Nerve parte de tema moderno e atrativo, brincando no campo hiper-real entre a vida online e o “mundo real”. Acompanhamos a história da protagonista Vee (apelido para Venus), uma estudante colegial, tímida e discreta, representando o estereótipo da garota nerd, ela é fotógrafa e curte artes, se opondo perfeitamente a sua melhor amiga Sydney, uma cheerleader expansiva ao melhor estilo carpe diem.
É através dela que Vee conhece um jogo chamado Nerve, que possui uma lógica simples: você escolhe ser um observador ou um jogador, se você é um jogador passa a ser seguido pelos observadores, que além de curtir e te acompanhar propõem a você desafios, que, se cumpridos, além de recompensa em dinheiro te jogam para cima no ranking do jogo, te conduzindo aos estágios finais. Vee entra no jogo após ser provocada pelos seus amigos, em especial Sydney, que a constrange em frente ao seu amor platônico. Em um impulso, Vee escolhe entrar no jogo como player, assumindo riscos em sua vida. Já em seu primeiro desafio (beijar um desconhecido), ela conhece Ian, que passa a ser seu parceiro no jogo.
A tensão aumenta conforme os desafios ficam mais perigosos e aí é onde o filme começa a se perder um pouco. Eu adoro o conceito de um jogo que representa as facilidades e os perigos da convergência entre o ambiente online e o físico, propondo a reflexão sobre o quanto nosso “eu-online” influencia o nosso “eu-real” e vice-versa. Mas Nerve, falha em alguns aspectos práticos. Por exemplo: ter centenas de watchers mascarados andando por uma Nova York pós 11 de setembro sem ser importunados pela polícia, me parece pouco crível. Ok, uma das regras do jogo é não ser um dedo-duro e denunciar o jogo para as autoridades (coisa que Vee tenta fazer a certa altura do game), mas com milhares e milhares de pessoas participando de um jogo que tem acesso livre, ninguém do FBI, CIA, NYPD ou sei lá que outra autoridade poderia entrar e acompanhar onde o jogo se desenrolava e tomar providências?! A coisa fica ainda mais distante da realidade quando ficamos sabendo que Nerve não é um jogo novo e já causou sérios problemas em um passado recente.
O filme é uma boa diversão, mas passa longe de cumprir seu potencial e, a meio caminho do fim, faz um desfile de clichês que nos faz desejar logo o ato final. Quando os créditos finais rolaram descobri que o casal protagonista é composto por Emma Roberts, sobrinha da tia Julia e de Dave Franco, irmão caçula de James. Ficou mais claro pra mim que a real vocação do filme era ser um blockbuster teen do verão americano, lançando ao estrelato os jovens menos conhecidos das famílias Roberts e Franco. Nada contra eles, que fazem um trabalho bem decente. O ponto baixo na atuação fica mesmo por conta de Emily Meade (Sydney) que ultrapassa aos limites do caricato.
Nerve é ágil, divertido e diferente, o que pode distrair boa parte dos espectadores do fato de que o filme não cumpre sua principal promessa e possui um final que, em última instância, contraria sua própria premissa. É mais um que entra pro hall das grandes intenções com pobre execução. Como observador, eu diria que Nerve falhou no seu próprio jogo.