Começo o meu texto sobre o espetáculo Maria do Caritó apresentado nesse último final de semana no Teatro Riachuelo, com uma citação que encontrei no livro do ator Yoshi Oida, no qual ele expressa exatamente minhas impressões sobre a peça:
“Hoje eu vejo que a expressão teatral não se resume apenas em dividir um diálogo com outro ator, mas em descobrir as motivações escondidas que estão, antes de mais nada, no próprio diálogo. As palavras do texto são uma manifestação das motivações. Em resumo, as palavras estão em segundo plano.”
Quando inicio meu texto com a citação acima, quero gerar como reflexão que o teatro não é apenas um jogar pra lá, joga pra cá de texto. Teatro não é verborrágico e quando os espetáculos não têm ação em cena, aquele velho truque de montar um monte de piadas chaves e palavrões engraçados apenas para entreter o público com um riso frouxo disfarçando a falta de conteúdo cênico, torna-se constante.

Assim que o espetáculo começou, fiquei tão ansioso em ver uma atriz que permeia como referência o meu imaginário de ator, que não pude conter a emoção de vê-la. Lá estava Lilia Cabral entrando em passos largos, atravessando o palco, pronta para soltar o verbo. Tão frágil, humilde e cheia de energia, começou a apresentar uma mulher (virgem) de 49 anos que vive fazendo promessas para Santo Antônio arranjar um esposo. Sua trajetória até encontrar o par ideal, é repleta de tentativas de simpatias, arte circense, mentiras, segredos e um final até convincente.

É difícil falar sobre algo que nacionalmente boa parte da população adora e qualquer opinião contraria é tachada de absurda. Uma atriz global de grande destaque nas novelas brasileiras apresentando seu espetáculo de teatro aqui em Natal, quem não iria gostar? Lilia Cabral é tão simples que só por isso ela me conquista, admiro muito seus trabalhos, principalmente seus personagens nas novelas de Manoel Carlos, mas convenhamos, como atriz de teatro, Lilia Cabral não me convenceu. Fiquei com a impressão de que Maria do Caritó era só mais uma extensão das suas personagens em seus trabalhos em novelas, sem tirar nem pôr.
O espetáculo tem um cenário bem interessante, algo das festas juninas, obviamente por fazer referência ao santo casamenteiro que tem sua data comemorativa no mês de Junho. Uma coisa que sempre acho legal no teatro é quando os próprios atores montam e desmontam a cenografia em cena. Cada vez que isso acontecia, o elenco cantarolavam canções movimentando todo o espaço, dando ritmo para o próximo ato.

Apesar disso, fiquei com a impressão de que me prendi, de fato, à “Maria do Caritó” apenas quando faltavam uns 15 minutos para acabar. A atmosfera mudou, o texto ganhou energia dos atores. A atriz Dani Barros prende a atenção do público com sua presença em palco. Acredito que foi o que mais chamou minha atenção. Ali sim, encontrava-se uma atriz de teatro. Uma atriz que preenche todo um espaço com sua voz, com seu corpo fazendo os olhares do público se aguçar para cada desenvoltura corporal.

Lilia cantou, dançou e mostrou outras habilidades ao público que se mostrou bastante receptivo com as performances inusitadas da atriz. Ao final da peça, depois de ser aplaudida de pé pelo público, não pôde conter a emoção ao falecimento do amigo, o ator José Wilker. Bastante emocionada, dedicou o espetáculo ao ator.
GALERIA: Andressa Vieira
Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.