Letícia Novaes, da banda Letuce, do Rio, sempre foi uma musa pra mim. Uma megamusa, diz o Chacal.

Ela é cantora, atriz, escritora… tanta coisa, e tem uma energia tão boa que contamina qualquer um. Letícia é colunista do Ornintorrinco, do Cantão, e agora, do Segundo Caderno. O Letuce já lançou dois álbuns e lança o terceiro, ”Estilhaça”, ainda esse ano.

Foto: Laila Oliveira
Foto: Laila Oliveira

 Resolvi bater um papo bem descontraído com a Letícia, falando sobre tudo-no-mundo. Confiram:

O CHAPLIN: Letícia é teu nome da identidade. Como os amigos chamam? Qual apelido você mais curte?

Meu pai me chama de Tica, meus amigos variam entre Lê, Let, Lelê, Trux, Trúcia, Gira, Letea (de girafa), curto todos.

 O CHAPLIN: Aquele seu texto no Ornintorrinco sobre o dia que teve vergonha de ser depiladinha me chamou atenção. Risos. Somos do mesmo time. Você já teve vergonha de outras coisas assim, que normalmente as pessoas não teriam? Conta aí.

Só pra explicar o contexto: eu tive vergonha de estar depilada num encontro hippie onde todas as mulheres não eram depiladas, portanto não mergulhei pelada na cachoeira, pois achei que iam me dar um toque, do tipo “irmã, por que sofres?” rá. Tenho vergonha de perguntar preço das roupas, das coisas. Sei que tenho que resolver isso, mas acho chato. Vejo um quadro, uma calça, o que for, e fico tímida pra falar “Quanto é?”

O CHAPLIN:  Escolhe qualquer uma das músicas que você já compôs e fala como ela surgiu.

Loteria, do Manja Perene. Estava numa fase anotando palavras gostosas nos meus caderninhos. Palavras como “tramóia”, “maracutaia”, “algazarra”. E sempre tive essa atração com a sorte, vez em quando jogo na Loteria, já acertei a quadra duas vezes, risos. Aí fui juntando uma coisa com a outra. As palavras com sonoridades diferentes com os lugares que eu viajaria se eu acertasse 6 números. O final da música é quase um desafio ao ouvinte. Você sabe pra sempre? Você manja perene? É uma pergunta mesmo, é difícil entender a finitude das coisas, e dos sentimentos, por isso é bom se questionar.

Foto: Lucas Bori
Foto: Lucas Bori

O CHAPLIN: Você se veste como quer e isso com certeza tem a ver com autoestima – coisa que, infelizmente, a gente às vezes não tem ou demora muito a ter. Quando você decidiu que ia se vestir como bem entendesse?

Acho que desde 5 anos. Minha mãe diz que colocava coisas e eu ia tirando ou mudando. Não aceitava muitas imposições, sempre fui assim. Sofri na adolescência porque já era esquisita, mas  adorava ser. Não gostava de ser ridicularizada, mas eu tinha muita consciência de que aquela fase medíocre da minha vida passaria, e eu em breve estaria rodeada de arte, de esquisitice, de pessoas maravilhosas e não julgadoras, etc. Ledo engano, pois o julgamento ainda existe forte, mas sendo adulta você consegue se rodear mais dos seus semelhantes do que no colégio e isso é um alívio.

 O CHAPLIN:  Você gosta de ler poemas também, né? Quem são seus poetas favoritos?

Olha, adoro conhecer poesia, descobrir novos poetas ou novos poemas daqueles que eu amo. Mas acabo sempre voltando para alguns: Sylvia Plath, Adélia Prado, Ana Cristina Cesar, e.e. cummings, Drummond. Esses cinco me acompanham sempre. O último livro que li de poesia foi o “Carne de umbigo”, da minha amiga Maria Rezende. A Maria é expert em te dar um nó na cabeça, na barriga, no coração e depois desse nó, ela te acomoda na melhor cama do mundo e te serve um chazinho maravilhoso. A poesia dela faz isso comigo.

Ândrea Possamai Fotografia
Ândrea Possamai Fotografia

O CHAPLIN: E falando agora de música: o que você tem escutado ultimamente que te chama atenção?

Estou redescobrindo Carole King e Led Zeppelin, parece besteira, mas é bom re-ouvir essa gente vez ou outra. Das coisas recentes que ouvi, amei Séculos Apaixonados, recomendo com força.

 O CHAPLIN: O que mais você gosta de fazer, no dia-a-dia?

Gosto de cozinhar, de mergulhar, quando posso. Adoro ler, beber um vinho, ter alguma troca com alguém que amo.

 O CHAPLIN: Nos últimos dias, saiu um texto seu falando sobre a dificuldade de encontrar lugar pra morar no Rio e redondezas. E também declarando que agora ia ser nômade. O que você tá levando na mala?

 Vou visitar meu sobrinho em Londres em junho, e como a libra tá quase 5 reais, vou economizar esses alugueis que não vou pagar, para poder ficar em Londres. Vida contada, mas é isso aí! Vou ficar um tempo no sitio da minha vó, vou visitar meu grande amigo na Bahia, ficar nos meus pais. Juntei uns livros que tô pra ler, maiôs, casacos, nada demais. Tem sido forte, mas tem sido bom.

10427678_804793869558837_9017625757566678503_nO CHAPLIN: Sua relação com seus pais é super bonita. Com que idade você saiu de casa?

Menina, saí tarde. Talvez pela casa astral que morei. Saí com 29. Risos. Mas é tudo tão caro hoje em dia, que nem acho o fim do mundo alguém de 30 e poucos morar com os pais não. Tá certo. As pessoas tão alucinadas pedindo um valor de outro planeta.

O CHAPLIN: Quais coisinhas de beleza e cuidado pessoal que te fazem se sentir bem?

Pode parecer loucura, mas eu preciso de sol, de mar. Sei que estraga a pele, o cabelo, mas é o que me faz sentir bonita. Quando passo um tempo sem pegar um sol ou mergulhar, me sinto feia. Mesmo. De resto, não tenho nenhuma mania, só hidratante mesmo.

 O CHAPLIN: Você é artista/artista/artista/. Como é ser atriz, escritora, cantora…?

Na minha cabeça é uma coisa só, e eu não ordeno nada, apenas canalizo. Vejo uma cena, me toco por ela, e tanto pode sair poesia, como uma melodia. Não tenho controle algum, e quando tentei engavetar as coisas, não deu certo. Então prefiro e continuo assim, mais caótica mesmo, mas respeitando os instintos artísticos.

Foto Caroline Gomes
Foto Caroline Gomes

O CHAPLIN: Falando de quando você era mais novinha, queria que você contasse uma história de “primeira-vez-tal-coisa’’. 

Minha primeira música eu fiz com 6 ou 7 anos. Minha mãe me deu o livro dos contos do Hans Christina Andersen (que é o autor do Patinho Feio). Tive uma sensação louca, e quando acabei de ler, na mesma hora inventei uma frasesinha e comecei a cantar “O rouxinol…que tal um belo caminho em frente ao sol?” Era um conto chamado “O rouxinol”. Depois minha primeira música no violão, chamava ‘Love sucks”, eu tinha aprendido alguns acordes, e vi uma tatuagem do anjo do Cupido morto pela própria flecha, com esses dizeres. Era uma musiquinha bem ruim, mas para os 22 anos, tava maneiro.

O CHAPLIN: E sua relação com astrologia: como começou?

Minha mãe sempre gostou, com 11 anos ela me deu um livro chamado “Influência da lua no seu dia-a-dia”, com a dedicatória: “Minha filha, que a lua seja sua amiga”, algo assim. E eu acatei. E tenho sido amiga dela.

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Regina Azevedo
Poeta, estudante de Multimídia, formada no curso FIC de Roteiro e Narrativa Cinematográfica pelo IFRN, apaixonada por História da Arte e fotografia.
Regina Azevedo

Regina Azevedo

Poeta, estudante de Multimídia, formada no curso FIC de Roteiro e Narrativa Cinematográfica pelo IFRN, apaixonada por História da Arte e fotografia.

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