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Às vezes a vida não basta e é por isso que a arte existe e persiste. Alguns nascem com o dom da pintura, outros da música, mas alguns, tão raros quanto, nascem com o dom da palavra. De transformar esta em frases, de frases em versos, de versos em poemas. E como flechas, atiradas ao acaso, a poesia sempre encontra uma alma para cativar.

Hoje seria o aniversário de Paulo Leminski, um dos maiores poetas brasileiro. Se estivesse vivo, Paulo estaria completando 70 anos e nós não poderíamos deixar passar em branco esta data tão especial. Sendo assim, fizemos uma seleção de arquivos, poemas, vídeos e músicas (sim, músicas) escritas por ele ou feitas para ele. Bem, chega de enrolar e vamos lá.

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Poesia

Leminski começou a escrever na infância seus primeiro poemas, declarando isso em entrevista a Werner Schumann, diretor de cinema que logo após viria a construir um documentário em sua homenagem. Suas primeiras experiências com as palavras foram registradas e guardadas por sua avó num pequeno caderninho, lá pelos seus oito anos, ainda quando morava em Curitiba, cidade natal. Seu pai, Paulo Leminski II, teve grande influência na sua formação, sendo ele professor, crítico literário, tradutor, escritor e, para variar, também poeta.

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

914797_356950867788496_2010173874_nEstando sempre à beira de uma explosão, o poeta curitibano nunca aceitou  a sociedade em que vivia e sua submissão aos horrores da ditadura. A poesia era para Leminski um porto seguro, um local de desabafo no qual alguém como ele pudesse se sentir bem. Onde se poderia dizer tudo, sobre atos, pessoas e sentimentos.

O poeta curitibano produziu muita coisa na década de 70, mas só veio a publicar grande parte do seu acervo no início dos anos 80. E todo esse sentimento resguardado, todo esse desabafo de um oprimido pelo medo, assim como Kerouac, Ginsberg e outros que nos EUA fundaram uma geração de poetas à margem do capitalismo norte americano, os Beats, Leminski ao lado de outros poetas também daria início a uma geração que viria ser conhecida como Mimeográfica. Uma geração de poetas libertários, formadores de versos fortes de cunho político, social e cultural. Em tempos de tropicalismo, os mimeográficos, assim também chamados, chegaram com uma nova visão da poesia brasileira.

Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

A poesia de Leminski é visceral, realça o sentimentalismo humano ao mesmo tempo em que debocha do estilo tradicional brasileiro. Com o tempo, Leminski viria a admirar e a se utilizar do estilo poético japonês conhecido como haicais. Poemas curtos, dinâmicos, cheio de trocadilhos, mas sem perder sua força de expressão.

esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem.

leminski

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

Música

Já não bastava se aventurar no mundo dos poemas, Leminski também enveredou pelo universo da música. Escreveu letras que viriam a ser cantadas por grandes nomes, tais como Cateano Veloso, Morais Moreira, Ivo Rodrigues, Arnaldo Antures, José Miguel Wisnik, além do seu fiel companheiro nessa jornada, o músico Itamar Assumpção. Junto de Itamar escreveu o poema Dor Elegante, que futuramente consagraria essa parceria.

https://www.youtube.com/watch?v=M-jVdtAUvNs

Também há a rara gravação da música Se Houver Céu, tocada e cantada pelo próprio poeta:

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Em 2007 Arnaldo Antunes gravou a música Luzes, veja:

Extra!

E pra finalizar deixo o documentário Um Coração de Poeta, dirigido por Sonia Garcia, sobre a vida e a obra assinada por Paulo Leminski.

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Gustavo Nogueira
Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.
Gustavo Nogueira

Gustavo Nogueira

Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.

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