O belíssimo caos de Liliana Porter

Nascida na Argentina em 1941 e residente em Nova Iorque desde 1964, Liliana Porter é uma artista que trabalha com as mais diversas técnicas. Fotografia, instalação, vídeo e gravura são apenas algumas delas.

Nunca tinha ouvido falar nela até dezembro do ano passado. Sua exposição “El hombre con el hacha y otras situaciones breves” (“O homem com o machado e outras situações breves”), mais do que uma surpresa, foi um arrebatamento. A terceira e ampla sala do Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) era toda da artista, que a transformou num lindíssimo caos, bem construído e de uma desordem extremamente bem organizada.

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Trata-se da primeira exposição individual da artista no museu, que permanecerá lá até o dia 16 de março. Nela, o maior destaque é a instalação site-specific: daquelas concebidas especialmente para a exibição num determinado espaço, para que a obra funcione bem nele e para que seus vazios e possibilidades sejam aproveitados da melhor maneira na composição da obra. Essa instalação toma o meio da sala, numa espécie de grande balcão de madeira branca em formato de “L”. Nas paredes ao redor, completa a mostra uma série de obras/situações breves sobre papel.

Incrível. Tratemos então  da instalação, foco desse texto: ela consiste basicamente num amontoado muito bem organizado (!) de pedaços de cerâmica, utensílios dos mais diversos, dadinhos, relógios antigos, bonequinhos minúsculos, cartas de baralho, pó dourado… e, mesmo, um piano tombado. Enorme e destroçado. Tudo isso reunido, como poeticamente disse a artista numa entrevista ao programa Ciudad Aberta, “para juntar o terrível com a possibilidade de beleza”.

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Conseguiu. Perto daquela “bagunça” a gente se pega num constante desviar de atenção para aquelas tantas cenas que a artista com cuidado construiu, passeando ao seu redor, esticando o pescoço, ficando de cócoras e na ponta dos pés para ver tudo. A cada mudança, nos deparamos com uma cena diferente, com um instante congelado.

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A instalação funciona como uma grande história contada de uma só vez, nos mostrando a simultaneidade de momentos sucessivos. Mesmo porque, apesar de podermos seguir o título da obra – direcionando nosso olhar a partir do homem de cinco centímetros com o martelo nas mãos até o piano com as cadeiras reviradas ao seu redor -, nossa leitura também pode começar e terminar em qualquer ponto, permitindo a nós, espectadores, uma infinidade de significados e narrativas.

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Há ali uma reflexão sobre o tempo e, ainda, sobre a separação entre o real e o ficcional. Também sobre as tarefas cotidianas e superação, já que as minúsculas personagens estão realizando tarefas banais, porém grandiosas em proporção. Definitivamente, uma deliciosa porta de entrada para o trabalho da Liliana Porter!

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Ficou interessado(a)? Acesse o site oficial da artista para conhecer melhor seu trabalho.

Para assistir ao vídeo da montagem da instalação no Malba, clique aqui.

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Raquel Assunção
Tentando transver o mundo, como Manoel de Barros bem disse ser preciso.
Raquel Assunção

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