Não é só de Banco Imobiliário que se vivem os jogos de tabuleiros

Os jogos de tabuleiro cresceram quase 40% nas vendas nos últimos quatro anos. Em Natal, duas lojas foram abertas voltadas para o ramo e além disso, existe um evento que reúne os maiores fãs da área. Nós d’O CHAPLIN arriscamos jogar uma partida de um dos jogos e nossa experiência pode ser lida a seguir

Era um dia de sábado quando houve o Trampolim da Aventura. Este acontece, geralmente, uma vez por mês, na sede do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), no bairro de Cidade Alta, ou no Bob’s, de Ponta Negra. O evento reúne fãs de boardgame de várias partes de Natal.

Trampolim da Aventura reúne fãs de jogos de tabuleiro (Fotos: Lara Paiva)
Trampolim da Aventura reúne fãs de jogos de tabuleiro (Fotos: Lara Paiva)

Antes, tenho que explicar o que significa boardgame. Este é o nome em inglês para jogo de tabuleiro, estilo Banco Imobiliário, Xadrez, Gamão, War, Detetive e dentre outros. Entretanto, existe uma gama além desses jogos conhecidos pelo público e é uma ótima opção para aqueles que estão entediados.

Eu era uma daquelas pessoas que estava entediada numa tarde de sábado e de tanto ouvir falar desse evento, resolvi ir. Sempre tive dificuldade em jogar boardgame, principalmente, por causa daquelas regras enormes e confusas. Apesar disso, botei a minha cara à tapa.

Há registros de que os primeiros jogos de tabuleiro surgiram ainda nas primeiras civilizações, há 5.000 anos, no Egito e na Mesopotâmia, hoje o Iraque. Foram muito populares na Grécia e Roma, se espalharam pela Europa e depois para a América.  A popularização somente aconteceu no século XIX.

Apesar dos jogos eletrônicos, muitos gamers ainda resgatam o tempo do analógico e gastam dinheiro com esse tipo de jogos. Além disso, as vendas aumentaram entre 25 e 40% nos últimos quatro anos, de acordo com o jornal inglês The Guardian. Um dos mais conhecidos da atualidade  (mesmo surgido em 1995) é “Descobridores de Catan”, traduzido para mais de 30 línguas e com 18 milhões de cópias em todo o mundo.

Especialistas apontam que a internet ajudou o crescimento nas vendas dos bordgames, através de blog e canais do YouTube, como esse aqui, onde os usuários apresentam e fazem críticas do que jogaram.

O mesmo jornal mostrou o crescimento de empresas e pessoas se profissionalizando para criar novos jogos de tabuleiro. Apesar de muitos associarem a prática à algo infantil, existem jogos destinados aos adultos, com vários temas e gostos.

No Brasil existe a Galápagos Game, que vem importando e exportando diversos jogos. Apesar dos pontos colocados, eu também diria que o aumento de eventos relacionados à cultura pop, com estandes montados respectivamente para estes jogos, também estimulou o interesse de muitos, sem contar os filmes Jumanji e Zathura.

Opções de jogos
Opções de jogos

Saindo da digressão, vamos falar do Trampolim, evento criado aqui em Natal por fãs do gênero, que reúne os gamers de diversos locais da capital potiguar.

Uma coisa que chamou atenção era a quantidade de pessoas que estavam lá, apesar do piso superior do Bob’s de Ponta Negra não ser o maior espaço do mundo, o local estava lotado e, detalhe, estava acontecendo naquele mesmo dia a Virada Cultural de Natal. Não queria fazer uma matéria só de depoimentos, perguntando o que era, pois queria sentir a sensação de jogar, dedicar uma tarde inteira para isso e foi por isso que resolvi ir para lá.

O crescimento pela procura do boardgames é visível no evento (comprovando o que os britânicos falaram), uma vez que o local era um momento propício para comprar aquele joguinho que não existe nas lojas de brinquedos, onde geralmente são encontrados. Em Natal, existem duas lojas que vendem estes tipos de jogos, a Empório Fantástico e a Dunas (uma loja virtual e trabalha apenas nas redes sociais). Ambas foram homenageadas pelos organizadores do evento por serem os maiores divulgadores da cultura dos bordgames na capital potiguar.

As pessoas ficavam o tempo todo procurando uma mesa ou uma cadeira vazia para poder abrir as caixas e começar a jogar. Não, não tinha Banco Imobiliário e muito menos War, comprovando que não é só deles que os tabuleiros sobrevivem. Algumas caixas eram enormes e cheias de objetos e outras eram pequenas e mais simples.

Legendary é um jogo que conta com personagens da Marvel
Legendary é um jogo que conta com personagens da Marvel

Ao entrar, escolhemos uma mesa com outras três pessoas que eu não conhecia. Resolvemos jogar “Legendary”, jogo no qual os personagens principais são os heróis e vilões da Marvel.

“Dizem aí, que esse jogo é rápido e dura uma hora. Então, ele é rapidinho. Querem jogar?”, disse um dos rapazes que estava na mesa, abrindo as caixas e espalhando o tabuleiro na mesa junto com as peças. Eu aceitei, achando que seria muito rápido. Porém, o evento acabou (organização já estava encaixotando os jogos) e eu ainda não tinha derrotado nem o primeiro “chefão” (termo usado nos jogos para se referir ao maior inimigo).

Uma das vantagens do evento era poder experimentar e comprar os jogos de tabuleiro. Quem quisesse fazer o “test drive”, vamos dizer assim, uma pessoa estava lá, explicava as regras nos mínimos detalhes e em caso de dúvidas ou de ficar enrolado no meio do jogo, este estava pronto para salvar a sua vida.

O jogo tinha a missão de usar um grupo de heróis para combater os vilões que estavam invadindo a cidade e todos os jogadores tinham que colaborar entre si. Quando um falhasse, todos seriam prejudicados. Vale lembrar que existem vários tipos de jogos de tabuleiro, pode ser individual, colaborativo, estratégia, aventura, ação, dentre outros gêneros.

Cada um tinha um deck de cartas que eram seus amuletos (ou não) para conseguir derrotar um dos vilões que estavam no meio do tabuleiro e, assim, salvar a população. No início me sentia apreensiva e com medo de “passar vergonha”, pois sempre joguei os tabuleiros mais “pop” e não esses que os outros  estavam jogando.

As frases iniciais na minha cabeça eram: “Onde eu amarrei meu burro? Será que eu vou conseguir? Meu Deus, será que vou passar vergonha? Está bem, vou me esforçar e ver se eu gosto disso”.  A sorte era que o pessoal era bacana, conseguiam me ajudar nos momentos em que estava em dúvida e também era a primeira vez que jogavam “Legendary”, apesar de terem bem mais experiência no ramo.

Era possível testar ou comprar os jogos de tabuleiro
Era possível testar ou comprar os jogos de tabuleiro

Legendary é um jogo divertido, engraçado, porém muito demorado e o excesso de informações fez com que os outros jogadores se perdessem acarretando em muita perda de tempo. “Nossa Senhora, são 18h e eu preciso ir à Virada Cultural para ver Móveis Coloniais de Acaju”, dizia um dos rapazes que demonstrava a agonia a cada cinco minutos.

Assim, não consegui experimentar outros jogos de tabuleiros. “Faz você se sentir imerso no quadrinho?”. Sinceramente, eu não achei, apesar de reconhecer que o peso por ser “Marvel” estimula as pessoas a experimentá-lo. Eu gostei do jogo e compraria para jogar com os amigos. A sensação de brincar com isso é maravilhosa. Adorei o fato de pensar numa estratégia, racionalizar um mundo por trás de objetos e estimular a imaginação mesmo na vida adulta. Agora entendo o porquê de certos psicólogos usarem os tabuleiros nas sessões de terapia.

No final, o grupo fez uma confraternização, com direito a bolo, refrigerante e sorteio de dois jogos. Este sábado de jogatina mostra que Natal tem coisas interessantes nos lugares mais inusitados e fica aqui a minha promessa: ainda farei uma matéria mais aprofundada sobre o assunto e mundo nerd/geek por trás das dunas potiguares.

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Lara Paiva
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.
Lara Paiva

Lara Paiva

Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.

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