atores, músicos, fotógrafos, editores, executivos, entre outros), que decidem quem leva para casa cada estatueta dourada.

J. Edgar e Leonardo Di Caprio: ignorados pela Academia
J. Edgar e Leonardo Di Caprio: ignorados pela Academia

A Academia geralmente tem seus preferidos, os explicitamente renegados, e seus despercebidos. Leonardo Di Caprio, por exemplo, está na lista dos “despercebidos”. Três vezes indicado, mas nenhuma vez premiado, o Oscar tem cometido injustiças com o ator há algum tempo. Ano passado, muitos se indignaram com a ausência de seu nome na lista de “Melhor Ator” por J. Edgar. À propósito, J. Edgar, de Clint Eastwood, foi um completo lapso da premiação. O filme, que mereceria no mínimo uma indicação por sua maquiagem, passou reto na esperada lista dos indicados, fato que causou indignação quase unânime entre crítica e público. Este ano, alguns filmes também passaram batidos. Entre eles, o polêmico “A Viagem” (Cloud Atlas), que estava sendo esperado dentre os indicados nas categorias técnicas. Já o francês “Os Intocáveis”, que muitos já consideravam vitorioso na categoria “Melhor Filme Estrangeiro”, sequer chegou a ser indicado. O mesmo aconteceu com “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, último filme da trilogia de Nolan, completamente ignorado este ano. Mais uma vez, Leonardo Di Caprio ficou de fora, tendo sua atuação em Django Livre não sido cotada pela Academia.

No quesito filmes estrangeiros, o Oscar costuma ser polêmico e indefinido. Enquanto o francês “O Artista” arrebanhou dez indicações e cinco Oscars em 2012, “O Fabuloso Destino de Amélie Poulin” (2001), também francês, indicado em quatro categorias não conseguiu sequer o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, o que é quase garantido quando um filme alcança visibilidade em outras categorias. “O Labirinto do Fauno” (2006) foi indicado seis vezes, ganhou três delas, mas, assim como “Amélie Poulin”, perdeu “Melhor Filme Estrangeiro”. Portanto, ainda não nos empolguemos com o sucesso do austríaco “Amor”, com cinco indicações esse ano, entre elas “Melhor Filme”.

O Fabuloso Destino de Amélie Poulin: quatro indicações e nenhum Oscar

Dentre os americanos, um das falhas recorde do Oscar foi construir a expectativa de onze indicações para “A Cor Púrpura” (Steven Spielberg, 1985) e deixá-lo sair da premiação de mãos abanando. Já diretores como o inglês Alfred Hitchcock e o americano Stanley Kubrick, reconhecidos como mestres, mas com obras pouco carismáticas, nunca ganharam um Oscar de Melhor Direção. Hitch foi indicado e derrotado cinco vezes, e tudo o que recebeu da Academia foi um prêmio pelo conjunto de sua obra. Na categoria “Melhor Filme”, contudo, o filme de sua estreia em Hollywood, “Rebecca”, foi o vencedor em 1940. “Rebecca” foi a única obra do diretor a vencer na categoria. Já Stanley Kubrick foi indicado quatro vezes como Melhor Diretor, mas contentou-se com uma única estatueta – a de Efeitos Visuais por “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.

Enquanto alguns são idolatrados e batem ponto quase todos os anos na lista dos indicados, como é o caso da inegavelmente talentosa Meryl Streep – com dezessete indicações e três estatuetas, outros adotados de Hollywood acabam sofrendo o bullying da Academia. O canadense Jim Carrey é um exemplo recente. Mesmo conhecido por papeis homogêneos em filmes de comédia, Carrey provou que pode ser eclético e talentoso em outros gêneros em produções como “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004), e continua renegado pela premiação, nunca tendo sido sequer indicado.

Jim Carrey em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”: o ator nunca foi indicado ao Oscar

Há algumas versões que explicam o atrito entre o inglês Charlie Chaplin e o Oscar. Uma delas diz que tudo começou em 1929, quando Chaplin recebeu o seu primeiro Oscar “pela versatilidade e genialidade em atuar, escrever, dirigir e produzir O Circo“. Contam que o diretor deixou a estatueta ao lado da porta para não deixá-la bater e isso provocou a ira da Academia, que desconsiderou completamente seus dois grandes filmes, “Tempos Modernos” (1936) e “Luzes da Cidade” (1931). Pessoalmente, penso que o motivo da indiferença tenha sido outro, mais político e menos relacionado ao design de interiores da casa de Chaplin. A questão é que ele nunca ganhou um Oscar de Melhor Diretor, não tendo sido sequer indicado. Na categoria Melhor Ator, Chaplin foi lembrado uma vez, por “O Grande Ditador” (1941), mas também não chegou a vencê-lo. O reconhecimento da Academia, na verdade, só veio cinco anos antes da morte de Chaplin, quando ele foi homenageado com um prêmio pelo “efeito incalculável que ele teve em tornar os filmes a forma de arte deste século”. Na ocasião, Chaplin, que já precisava de cadeira de rodas para locomover-se, foi ovacionado de pé. Contam os biógrafos que este foi um dos momento de maior emoção de sua vida.

 

Os críticos de cinema Christian Pettermann e Celso Sabadin fizeram, para uma edição do Almanaque Saraiva, uma lista de grandes diretores, atrizes e atores que nunca chegaram a ganhar um Oscar. Abaixo, a lista:

Diretores (referente ao prêmio de Melhor Diretor):

Brian de Palma (nunca indicado), Christopher Nolan (nunca indicado), David Lynch (três vezes indicado), Federico Fellini (quatro vezes indicado), François Truffaut (indicado uma vez), Ingmar Bergman (três vezes indicado), Orson Welles (indicado uma vez), Ridley Scott (três vezes indicado), Robert Altman (cinco vezes indicado), Spike Jonze (indicado uma vez), Spike Lee (nunca indicado), Tim Burton (nunca indicado).

 

Johnny Depp foi indicado três vezes e nunca levou o Oscar. Tim Burton, um dos diretores mais irreverentes de Hollywood, nunca chegou a ser indicado ao prêmio de “Melhor Diretor”.

Atores:

Brad Pitt (três vezes indicado), Clint Eastwood (duas vezes indicado), Donald Sutherland (nunca indicado), Gary Oldman (indicado uma vez), Johnny Depp (três vezes indicado), Leonardo DiCaprio (três vezes indicado), Liam Neeson (indicado uma vez), Nick Nolte (três vezes indicado), Peter O’Toole (oito vezes indicado), Ralph Fiennes (duas vezes indicado), Richard Burton (sete vezes indicado), Robert Downey Jr. (nunca indicado), Robert Redford (indicado uma vez), Vincent Price (nunca indicado).

 

Atrizes:

Annette Bening (quatro vezes indicada), Charlotte Gainsbourg (nunca indicada), Deborah Kerr (seis vezes indicada), Glenn Close (seis vezes indicada), Greta Garbo (quatro vezes indicada), Julianne Moore (quatro vezes indicada), Judy Garland (duas vezes indicada), Kathleen Turner (indicada uma vez), Kirsten Dunst (nunca indicada), Lauren Bacall (indicada uma vez), Mia Farrow (nunca indicada), Salma Hayek (indicada uma vez).

 

Salma Hayek foi indicada por “Frida”, mas perdeu o Oscar de Melhor Atriz para Nicole Kidman (As Horas).

Fontes principais:

FERNANDES, Edu. Clássicos que nunca ganharam o Oscar. In: Almanaque Saraiva. Fev/2013. p. 16 e 17.

MARQUES, Nelson. Os Injustiçados do Oscar. Disponível em: http://cineclubenatal.com/artigos/os-injusticados-pelo-oscar

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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Emanoel Germano
11 anos atrás

A Academia muitas vezes é injusta, em 1999 (71° Oscar) tivemos que engolir Gwyneth Paltrow… GWYNETH PALTROW (–‘)… ganhar no lugar de Fernanda Montenegro e Meryl Streep. É a vida, né? Bom, Spielberg já falou sobre isso.

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