Imagine um mundo onde robôs e humanos convivem normalmente. Já deve ter visto um filme assim, né? Agora imagine que nesse universo estes robôs não são tratados como apenas máquinas serviçais, mas como qualquer cidadão, que trabalha, paga suas contas, sai com os amigos…Imagine também um romance entre duas dessas criaturas. Este é o enredo de I’m Here, curta metragem dirigido e roteirizado por Spike Jonze (Quero ser John Malcovich, Onde vivem os monstros).
O filme se passa em uma surreal Los Angeles onde as pessoas convivem sem problemas com seres cibernéticos. Nesse contexto, somos apresentados ao protagonista Sheldon (Andy Garfield – O Espetacular Homem Aranha), um solitário e tímido robô que trabalha em uma biblioteca. Certo dia, esperando o ônibus para ir para casa Sheldon avista Francesca (Siena Gillory – Resident Evil), ele logo fica encantado. Francesca é um extrovertido autômato feminino.
Em outro dia, o personagem de Andy está novamente a espera de seu transporte, seguindo sua rotina. Francesca está de carro com amigos, robôs e humanos, e novamente percebe Sheldon, ela então o convida para se juntar ai grupo. A partir deste acontecimento a história se desenrola, o casal começa a se conhecer e acaba se apaixonando. O improvável romance acontece como qualquer outro namoro convencional.
Sheldon, que era triste e solitário, agora vive com Francesca, os dois passam a morar juntos. Tudo são flores. No entanto, a certo momento, o clima de felicidade do filme é quebrado e o teor dramático da película vem à tona. Somos então confrontados com momentos de alegria e de apreensão, que culminam em desfecho emocionante.
Esse filme poderia ser só mais um “romancezinho água com açúcar”, não fosse a mente engenhosa de Jonze, que criou um desconcertante cenário ao dar vida a seres robóticos. O diretor foge totalmente ao estereótipo de que robôs não têm alma e sentimentos, aqui eles são mais humanos que os próprios humanos. Talvez a intenção tenha sido justamente essa, o contraste com a frieza humana.
No filme os diálogos e ações são sempre serenos, calmos, o que casa perfeitamente com a trilha sonora, criando sentimentos que vão da ideia de carinho à melancolia. A qualidade técnica, tanto na fotografia, quanto na criação da estética dos robôs é impecável. Os planos são simples e limpos, mas bem executados.
Outro ponto positivo que o diretor usa a seu favor é o estranhamento, presente em todos os seus filmes (pelo menos os que vi). Spike Jonze deixa o espectador com uma pulga atrás da orelha já nos primeiros planos, só depois a ficha vai caindo. Em um roteiro isso é muito bom.
Por fim, I’m Here é um filme tocante, e passa a simples mensagem do amor entre dois seres, só que aqui a metáfora do “você tem um pedaço de mim” está presente da forma mais literal possível. Com certeza mexerá com a emoção de muitos.
I’m Here pode ser assistido no Youtube:
Jornalista, headbanger baterista e metido a roteirista. A rima só não é pior que o gosto por mindblowing movies.