Onde os fracos não têm vez: três tipos diferentes

Atualmente, existe um questionamento que, independente de variantes de cunho pessoal, apetecem minha mente cada vez que saio às ruas ou tomo contato com sites de notícias online: de onde saiu tanta violência?


Se adentramos na surface virtual, temos toda uma miríade de elementos que nos entrelaçam em uma rede de violência simbólica; se saímos às ruas, estamos à mercê de facínoras, assassinos e ladrões; esse último fator, é o demasiado grave (e mais urgente de solução), pois põe em risco nossa integridade física, no qual, sem ela, não somos mais que vegetais. Porém, será que essa onda de violência distópica que acomete a sociedade não seria fruto, a priori, dos valores simbólicos que remetem ao ideal de dinheiro, sucesso e poder…?

O filme “Onde os Fracos Não Têm Vez”, dos irmãos Cohen, nos oferece um pertinente objeto de análise, pois na trama, acompanhamos três personagens relativamente distintos e que trafegam por caminhos unívocos, impulsionados pela força da violência.

O enredo se desenrola em torno de Llewelyn Moss (Josh Brolin), que ao acaso, encontra mais de um milhão de dólares em meio a um emaranhado de cadáveres, no que parece ter sido um massacre entre traficantes de heroína no deserto americano. Farejando o seu rastro, está Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico contratado para recuperar o dinheiro achado por Moss. No encalço desse jogo de gato e rato está o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), uma representação pungente de um homem que não encontra mais lar para os valores que defendeu durante boa parte da vida.

Ao longo da película, seguimos Llewelyn em sua fuga; Chigurh em seu rastro de violência; e Ed Tom Bell, o observador quase passivo e cônscio da sua impotência perante um mal que não consegue explicar. O personagem de Moss – em uma típica ingenuidade caipira – está convencido de que  a posse da pequena fortuna lhe assegurará não só a prosperidade material, mas também sua integridade física diante da sutileza psicótica de seu perseguidor. As ações de Moss, podem ser interpretadas como fruto da significação simbólica que o dinheiro tem em nossa sociedade, e que propaga o ideal de que a quantidade de posses que um indivíduo têm, é o principal determinante da quantidade de respeito e cuidado que ele terá. Àqueles que não atingem esse parâmetros, são relegados à margem da sociedade. Muitos permanecem passivos quanto a isso, outros, cientes que foram tirados do jogo, matam, roubam, traficam…

Moss, pode ser enquadrado no conjunto dos indivíduos inertes; a violência perpetrada por certos sujeitos ainda pode ser explicada por fatores sócio-histórico-culturais; mas quanto a fúria psicótica de Chigurh, e de seus pares na vida real…como esse mal pode ser compreendido…? A ambivalência com que os assassinos na sociedade tratam a nossa vida, assemelha-se a insana dualidade da moeda com que Chigurh decide o destino de suas vítimas: de um lado está o desejo homicida do algoz; e do outro, o seu prazer em nos manter amedrontados.

 
 

No mais, nós, os pacatos cidadãos, somos como o envelhecido Xerife Tom Bell: impotentes de compreensão e tão desolados como as imagens desérticas orquestradas no início do longa. Ainda sim, é nos “velhos sem lar”, que encontramos possíveis respostas para explicar o mal que acomete um mundo que os despreza.

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Fernando Lins
Abandonou a escola logo cedo porque não conseguia aprender nada. Cursou História na UFRN, para mais uma vez descobrir que as instituições de ensino são “gulags” que destroem todo e qualquer sentido genuíno de saber. Hoje, exilado em Campina Grande-PB, dedica-se ao anarquismo espiritual.
Fernando Lins

Fernando Lins

Abandonou a escola logo cedo porque não conseguia aprender nada. Cursou História na UFRN, para mais uma vez descobrir que as instituições de ensino são "gulags" que destroem todo e qualquer sentido genuíno de saber. Hoje, exilado em Campina Grande-PB, dedica-se ao anarquismo espiritual.

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