Quando o longa não precisa se esforçar muito para agradar, obviamente ele consegue prender o espectador logo nos primeiros minutos de trama. É com este mérito que Lion – Uma Jornada Para Casa se sustenta e conquista o seu lugar entre os indicados de Melhor Filme no Oscar desse ano.
Baseado na obra homônima Uma Jornada Para Casa, de Saroo Brierly, o filme narra a história real do autor que, ainda quando criança, se perde de seu irmão na estação de trem. Durante seu percurso de dias, ele acaba parando em Calcutá e lá enfrenta diversas barreiras, como a língua e a extrema pobreza do local. E assim vamos conhecendo Saroo durante os anos de sua vida. Já quando jovem e adotado por uma família australiana, ele decide se reconectar com o seu passado e procura por sua família biológica.
Lion é o tipo de filme que está no Oscar não para levar todos os prêmios, mas para chamar atenção. O filme trata-se claramente de um alegoria que nos faz refletir sobre a condição humana atualmente, o que nos leva a entrar em questões bem atuais como a entrada dos refugiados na Europa e também aqui no Brasil. A esquematização narrativa da trama e a realidade em que vivemos atualmente são paralelos quase perfeitos.
Embora o filme não seja um primor em técnica, já que mantém tênue a linha do bom que poderia ser melhor, não é esse o aspecto no qual Lion aposta para ser um filme incrível, mas sim as várias camadas sociais que ele integra e a tridimensionalidade dos personagens.

Os personagens são interpretados por atores de extrema competência. O conhecido Dev Patel (Quem Quer Ser Um Milionário) interpreta o Saroo já jovem. Quando criança, a tarefa é assumida pelo estreante Sunny Pawar, que teve a sorte de já iniciar a carreira em uma obra de peso. Ambos trazem um lado diferente para o mesmo personagem. Durante a infância, Saroo tinha a inocência e a vontade de querer voltar pra casa. Uma vez adotado, conhecemos o jovem Saroo, já fluente em inglês e bem resolvido, mas quando vai de encontro ao seu passado por pequenas lembranças que surgem em sua vida, acaba se reconectando e a busca incessante de quando criança o toma de assalto novamente.
Dos poucos pontos negativos que o filme possui, preciso pontuar um que realmente chamou atenção: não há narrativa durante a transição dos personagens. O filme simplesmente tira o espectador de uma época e o coloca imediatamente em outra de uma forma tão brusca que inconsequentemente deixa aquele buraco enorme durante os anos, e outros acontecimentos com o irmão adotivo de Saroo, Mantosh, ficam inexplicados.
Em suma, Lion – Uma Jornada Para Casa aposta no básico, todavia com personagens e roteiro bem profundos que lhe conferem o diferencial. A história de Saroo se apresenta de forma emocionante e inspiradora e seguramente deve nortear discussões profundas sobre as questões humanas atuais.