Manoel de Barros morre aos 97 anos

O poeta Manoel de Barros faleceu nesta quinta-feira (13), aos 97 anos, em Cuiabá, cidade onde morava há mais de 50 anos, desde que retornou do Rio de Janeiro. A causa da morte não foi divulgada pelos familiares.  Nascido na capital matogrossense, Manoel Wenceslau Leite de Barros passou parte da sua infância na cidade de Corumbá (MS).

Começou a estudar no colégio interno e, mais tarde, viajou para o Rio de Janeiro a fim de completar os estudos, onde formou-se bacharel em direito em 1941. Ainda estudando no internato, começou a ter contato com os sermões do Padre Antônio Vieira e teve os primeiros contatos com a poesia e a escrita.

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As suas poesias sempre estão ligadas a elementos ligados com a natureza, principalmente ao Pantanal,  onde ele foi criado.  Outras características marcantes de Manoel de Barros são o uso de vocabulário coloquial-rural e de uma sintaxe que remete diretamente à oralidade. Além disso, destaca-se o neologismo.

Seu primeiro livro publicado foi “Poemas concebidos sem pecado” (1937), feito artesanalmente aos 19 anos e com ajuda de amigos. Só tinha uma tiragem de 20 exemplares.  Fez curso de cinema e pintura no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado, porém sem largar a poesia, que foi sua grande paixão.

Apesar de ter escrito muitos livros durante toda a sua vida e de ter ganho vários prêmios literários desde 1960, durante muito tempo sua obra ficou desconhecida do grande público. Graças ao Millôr Fernandes e Antônio Houaiss, que lhe citavam nas suas colunas em jornais, o reconhecimento das suas obras cresceram bastante.

No dia 19 de dezembro,  Manoel de Barros completaria 98 anos e era considerado um dos maiores poetas brasileiros vivos da atualidade. Teve publicações em Portugal, França e Espanha.

Obra

Poeta tem obras lançadas em Portugal, Espanha e França, além do Brasil
Poeta tem obras lançadas em Portugal, Espanha e França, além do Brasil

O primeiro livro de poesia publicado por Manoel de Barros se chama “Poemas concebidos sem pecado” (1937). Antes, porém, havia lançado o “Nossa Senhora de Minha Escuridão”, que não era de poesia, porém não há provas da existência desse livro. Reza a lenda que quando ele era comunista foi preso no Rio de Janeiro e o policial tomou-lhe os escritos.

“Poemas concebidos sem pecado” (1937) conta com inspirações do modernismo brasileiro da década de 1920 e do vanguardismo europeu. Em 1942 foi lançado a publicação  “A face imóvel”, na qual os textos voltados sobre o Pantanal começaram a se manifestar.  Sua obra mais conhecida é o “Livro sobre Nada”,  de 1996.

Ele é vencedor de dois prêmios Jabuti por conta de “O Guardador de Águas”, em 1989, e “O Fazedor do Amanhecer”, em 2002.

Apesar da idade, Manoel de Barros nunca pensou em se aposentar e continuou escrevendo. No ano de 2013 publicou com “Portas de Pedro Viana”, seu último trabalho inédito.  Neste ano foi lançado um box com todas as suas obras,  composta de 18 livros, que incluiu um poema inédito.

Seus trabalhos vão deixar uma herança aos amantes da poesia e inspiraram não só outros escritores, mas também recitais e manifestações artísticas, desde documentário até peças teatrais.

Vou terminar este texto com o poema “O apanhador de desperdícios”, que representa a essência do poeta:

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

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Lara Paiva
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.
Lara Paiva

Lara Paiva

Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.

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