O folk é um desses gêneros musicais que na sua calma consegue nos arrancar as mais variadas sensações, aquele arrepio subindo a nuca, como um vento gelado. Acompanhe-me nesse pensamento, enquanto escrevo estas palavras e a noite segue, pois é extremamente necessário escrever sobre essa banda numa noite fria, depois ou mesmo debaixo da chuva, acompanhado de uma xícara de café. Não, não é clichê, é o que se sente ao som do Bon Iver.
Justin Vernon, fundador da banda e muitas e muitas e muitas vezes confundido com o nome dado a ela, começou este projeto de forma solitária após o fim da sua antiga banda, DeYarmond Edison. Voltando para sua cidade natal, Wisconsin, Vernon procurou no cenário local sua inspiração para mais um novo percurso daquela que viria a ser uma das bandas mais respeitadas atualmente no cenário folk.
Trancando-se na cabana de caça do seu pai, o vocalista passou quatro meses debaixo do gélido inverno do meio-oeste americano, compondo em estado visceral o seu primeiro álbum, intitulado For Emma, Forever Ago, lançado por ele em 2007 e relançado pela Jagiaguwar em 2008. É possível sentir em cada timbre, nota e falsete na voz de Vernon a melancolia que balança e gira a atmosfera do disco. O termo “Bon Iver” vem do francês Bom Hiver, que significa “Bom Inverno”.
Em 2009, a banda até então formada unicamente por Vernon (guitarra e voz), ganha reforços de Sean Carey (bateria, piano e 2° voz), Mike Noyce (guitarra, violino e 3° voz) e Matthew McCaughan (baixo, bateria e 4° voz). Neste mesmo ano, a banda lançou seu EP Blook Bank. O cantor e produtor Kanye West, logo após ouvir a faixa “Woods”, entra em contato com os músicos e sugere uma colaboração, levando para o mundo essa singela banda do interior dos EUA.
Mas é em julho 2011, com o lançamento do segundo disco intitulado Bon Iver, é que a banda ganha o devido reconhecimento da crítica e de seus fãs, chegando ao topo da lista de álbuns digitais mais vendidos do mês. Diferente de For Emma, o disco Bon Iver é o desabafo de toda a solidão resguardada no disco anterior, mas sem perder sua marca, o clima frio e introspectivo que Vernon e banda trazem de si. E por tanto trabalho e emprenho, a banda é recompensada em 2012, sendo premiados com dois Grammys, de Artista Revelação e Melhor Álbum Alternativo. E viva ao alternativo!
Carregando tal clima reflexivo, sobe reclusão do mundo, Bon Iver nos convida a uma viagem interna, numa tênue linha que separa a felicidade da solidão, o amor do esquecimento. A lenda do músico eremita ainda vive, seja exercida por Vernon ou não, mas o fato é que essa entrega à arte produz sempre grandes resultados, dos mais simples aos exagerados, porém causando sempre grandes impactos. E ao som deles termino esse texto, ainda arrepiado, como se um vento gelado em mim investisse.
Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.