O dilema de jovens garotos em nossa sociedade moderna, mas com tabus antiquados, é ter a sexualidade reprimida devido à padrões sexistas, ainda mais em relação aos negros, dos quais se espera um comportamento ainda mais viril e másculo. E é sobre tema que Moonlight: Sob a Luz do Luar trata.
O filme narra a história de Chiron, que, no inicio do filme, é apenas um garoto que sofre nas mãos de sua mãe usuária de drogas e pelo bullying dos valentões de sua escola. Em algum momento da história, ele se depara com Juan (Mahershala Ali) que “adota” o garoto e o protege juntamente com sua namorada, Teresa (Janelle Monáe).
O tempo passa. Chiron chega à adolescência e o ambiente a sua volta fica mais hostil do que nunca. E é nessa etapa da vida que o protagonista percebe a homossexualidade, até então reprimida por si próprio e pelo ambiente em que se encontrava. Já na idade adulta, Chiron torna-se exatamente um traficante de drogas, exatamente o reflexo que teve durante sua infância e adolescência.
Indubitavelmente, o longa mereceu levar o Globo de Ouro de Melhor Filme de drama. A carga emocional é fortíssima, tanto na fase em que é dada ênfase ao ambiente externo do personagem, ou seja, a escola e a família, como na parte em que as questão individuais ganham destaque.
Alguns críticos disseram que esse seria o “Brokeback Mountain negro”. E, pensei, por algumas vezes até que fosse acontecer algo tão “polêmico” como no filme de 2006, mas Moonlight estabelece uma linha que o filme não ousa cruzar nem mesmo quando se faz necessário. Afinal, a obra foi feita pra agraciar a comunidade negra dos Estados Unidos como ela realmente é, mostrando em tela o acolhimento, o companheirismo e, praticamente, o dever de ajudar seus semelhantes. Mesmo com a ausência de cenas mais nuas e cruas, o filme pode ajudar muita gente que está para se assumir e não tem coragem.
Tecnicamente, o filme não tem grandes surpresas. Fotografia e trilha sonora são razoáveis e nada memoráveis. Porém, as atuações de Alex Hibbert (Chiron criança), Ashton Sanders (Chiron adolescente) e Trevante Rhodes (Chiron adulto) são o ponto alto do filme. O roteiro de Barry Jenkins, que igualmente assina a direção, também primoroso, prendendo e instigando o telespectador ao deixar de lado uma abordagem didática. Isso permite ao espectador investigue o desenrolar da história e, ao chegar ao final dela, tudo faz sentido. Não há pontas soltas.
Apesar de levantar questões sócio-culturais bem caras a nossa sociedade, como conceitos sobre sexualidade, é difícil saber se o filme vai levar alguma coisa caso concorra o Oscar com o poderoso La La Land. Mas é bom dar uma atenção especial ao filme que, como o seu roteiro e atuações dos protagonistas, pode surpreender.
Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia