LEGO Batman – O Filme: Uma gigantesca (e hilária) homenagem ao personagem

Existem algumas características fundamentais para uma personificação do Batman que sempre precisam ser respeitadas. Número 1: Batman sempre se leva muito a sério, especialmente para o que é essencialmente um homem fantasiado de morcego. Número 2: Batman não tem superpoderes e ele compensa isso com muita força e destreza, além de usar sua inteligência associada ao poder do dinheiro, capaz de construir os mais diversos gadgets. Número 3: Batman não mata (algo horripilantemente ignorado em Batman vs. Superman ano passado). Número 4: Batman é tão bom quanto seus vilões o permitem ser; quanto maior (e melhor) o grau de vilania, mais ele precisa se superar para combater uma ameaça. Número 5: Batman é tão quebrado por dentro quanto seus vilões, com os quais criou uma relação de codependência destrutiva onde o maior penalizado é sempre o pobre cidadão de Gotham City.

Batman: sempre se levando muito sério, mesmo em sua versão de plástico.

“LEGO Batman: O filme” (The Lego Batman Movie) abraça todas essas características do Homem Morcego mergulhando profundamente na psique do personagem de forma hilária, ao mesmo tempo em que é capaz de apresentar uma ação frenética, imagens belíssimas e uma sensibilidade surpreendente. Definitivamente esta é a maior homenagem ao personagem já feita desde “O Retorno do Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, e o fato de ter sido feita por uma série de filmes criada para ajudar a vender brinquedos de plástico superfaturados é realmente espantoso.

O filme segue as aventuras do Batman dentro do universo Lego iniciada no também divertidíssimo “Uma Aventura Lego”. Após um início frenético (as vezes até demais), Batman segue a sua rotina salvando o dia enquanto derrota toda a sua vasta e colorida lista de supervilões, que vão desde o clássico Coringa até o ridículo Homem-Condimento. É tudo muito fácil para o nosso super-herói de plástico, que logo retorna à sua Bat-Caverna para sua rotina de comer lagosta al thermidor e assistir Jerry Maguire sozinho em sua gigantesca mansão.

Antítese e inimigo mortal do Batman, o Coringa rouba a cena em busca do respeito próprio (e do amor ódio do Homem Morcego).

O filme torna central algo que costuma ficar em segundo plano nos quadrinhos, mas que é essencial ao personagem: eis aqui um homem solitário, que perdeu os pais tragicamente quando criança e que gasta o seu tempo vestindo uma fantasia ridícula para socar bandidos noite a dentro como uma forma de compensar o sentimento de impotência da fatídica noite em que sua vida mudou. A solidão é tornada explícita e diretamente consequente à história: deixar outras pessoas se aproximarem significa a possibilidade de perdê-las de forma dolorosa. Eis o muro que afasta o personagem de qualquer real ligação pessoal. Sim, é possível perceber isso mesmo em um filme baseado em LEGO.

A chegada de uma nova Comissária na cidade, Bárbara Gordon – filha do recém aposentado Comissário Gordon e tradicionalmente a BatGirl nos quadrinhos – posa uma ameaça direta a este estilo de vida e a zona de conforto do Batplástico. Vinda da “Harvard para Policiais”, Gordon quer proteger uma cidade não unicamente à base de Batsegurança, mas em cima de bom trabalho policial, reabilitação prisional e trabalho em parceria com Batman. Obviamente, este Batman não faz parcerias e as suspeitas de um novo plano maligno do Coringa, somado à adoção acidental de um jovem órfão (Robin) ditarão a trama do filme, que não foge muito do ritmo (e dos clichês) dos filmes de super-heróis atuais. Exceto pelo filme ser feito com base em brinquedos de plástico, é claro.

O Robin aqui gera boas risadas como uma figura inocente de olhos esbugalhados, entusiasmado por ter dois pais: Bruce Wayne e Batman (de forma hilária, o segredo se mantém escondido durante quase todo o filme). O Coringa rouba boa parte das cenas como um arqui-inimigo rejeitado, utilizando o arquétipo do ex-namorado não valorizado buscando acima de tudo a reprovação e o ódio do homem morcego. Alfred não poderia ficar de fora como a figura paterna e sua participação, além de gerar boas risadas, é central a uma das cenas mais emocionantes e emotivas do filme, gerando uma imagem espetacular que certamente irá virar o papel de parede do computador de muitos fãs do personagem.

Visuais surpreendentes elevam a experiência do filme.

Toda a essência do mito do Batman está presente, com grande reverência prestada às encarnações prévias do personagem, acrescentado de muito humor e apresentando uma ingenuidade infantil, que se mantém do último filme da franquia LEGO. Algumas piadas irão escapar aos pequenos (acertando em cheio os adultos), mas certamente há humor de sobra para todos os presentes.  “Lego Batman: O Filme”, apesar da premissa ridícula, apesar de ser claramente uma ferramenta para vender brinquedos de plástico superfaturados, é, também, um ótimo filme, um dos melhores filmes sobre o Batman já feitos, sendo fundamental para os fãs do personagem e um excelente programa em família. Vença os seus preconceitos, pois esse filme realmente vale a sua atenção.

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Diego Paes
Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.
Diego Paes

Diego Paes

Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.

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