Segundo o dicionário popular, o termo “cinematografia” remete aos métodos e processos utilizados para a reprodução fotográfica do movimento, ou, em termos mais básicos, refere-se ao “fazer cinema”. Não se pode falar de Cinematografia sem que retomemos os primórdios das Artes Visuais.
As representações humanas através da arte se dão desde o Paleolítico, na Pré-História, contudo apenas no Classicismo a pintura começa a desvendar o leque de possibilidades técnicas e criativas das quais podia usufruir. Saindo da Idade Clássica, passando pela Idade das Trevas e pela Idade Moderna, na Contemporaneidade a pintura abala-se por uma ameaça iminente às formas realistas que ela retratava: a fotografia.
Com a disseminação da técnica fotográfica, a pintura passa a apoiar-se nos pilares da subjetividade, do abstrato e das sensações individuais. Portanto, ao mesmo tempo em que, para alguns, a fotografia recebe a alcunha de “crise da pintura”, pode ser considerada também o seu elemento libertador, visto que permitiu aos artistas arrancarem as amarras da reprodução do real e apegarem-se à nova possibilidade criativa do subjetivismo.
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A Última Ceia (Leonardo Da Vinci) é uma das pinturas que mais serviu como inspiração para cenas do cinema |
Não se pode negar, contudo, a influência de elementos da pintura para a fotografia e, em sequência, para o cinema. A luz e a cor no cinema, por exemplo, se apoiavam nas técnicas das obras de pintura, tendo sido algumas cenas de filmes completamente inspiradas em quadros do Renascimento – momento de grande libertação técnica e criativa para os artistas, sendo até hoje o período considerado a época áurea das Artes Plásticas.
Algumas películas cinematográficas podem, inclusive, ser encaixadas em determinadas escolas artísticas. Um exemplo são os filmes de Luis Buñuel, tais como “Um Cão Andaluz” (1928) e “A Idade de Ouro” (1930), ambos co-dirigidos pelo pintor espanhol surrealista Salvador Dalí, que imprimiu a marca do movimento do qual participava nas produções.
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Cena de “A Idade de Ouro”, de Luis Buñuel e Salvador Dalí (1930) |
O cinema surge vendido como “o milagre da captação do movimento”. Acreditava-se que, de fato, o trem movimentava-se e as pessoas na tela caminhavam para fora da fábrica em que estravam trabalhando. A realidade é que o cinema, no momento em que surge, nada mais é que do que a síntese da fotografia, a ilusão do movimento através da sua decomposição em quadros. O cinematógrafo vem ao mundo como a máquina de fazer sonhos e, talvez, essa seja uma definição mais adequada, já que o movimento e a ilusão de cinema enquanto vida estavam na cabeça do espectador.
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A Chegada do Trem à Estação (August e Louis Lumière, 1895), considerado o primeiro filme exibido |
A primeira das mentiras – a ilusão do movimento – já é verdade em tempos de advento do cinema digital: o movimento passa a ser realidade. A segunda das mentiras, contudo – a de que o cinema é vida – continua latente na cabeça do público, que ainda emociona-se, sorri, angustia-se e chora diante dos sonhos a que assistem acordados, em uma tela gigante.
Fonte:
O texto foi produzido para a disciplina de Cinematografia (Decom/UFRN) e algumas informações foram colhidas durante a aula ministrada pelo professor Paulo Schettino, dia 07/02/13.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.