Nuestra Señora de las Nubens é aquele lugar aonde os bons hábitos são defendidos na vida pública, mas corrompidos na vida privada. É um lugar aonde o tradicionalismo e o machismo são aclamados e adotados como diretrizes de vida, mas onde parece difícil às pessoas reconhecerem as mazelas de suas próprias casas. É ainda aonde alguns são punidos por falarem a verdade óbvia, e outros são pagos para proclamarem mentiras. Nuestra Señora de las Nubens é o lugar perfeito para alguns, mas uma prisão para aqueles cujas cabeças permeiam altitudes maiores que o céu.
Nuestra Senhora de las Nuvens é uma das obras que compõem a trilogia latino-americana dos Clowns de Shakespeare (também composta por Abrazo e Dois Amores y Um Bicho). Partindo da obra de Arístides Vargas – última parte da Trilogia do Exílio, como denomina o autor exilado e radicado no Equador, fugindo da ditadura argentina – os Clowns de Shakespeare investigam as relações da memória e identidade, somando também as experiências provocadas pelo golpe militar brasileiro de 1964.
O mais interessante sobre “Nuestra Senhora de las Nuvens” é que ela pode ser compreendida de diferentes formas, dependendo do seu repertório prévio. Para aqueles que estiverem familiarizados com a história das ditaduras na América Latina (sobretudo na Argentina e Brasil), é provável que o impacto do espetáculo seja mais concreto. Mas se você pouco sabe sobre esses eventos, Nuestra Senhora de las Nuvens continua sendo uma opção interessante. Trabalhada com lirismo, a peça consegue atingir a subjetividade de cada indivíduo que se permita conectar. Afinal, quem nunca se sentiu preso, sufocado, calado, ou exilado em seu universo particular? Nuestra Senhora de las Nuvens não é sobre um momento específico, mas sobre a história de vozes oprimidas, sem fronteiras geográficas ou temporais.
A sua última oportunidade de conhecer Nuestra Señora de las Nubens (ao menos nesta temporada) é adentrando neste domingo, 29, a estação dos Clowns de Shakespeare (Av. Amintas Barros, 4661), a partir das 19h. O cartão de embarque custa R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Para os moradores do bairro de Nova Descoberta (sob comprovação), o passe pode ser adquirido pelo valor de R$ 10.
O espetáculo tem direção de Fernando Yamamoto, e conta com Dudu Galvão, Joel Monteiro, Paula Queiroz e Renata Kaiser no elenco.
![Andressa Vieira](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2020/01/8cf6d027-a011-4105-9f1a-b9cf37155f0f-125x125.jpg)
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.