O Cavaleiro às Telas Ressurge: uma retrospectiva do Batman no cinema

 

Batman através dos anos
 

Sim, o título desse texto é uma tentativa malsucedida de fazer associação com o título do último filme do Morcegão, “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, mas ignore essa piadoca esdrúxula e foquemos no tema dessa resenha: Batman no cinema. Semana retrasada foi feita uma comparação entre o Superman das HQs e o do aclamado Man Of Steel do diretor Zack Snyder. Até pensei em fazer o mesmo com o Batman dessa vez, mas não há muitas diferenças – digamos – “estruturais” entre o Bruce Wayne das comics e o das telonas, por isso vamos fazer um comparativo entre os seus intérpretes e investigar um pouco das diversas visões e adaptações, que vão desde a cômica série clássica até o pesadelo dos bat-mamilos (que são muito polêmicos).

Existiram diversas outras produções live-action sobre o Cruzado de Capa (como o primeiro da esquerda na imagem acima, que é de uma série de 1943 protagonizada por Lewis Wilson chamada O Morcego), mas vamos focar nas mais conhecidas e lembradas atualmente. Tudo começa nos anos 60, quando foi criada a série homônima com Adam West no papel principal e Burt Ward como seu “Menino Prodígio” (sem qualquer conotação homossexual, apesar de tudo). Sendo feita como uma sátira a figura icônica do milionário combatente do crime, a série durou de 1966 até 1968 e foi parar nas telonas (com a cena na qual o Batman corre na rua por vários minutos com uma bomba em mãos), mas depois disso as produções de cinema dedicadas ao Batman pararam por muito tempo, até que um certo diretor de filmes com temática gótica foi escalado para produzir uma película para devolver o respeito que o personagem precisava.

 

Burt Ward e Adam West, respectivamente o Robin e o Batman da série clássica
 

Alavancado, sobretudo, com o sucesso da graphic novel de Frank Miller chamada O Retorno do Cavaleiro das Trevas – e com a moral e o respeito recuperados ao personagem – Tim Burton lança Batman (1989), com o fora de forma Michael Keaton como protagonista e o excelente Jack Nicholson como o Coringa. Utilizando uma abordagem simples, focada no modo como o personagem agia e não como conseguira aquelas habilidades, o filme foi um sucesso estrondoso, o que levou, anos depois, a Warner Bros a produzir seu sucessor e em 1992 foi lançado Batman: O Retorno. Este foi também o retorno de Keaton como o dono das Empresas Wayne e trouxe Danny DeVito como o estranhíssimo Pinguim e a bela Michelle Pfeiffer como a sensual Mulher Gato. Apesar de o último filme ter sido muito bem recebido, Burton não queria produzir esse e só mudou de ideia porque gostou do roteiro final feito por Daniel Waters, com as mudanças feitas por Wesley Strick (que retirou Robin e melhorou o clímax). Mesmo sendo mais sombrio do que o primeiro (marca registrada de Burton), o filme também foi muito bem recebido e se tornou um sucesso financeiro e crítico.

Após a “Era Burton” veio a “Era Schumacher” e os problemas com o Batman recomeçaram, não imediatamente, mas gradativamente. Com a saída de Burton, a Warner chamou Joel Schumacher para substitui-lo e continuar sua empreitada lucrativa em cima do universo cinematográfico do Homem-Morcego. Em 1995 foi lançado Batman Eternamente, com Val Kilmer substituindo Michael Keaton no papel principal enfrentando o Duas-Caras do grande Tommy Lee Jones e o Charada do engraçadíssimo Jim Carrey. Para ajudá-lo a enfrentar dois grandes inimigos, foi introduzindo o Robin de Chris O’Donnell (no bom sentido). Diferente de seus anteriores, este filme tem um tom mais família (pois o último ficou macabro demais, o que deu a ele duras críticas) e foi neste momento que surgiram os problemas que culminariam no fim dos filmes do Batman nos anos 90.

Num contexto geral, apesar de todas as pequenas mudanças feitas no roteiro se comparado às HQs (como a morte da família de Dick Grayson pelas mãos do Duas-Caras e a bizarra origem do Charada), o filme também foi muito bem aceito, o que levou a Warner a dar carta branca a Schumacher para que fizesse as mudanças que bem entendesse no próximo filme. Santa decisão errada, Batman! Em 1997 aconteceu o assassinato da franquia Batman com o lançamento de Batman e Robin (uma clara paródia da série homônima) e todas as suas toscas ideias, como os já falados bat-mamilos, o bat-cartão de crédito, a substituição de Val Kilmer pelo George Clooney – e seu sorrisinho cínico de ator de novela mexicana -, o Mr Freeze de Schwarzenegger de PANTUFAS CANTANDO COM SEUS COMPARSAS, dentre outras bizarras cenas. Mesmo com a linda Alicia Silverstone fazendo a sexy BatGirl, a Uma Thurman (dessa vez bonita) no papel da sedutora Hera Venenosa e tendo feito parte da infância de muita gente (incluindo a minha), o filme acabou recolocando o Morcegão na geladeira da Warner por quase 10 anos, até que um visionário diretor foi convocado para mais uma vez tentar ressuscitar o sentinela de Gotham.

Batmans das Eras “Burton/Schumacher” e seus parceiros

 

 

Em 2005 foi lançado Batman Begins, dirigido e co-escrito por Christopher Nolan, baseado em duas das principais HQs do Homem-Morcego, Batman: Ano Um e Batman: O Longo Dia das Bruxas. Foi o reinício de toda a franquia do bilionário, playboy e filantropo (tenho que parar com essas piadinhas) e com ela veio o respeito que o personagem jamais havia alcançado nas telonas. Trazendo uma visão mais realista do Batman feito pelo criticado Christian Bale (sim, ele, assim como Affleck, foi duramente atacado) e de diversos outros personagens – como Michael Caine como Alfred Pennyworth (imortalizado por Michael Gough nos quatro filmes anteriores), o eterno Deus Morgan Freeman como o respeitável Lucius Fox, o “Sempre Mestre de Alguém” Liam Neeson como Ra’s Al Ghul disfarçado de Henri Ducard, o intérprete de Sirius Black, Gary Oldman como o Sargento James Gordon (futuro Comissário) e Cillian Murphy (que disputou junto com Bale o papel de Bruce Wayne) no papel do assustador Espantalho – o filme conseguiu ser extremamente superior em relação aos anteriores e com isso originou uma trilogia.

Depois dele veio o melhor de todos, O Cavaleiro das Trevas (2008) com o melhor Coringa de todos os tempos, Heath Ledger (que infelizmente faleceu antes do lançamento e recebeu um Oscar póstumo). O personagem foi citado no final do Begins como uma brincadeira e foi introduzido nesse filme a pedidos dos fãs. Como uma das ferramentas do caos dele, Aaron Eckhart fez o bipolar Duas-Caras e neste filme retornou também quase todo o elenco do filme anterior. Para “fechar com chave de ouro” veio O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), entre aspas porque de fato não conseguiu fazer isso. Nolan não queria fazer um terceiro filme, mas mudou de ideia após produzir um roteiro de final satisfatório junto com seu irmão Jonathan Nolan e David Goyer. Foi inspirado em Batman: Knightfall (que conta a origem de Bane), no já citado The Dark Knight Returns de Frank Miller (mostrando um Batman velho voltando a combater o crime após 10 anos ausente) e em Terra de Ninguém no qual Gotham é atingida por um terremoto. Introduziu a pouco sensual Anne Hathaway no papel de Selyna Kyle, a Mulher Gato, e Tom Hardy no papel do incompreensível Bane (com sua fala abafada pela máscara duelando no nível dos grunhidos de Bale), além do retorno da Liga das Sombras (que treinou Bruce Wayne no primeiro filme) na figura de Talia Al Ghul, filha do falecido Ra’s Al Ghul, feita por Marion Cotillard no disfarce da rica e linda Miranda Tate e com o forçado Robin de Joseph Gordon-Levitt. O filme teve o desfecho perfeito na cabeça do Nolan e com isso a trilogia do Batman encerrou-se, pois para ele a história teve começo, meio e fim.

 

Batman de Nolan com seus antagonistas e aliados

Nolan não produzirá mais filmes do Batman e por isso Christian Bale decidiu não retornar mais ao papel de Bruce Wayne, abrindo a vaga que foi disputada por diversos atores, dentre eles Josh Brolin e Ben Affleck, ficando o cargo com este último. Sabemos que o histórico do Affleck está intimamente ligado a atuações com poucas expressões faciais e movimentos pouco característicos, mas talvez após esse tempo todo e se ele se dedicar, quem sabe não teremos um excelente Bruce Wayne enfrentando Clark Kent em Batman Vs Superman (2015) e com isso o legado do Homem-Morcego não possa continuar em boas mãos com o ex-Demolidor? Pense pelo lado bom, pelo menos não é o George Clooney.

 

Imagem bem-humorada de apoio a Ben Affleck

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JB Santos
Humorista, roteirista, desenhista, diarista e usuário do Windows Vista (mentira). Amante de HQs, games, filmes, séries, música, ficção científica e refrigerante de laranja. Estudante de Design da UFRN nas horas vagas e gente no restante do tempo… Ou será que não?
JB Santos

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