Ninguém Falou que Seria… chato?

Nesse último sábado (1) fui ao Teatro Alberto Maranhão assistir ao espetáculo Ninguém Falou que Seria Fácil do grupo Foguetes Maravilha. Eu não sabia nada sobre o grupo, muito menos dos atores envolvidos na montagem. Fui para apreciar e poder conhecer o trabalho já que tinha sido patrocinado pela Petrobrás e existe um pouco de mérito nisso.  Mas confesso que me arrependi profundamente logo aos primeiros 15 minutos da peça.

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Foto de divulgação de “Ninguém Falou que Seria Fácil” | Créditos: Blog do espetáculo

Antes mesmo de entrar, fui tentando reconhecer as pessoas que esperavam na fila. Alguns amigos e professores meus de Teatro estavam presentes. Assim que entramos, um dos atores já se encontrava no palco ajeitando alguma coisa do cenário ou do figurino. Nessas horas, eu já me calo, procuro o meu lugar e sento, mas tem gente que insiste em fazer barulho, conversar, mexer no celular. Fiquei pensando que as pessoas só se calam quando apagam as luzes ou quando ouvem aquele apito irritante do teatro indicando que a peça vai começar. Pois bem, a peça já se iniciava com o ator em cena recebendo o público, pacientemente aguardando os que ainda chegavam atrasados.

Cadê Marina, Pedro? Essa frase se repetiu por horas na minha cabeça. A peça tem início com a discussão do casal Pedro e Melissa sobre o desaparecimento da filha Marina de três anos. Foi tanto blá, blá, blá, que o morcego residente do TAM não me passou despercebido. Aproveitei e dei uma olhada ao redor para ver a cara dos meus professores que já tinham evaporado dos seus lugares. Morri de inveja.

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Analisando por questões técnicas, a presença cênica dos atores não é tão bem trabalhada. Além disso, a falta de uma acústica boa no Alberto Maranhão dificultou ainda mais o entendimento da dramaturgia. Em vários momentos, não consegui escutar nada do que estava sendo falado pela atriz Stella Rabello. Sobre o cenário, eu fico com a interrogação na minha cabeça: qual a importância daquele pano que ia do teto ao chão dentro da obra? Era só pra enfeitar mesmo? E aquele objeto luminoso indecifrável no pé do palco? Ninguém falou que seria fácil mesmo.

192656_214892781858320_100000127991166_1006491_460084_o copyA peça tem duração de 1 hora e 30 minutos. Algumas cenas até que despertam atenção, mas outras, nem tanto. Fiquei com a sensação de que algo estava sendo reapresentado a todo momento. A dramaturgia tem uma questão interessante, acredito que foi o que mais me chamou atenção. O tempo dos personagens se passava em vários ritmos, a passagem cronológica do espetáculo é interessante. Mas falta algo, e acredito que é ação, assim como o teatro é definido pelos grandes mestres: ação. Não é apenas colocar em cena atores fazendo caras e bocas e falando um pouco de piada sem graça só pra ganhar a simpatia do público que ri com qualquer bobagem. Teatro bom é algo mais, tem que arrebatar, ferir, refletir, emocionar quem vê ou até mesmo fazer rir, mas de forma boa e bem trabalhada.

Os atores são bons na questão do naturalismo, possuem boa dicção e tudo mais. Contudo, existe algo nesse espetáculo que não despertou meu entusiasmo. Assim que recebi o folder, pensei: Nossa, parece ser interessante! Mas não foi aquilo que eu tinha em mente sobre um espetáculo patrocinado pela Petrobrás. Fui com gosto de gás e voltei com o amargo das minhas observações. Sempre quando assisto a um espetáculo e ele consegue me arrebatar, pulo da cadeira e grito o velho “bravo” acompanhado de numerosas palmas. Mas Ninguém Falou que Seria Fácil, foi realmente difícil aceitar a perda de tempo em um trabalho que tinha tudo para ser fantástico.

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Moisés Ferreira
Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.
Moisés Ferreira

Moisés Ferreira

Pisciano. Paraibano, natural de Campina Grande, mas residente em Natal. Graduando em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Apaixonado por dança, livros e doces.

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