O Menino e o Mundo, animação brasileira indicada ao Oscar 2016, é uma mistura perfeita de trilha sonora, arte e conceitos ideológicos quase nunca vistos em animações nacionais. A história narra a trajetória de um menino pelo mundo. Logo após seu pai partir para a cidade em busca de emprego, o garoto arruma suas “malas” e vai em busca de seu pai. Chegando lá, ele acaba descobrindo um universo totalmente diferente do que está acostumado, e é assim que a história começa a se desenrolar.
Com um traço completamente simples, O Menino e o Mundo não é um daqueles filmes cheios de gráficos de última geração e efeitos especiais da Pixar ou da Dreamworks. O filme 2D de princípio acaba impactando os olhos acostumados com personagens bem renderizados em computadores poderosos, mas a complexidade da obra é tão boa quanto. Os traçados infantis dão uma certa delicadeza à animação, claramente como se fosse desenhada e colorida por uma criança contendo um peso narrativo pensado por um adulto.
Os contextos sociais estão com uma presença fortíssima na película, esbanjando e expondo o reflexo do que os seres humanos se tornaram durante os anos. A pobreza, a falta de emprego, o capitalismo opressor e a ganância deram ao mundo um tom cinza, contudo o diretor acaba fazendo disso uma metalinguagem entre o bem e o mal. Outros temas como a poluição e mão de obra escrava também têm presença forte durante todo o filme.
O filme não contém diálogos inteligíveis para os espectadores; grunhidos e sons emitidos pelos personagens servem como um possível diálogo, porém, mesmo com desenhos bastante simples, as expressões dos personagens transmitem com perfeição o que eles sentem. A sonoplastia e a trilha sonora são um show à parte, Ruben Feffer e Gustavo Kurlatt, juntamente com Nana Vasconcelos e Emicida, tornam o filme ainda mais notável.
O Menino e o Mundo é um filme com poucos recursos; por outro lado, é de uma qualidade absurda, claramente é um apto concorrente ao Oscar. Com certeza, vai ser dureza competir com filmes como Divertida Mente que também agradou, mas a torcida pela animação brasileira é grande e a esperança não morre. Quem sabe a animação não seja a responsável por trazer a primeira estatueta às nossas terras?
Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia