Eu não poderia ter assistido “Oz, mágico e poderoso” em outro momento, que não a sua estreia. Tenho um tombo sério por fantasia, e o enredo do filme “O Mágico de Oz” (1939) sempre me encantou de alguma forma por trazer, disfarçado de um roteiro infantilizado e romântico, questões morais que merecem ser pensadas por crianças, jovens, adultos e velhos. Isso, emparelhado com uma estória bastante carismática. “Oz, Mágico e Poderoso” não tem o intuito de ser um remake, mas de certa forma, faz uma belíssima homenagem à obra dirigida por Victor Fleming, com uma produção que conta com todos os privilégios técnicos que um filme lançado em 2013 pode usufruir.
A mágica estrada de tijolos amarelos rumo a Esmeralda |
Assim como em “O Mágico de Oz”, “Oz, Mágico e Poderoso” nos conquista já pela abertura. Contudo, enquanto o primeiro trás os créditos iniciais acompanhados com a inesquecível canção “Somewhere Over The Rainbow” ao fundo, que funciona como uma espécie de prólogo, o filme protagonizado por James Franco trás uma abertura igualmente encantadora, mas indiscutivelmente mais sofisticada. Inclusive, convém dizer, Hollywood está num momento de grande criatividade para a exibição dos créditos iniciais. Ultimamente, vários filmes têm vindo acompanhados por aberturas dinâmicas e originais, que ajudam, de certa forma, a contar a história que está por vir.
O enredo apresenta-se como um prelúdio da aventura da garota Dorothy e sua visita às terras de Oz. Nesse filme, conhecemos Oscar (James Franco), o homem por trás do lendário “mágico de Oz”. Oscar era um mágico itinerante, mulherengo e picareta do estado do Kansas. Ao fim de uma das suas apresentações, quando se encontra em apuros, Oscar parte, sem rumo, em um balão. Dessa forma, ele é transportado para um mundo desconhecido e mágico, em que precisa lidar com os conflitos de poder de três bruxas. A malvada Evanora (Rachel Weisz) e sua irmã Theodora (Mila Kunis) e a bruxa boa e etérea, Glinda (Michelle Williams). Nesse percurso, Oscar conhece o caminho de tijolos amarelos para Esmeralda, condado da terra de Oz, os seus carismáticos habitantes e seus dois companheiros de viagem: o macaco alado Finley e a delicada Boneca de porcelana.
Mila Kunis e James Franco protagonizam – pessimamente – o filme |
Como não poderia deixar de ser, “Oz, Mágico e Poderoso” traz referências diversas à história de Dorothy (Judy Garland). A primeira delas é o balão mágico, utilizado por Oscar para chegar a Oz, no último filme, e deixar a terra, no primeiro. Também há uma belíssima homenagem, a brincadeira com as cores presente também no primeiro filme. “O Mágico de Oz” foi um dos primeiros filmes a fazer uso da técnica Technicolor e faz isso inserindo a cor de forma a ocupar um lugar essencial na narrativa. O filme tem tons de sépia até o momento em que Dorothy abre a porta e se depara com o lugar mágico. Então, o colorido toma de conta da tela. O mesmo também acontece em “Oz, Mágico e Poderoso”, em que o filme se apresenta em preto e branco até que o balão de Oscar chegue à terra de Oz. Duas das bruxas também aparecem nos dois filmes: Glinda (a bruxa boa) e Theodora (A Bruxa Malvada do Oeste). Já Evanora, irmã de Theodora, temos a impressão que se trata da Bruxa Malvada do Leste, mas nada no filme mais recente deixa isso claro. A icônica estrada de tijolos amarelos também está lá.
Por mencionar a estrada, não posso deixar de apontar a minha visão de “O Mágico de Oz” (em maiores proporções) e “Oz, Mágico e Poderoso” como uma espécie de road movies (filmes de estrada). Ora, em ambos há um caminho a ser percorrido e uma mudança psicológica e de atitude no decorrer dele. Os personagens se transportam de um lugar a outro geograficamente e em suas mentes, que é o que caracteriza, numa explicação simplista, os road movies. Outra referência que encontramos no filme de Sam Raimi são as necessidades do trio que percorre o caminho até a cidade de Esmeralda. No primeiro filme, acompanham Dorothy o Homem de Lata (que queria um coração), o Espantalho (que queria ser capaz de assustar), e o Leão (que anseia por coragem). Já no segundo filme, fazem o mesmo percurso o medroso Finley, a Boneca de Porcelana que sofre por não ter uma família, e Oscar, um mágico desmascarado por não conseguir enganar. As famosas bolhas de Glinda, que a permitem voar, também estão presentes no último filme, evidentemente, de forma mais sofisticada que as do primeiro.
A fotografia sobressai no filme. Dentre as atuações, Michelle Williams, como a bruxa boa, destaca-se |
“Oz, Mágico e Poderoso” tem como carro chefe o show de tecnologia que causa deslumbre ao mais exigente dos espectadores. É impossível não citar o 3D, designado com respeito e maestria, as cores vivas e belas e os efeitos especiais construídos com cuidado e qualidade. Contudo, como mais um aspecto positivo, quero chamar atenção para o roteiro. Há quem diga que se trata de algo repetitivo e previsível. Não discordo, mas também não vejo esses fatores como ofensas. Ora, penso que o enredo seja sim infantilizado (afinal, o livro que deu origem a história de Oz foi feito para crianças) e a forma como o roteiro foi construído auxiliou nisso. Mas já diziam os créditos iniciais do filme de 1939, “Oz” é um lugar “para os jovens de coração”. Não penso que “Mágico e Poderoso” tenha o intuito de ser uma versão adulta do primeiro filme, portanto, corra para os cinemas se você tem a capacidade de divertir-se e encantar-se com roteiros simples e fantásticos, que se utilizam do maniqueísmo para instruir moralmente, mas nem por isso menos belos.
A Boneca de Porcelana acompanha Oscar em sua aventura |
Apesar dos tantos elogios, eu não seria justa se deixasse de citar as atuações, que em quase cem por cento são um problema gritante no filme. Salva-se, e não completamente, a carismática e talentosa Michelle Williams, que ainda consegue fazer uma Glinda melhor que Billie Burke em 1939. Contudo, o protagonista James Franco (que não tem mesmo históricos de boas atuações), Rachel Weisz e Mila Kunis parecem deslocados e desconfortáveis nos papeis. Mila Kunis aparenta um pouco mais de jeito quando sua Theodora é enfeitiçada pela irmã e se torna, de fato, malvada, mas nem nesse momento podemos dizer que sua atuação foi realmente boa. Sorte que os outros elementos do filme não permitiram às péssimas performances dos atores destruírem por completo a produção. Portanto, resta-nos torcer que na continuação (sim, a Disney já confirmou e já contratou o roteirista Mitchell Kapner para o trabalho) o elenco seja melhor preparado ou, com sorte, trocado. Confesso que não sentiria falta de James Franco, mesmo sendo o nome principal do filme.
“Oz, Mágico e Poderoso” é um filme fantástico e encantador. É daquelas produções que devemos assistir deixando um pouco o senso crítico de lado e nos permitindo sermos maravilhados e levados para os mundos surpreendentes que a tecnologia (usada e abusada) nos permite conhecer. No fim das contas, esquece-se a previsibilidade do roteiro e as atuações precárias, e fica a fantasia. Afinal, todos temos o direito de sonhar.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.