Narcos: América Latina pra gringo entender

A plataforma de Streaming mais popular da internet, Netflix, estreou hoje (28) uma de suas mais aguardadas produções originais, “Narcos”. Com direção executiva de José Padilha (“Tropa de Elite” e “Robocop”) e estrelando Wagner Moura, a série conta a história do famoso narcotraficante colombiano, Pablo Escobar. Sob a ótica policial que Padilha tanto gosta, os dez episódios da série já estão disponíveis para streaming. E nós d’O Chaplin já assistimos a série, neste texto você confere nossas impressões sobre a obra.

Não é a primeira vez que a história do traficante mais famosos do mundo é contada. “Pablo Escobar – Senhor do Tráfico” (2012)  série em de 74 episódios (todos disponíveis no Netflix) foi uma produção ambiciosa, a maior da história da Colômbia. Baseada no livro “La Parabola de Pablo”, de Alonso Salazar, teve 1300 atores envolvidos em gravações em 450 locações externas, em lugares como Miami, Bogotá, Medellín e Caribe. Tive oportunidade de assistir a produção antes da série de Padilha o que foi interessante para que eu pudesse comparar as narrativas e visões acerca deste controverso personagem.

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O ator colombiano Andrés Parra em “Pablo Escobar – Senhor do Tráfico”

“Pablo Escobar – Senhor do Tráfico” foi vista em mais de vinte países antes de chegar ao Brasil pelo canal de TV fechada, Globosat. Na Colômbia, foi um sucesso absoluto, o piloto teve audiência de onze milhões de pessoas. O que denota o quão grande é a influência de Escobar ainda hoje. Por diversas vezes proclamado como o “Robin Hood paisa” há quem admire e defenda o traficante, cujo nome está vinculado aos assassinatos de no mínimo dez mil pessoas mas que, ao mesmo tempo, construía casas para a população carente de Medellín e até se ofereceu para pagar a dívida externa da Colômbia em 1984, na época, de 10 milhões de dólares.

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América Latina pra gringo entender

Narrada pelo agente do Departamento de Narcotráfico Norte-Americano (DEA) Steve Murphy, interpretado por Boyd Holbrook (ator coadjuvante em série de TV, fez “Garota Exemplar”, mas confesso que não me lembro deste cara hora nenhuma) apresenta a visão do “gringo” de fora da Colômbia para dentro. Assim como a visão de José Padilha, um brasileiro em território colombiano. Muitas explicações educativas, ligações de fatos “A” ligando fatos “B”, para justificar o resultado. A escolha pelo idioma espanhol é questionável, faz sentido, óbvio, mas também torna a produção uma concorrente da minissérie colombiana supracitada.

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A trama policial é a mesma de série policial convencional, policial caçando bandido. Bandido este no caso, Pablo Escobar. Temos elementos de narrativa muitíssimos parecidos com os utilizados em “Tropa de Elite”, mas o BOPE agora fala inglês. A violência, as favela e a pobreza falam espanhol. O intrincado contexto sociocultural que ligou o Papa ao Capitão Nascimento, também, só que agora em outro contexto, obviamente. Contexto este que ligam os EUA aos países sul-americanos, mais especificamente a Colômbia. Recurso interessante e também educativo para que “os gringos” além da ação policial, também possam entender a motivação das ações.

A narrativa explicativa, mesclada não engrena, fato. Aliás, está não é a primeira série Original Netflix com essa problemática. No cinema funciona, mas se tratando de série, que precisa “nos viciar” e nos fazer querer acompanhar o desenrolar dos episódios, não. A linguagem que mistura documentário e série policial, peca no excesso de explicações, embora eu considere as narrações e particularmente goste de vários momentos das imagens documentais, mas compreendo que seja um entrave para a progressão da narrativa.

Narcos Netflix Série original
Da direita para esquerda: Wagner Moura (Pablo Escobar), Juan Pablo Raba (Gustavo Gaviria), Boyd Holbrook (agente Steve Murphy) e Pedro Pascal (agente Javier Peña)

Elenco

Narcos é uma produção da Gaumont International Television em parceria com a Netflix, o produtor executivo José Padilha contou com um elenco internacional, são atores de diversas nacionalidades: ingleses, estadunidenses, americanos descendentes de latinos, mexicanos (vários, por sinal), colombianos e brasileiros.  Do elenco destaco: o policial Javier Peña, interpretado por Pedro Pascal faz um excelente trabalho. O ator nascido no Chile, também tem nacionalidade norte-americano, talvez os fãs de Game Of Thrones lembrem-se de Oberyn Martell, personagem da série que lhe deu fama internacional. A mexicana Stephanie Sigmande (que está no elenco do novo 007) interpreta a jornalista e amante de Escobar, Valeria Velez. E o colombiano Juan Pablo Raba, que faz Gustavo Gaviria, primo e braço-direito de Pablo.

A escolha de Wagner Moura foi um risco de José Padilha. Veja bem, o ator é brasileiro, não tinha o porte físico (leia-se quilos extra) e principalmente o domínio do idioma para ser Pablo Escobar. Aceitando o convite do amigo diretor, que o fizera se tornar internacionalmente conhecido, Moura abraçou o desafio. Antes mesmo de ser contratado pelo Netflix foi a Medellín estudar espanhol, praticou por cinco meses antes de iniciar as filmagens, ganhou peso e estudou as nuances e os trejeitos do traficante. Por se tratar de uma figura que, de fato, existiu, Moura usou recursos dos vídeos, das fotografias e áudios de Escobar, para sua pesquisa, afim de fazer sua interpretação fidedigna. É de conhecimento público o talento do ator baiano, bem como é de meu agrado sua interpretação na série, no entanto, a falta de domínio da língua foi um dos problemas em sua interpretação, “passável” (caso de André Mattos, outro ator brasileiro no elenco) se ele não fosse o protagonista da série.

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Se a Netflix deu lá “La Plata“, Padilha deu a cadência ao “Plomo“, mas o fato é que se os espectadores buscam conhecer mais sobre a mente engenhosa de Pablo Escobar, suas origens e vida, adianto que está primeira temporada não lhes trará muita profundidade. As escolhas da narrativa  limitaram a trama a perseguição dos agende norte-americanos ao traficante. “Narcos” em termos de produção é uma série louvável, mas como já falei ao longo do texto a problemática de coesão é o maior entrave. Ver a recepção do público ditará o futuro da série, caso similar da questionável “Sense8”, que embora com uma primeira temporada instável, conseguiu uma renovação.

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Leila de Melo
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.
Leila de Melo

Leila de Melo

Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.

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