O trabalho de Willeke Duijvekam, de 47 anos, é conhecido por retratar o cotidiano através de fotodocumentários. Formada na Academia de Fotografia de Amsterdã, a fotógrafa holandesa também faz trabalhos como freelancer. Em 2013, por conta própria, lançou o livro “Mandy & Eva”, que narra a história de duas holandesas com idade parecidas e o cotidiano delas durante três anos.
Ela vende o livro em seu site, com entrega para o Brasil. “Mandy & Eva” demorou entre quatro e cinco meses para chegar na minha casa, em decorrência de um problema com os Correios. A obra ficou presa na cidade de Curitiba (quem compra coisas da internet a partir de sites internacionais sabe como é tenso quando o produto fica na capital paranaense). Mas por fim, ele chegou.
Através de um trabalho de diagramação super bem-feito e criativo, Duijvekam dividiu a história das meninas em páginas quádruplas. A intenção era fazer com que as biografias das garotas fossem feitas em dois livros sendo que fundidos em um mesmo produto.
O livro é escrito em holandês e inglês. Um belíssimo fotodocumentário, que mostra a transformação das adolescentes em duas mulheres belíssimas.
São meninas diferentes, com gostos e personalidades diferentes, porém algo em comum: elas são transmulheres, isto é, mulheres que nasceram em um corpo masculino. Ao longo da juventude descobriram que pensavam e agiam como mulheres, não se identificando como pessoas do gênero masculino.
Mandy tinha 11 anos quando começou a ser fotografada por Willeke e desde a pré-adolescência já se vestia como uma garota. Já Eva era um pouco mais velha, 13 anos, mas estava naquela fase de descoberta do seu corpo e de como se vestir. Entretanto, a gente não percebe estas observações logo, o livro começa nos contando aos poucos.
A história é narrada de trás para frente. Da vida adulta até o início. Neste sentido, o livro lembra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, que começa no final para depois narrar a biografia, só que no caso da obra de Willeke Duijvekam por meio de fotografias.
É um trabalho sobre descobrimentos. Mesmo uma pessoa cis (pessoa que concorda com a identidade de gênero que nasceu), se identifica com as garotas trans do livro, principalmente naquele período de adolescência, no qual nem tudo se “encaixa”.
Outros pontos em comum, independente de identidade de gênero, são os conflitos e a complicada relações com os pais ou mesmo a ideia e a feitura das primeiras tatuagens; o fim das brincadeiras, dentre outras coisas. Queremos entender a origem da mudança. Por isso, a leitura da obra é inteligente, sagaz e curiosa. Logo abaixo confira o vídeo da fotógrafa mostrando um pouco o livro. Confira:
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.