“Não existe mulher difícil”: a graça da desgraça alheia

“Ser ou não ser, eis a questão”, foram as primeiras palavras recitadas pelo ator André Bankoff na peça “Não existe mulher difícil”, que deixou uma pouca quantidade de cadeiras vazias no Teatro Riachuelo durante o último sábado (o1). A ideia de iniciar o espetáculo como uma peça dramática e reflexiva pode ser clichê, mas cativou o público presente.

Nos primeiros minutos de encenação, as piadas foram fracas e despertaram poucas risadas de quem assistia. Porém, com o decorrer da peça, esse cenário se alterou. Os risos se tornaram cada vez mais altos, frenéticos e constantes. Talvez, uma razão para esse acontecimento seja a forma como a comédia é montada: um jovem que protagoniza uma peça dramática, mas não consegue concluí-la, pede perdão ao público e começa outra vez.

“Ser ou não ser, eis a questão. (Pausa) Desculpa gente, mas hoje não vai dar, eu não estou num bom dia. Por favor, se direcionem a bilheteria e peguem seus ingressos de volta. Ah, mas só para quem comprou inteira, meia não. Porque inteira… É inteira, né? Sabe o que é? É que eu me divorciei”. Enquanto o público esbravejava um sonoro “ahhhh” de compaixão, dava-se início ao monólogo sobre a vida pós-divórcio de um homem que foi traído.

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O personagem, que não foi apresentado com um nome específico, se separa da esposa, a pedido dela. Tempos depois, ele descobre que estava sendo traído, ao encontrar o amante com a mulher em seu apartamento. Após um período de angústia, ele decide seguir o conselho do amigo Marcão e aproveitar a vida e todas as mulheres bonitas que passam por ele, como “as gauchinhas” e as “natalenses”. E assim, experiência por experiência, ele vai retratando como foi o “lance” com os vários tipos de mulheres: a atirada, a funkeira, a mulher casada, a praticante de yoga, entre outras.

Em um palco que exibia apenas um cenário com cerca de cinco metros quadrados decorados apenas com um tapete e cortinas vermelhas, André sobressaiu na atuação. Inúmeros personagens e, principalmente, a dança de cada um deles, um alter-ego, frases que se repetiam em reconhecimento do personagem principal com outros péssimos maridos e citações, assim como conselhos, que muitos homens ainda irão usar por algum tempo, deixaram claro o talento do ator. É preciso destacar que, em algum casos, foram interpretados três ou mais personagens no mesmo contexto.

“Uma coisa eu percebi. Tem um tipo de homem que nunca decepciona as mulheres: o cafajeste! Esse é o segredo para prender uma mulher. Então, você! Da próxima vez que ela disser que te ama, responda ‘bacana’. Vocês! Quando ela falar ‘amor, eu te amo’, diga ‘é nós!’. Vocês dois! Da próxima vez que ela disser que te ama, sabe o que você vai responder? ‘Tamo junto!’.”

O espetáculo, inspirado no livro de mesmo nome escrito pelo autor André Aguiar Marques, poderia ser classificado como “para maior de 16 anos” graças a piadas e gestos mais pesados. Há vários pontos altos e o dom do improviso do ator não deixou a desejar. Bankoff, que no início se mostrou um pouco contido e preso, não demorou muito a se soltar e ficar à vontade para interagir com a plateia. Um desses momentos-chaves foi a apresentação do “amigo corno”: um homem presente no público que, segundo o ator, balançava demais a cabeça em concordância após cada frase dita pelo personagem. Os dois criaram uma relação e, a pedido de André, cada vez que ele gritava “AMIGO CORNO?”, o homem presente respondia “HO!”.

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Outro ponto forte, que aproxima a plateia, é o reconhecimento da cidade. Aquele no qual o personagem inclui características próprias da província no contexto ou falas da peça. Logo, as piadas envolvendo a boate “Peppers Hall” e a churrascaria “Sal e Brasa” somaram pontos para o ator que já conquistava o riso do público a cada dois minutos.

A beleza de Bankoff também não passou despercebida. Durante todo o espetáculo foi possível ouvir cantadas de todos os lados, as quais ele prontamente e profissionalmente soube como agir: sem aceitar nem recusar, mas incluindo no texto.

Depois de chorar de rir durante uma hora e meia de apresentação, você realmente nem percebe que todo esse tempo passou até olhar o relógio no fim do show. Felizmente, o ator, que já veio em três ocasiões a Natal para espetáculos, deixou claro que ama a cidade e espera voltar muitas outras vezes. Assim, fica a esperança de um retorno para assistir a tudo novamente.

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Tainá Rodrigues
Pseudo-escritora com um pé em artes cênicas, decidiu se mediar entre dois mundos e cursar jornalismo. Apaixonada por literatura, fotografia e Canadá, quer abraçar o mundo com as pernas e mantém em um caderninho uma lista de sonhos, desejos e objetivos ainda a serem alcançados. Para dar cor a vida, escreve em blogs, fotografa espontaneidade e produz audiovisuais.
Tainá Rodrigues

Tainá Rodrigues

Pseudo-escritora com um pé em artes cênicas, decidiu se mediar entre dois mundos e cursar jornalismo. Apaixonada por literatura, fotografia e Canadá, quer abraçar o mundo com as pernas e mantém em um caderninho uma lista de sonhos, desejos e objetivos ainda a serem alcançados. Para dar cor a vida, escreve em blogs, fotografa espontaneidade e produz audiovisuais.

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