“Well it’s been a long time since I rock and rolled“. Não poderia começar essa nova seção do blog com uma citação melhor do que o primeiro verso do refrão de “Rock and Roll”, música do quarteto inglês Led Zeppelin, abrindo assim o novo espaço que tem como objetivo conversar sobre películas que tratem da ligação entre a música e o cinema.
Da esquerda para direita: Robert Plant, John Paul Jones, Jason Bonham e Jimmy Page |
Nosso abre alas é “Celebration Day”, filme de 2012, registro da apresentação da banda de rock inglesa Led Zeppelin em homenagem ao falecimento de Ahmet Ertegun, dono da Atlantic Record, gravadora do grupo. O evento ficou conhecido como Ahmet Ertegun Tribute Concert, show que reuniu novamente Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e, nas baquetas, o primogênito de John Bonham, Jason. A reunião da banda foi o um dos eventos, se não o evento, mais disputado de 2007, ano de sua gravação. Em única apresentação na Arena O2 em Londres, o Led tocou dezesseis músicas com a vitalidade dos seus áureos tempos. A renda da apresentação foi destinada a uma instituição que concede bolsas educacionais.
O filme foi dirigido por Dick Carruthers, experiente no que diz respeito a filmar grandes bandas, grandes shows e momentos históricos. Para situar o leitor, vamos a uma breve listinha de seus feitos: “PNYC: Portishead – Roseland New York” (1998) registro do Portishead em sua gravação do acústico lendário do grupo; “The McCartney Years” (2007) um documentário sobre todos os vídeos e trabalhos na carreira do Sir Paul McCartney e “The Killers: Live From Albert Hall” (2009), só pra citar alguns. Dick teve a sua disposição dezesseis câmeras espalhadas pelo O2 Arena que captaram em alta definição a sonoridade, a atmosfera e a amplitude dos músicos, reafirmando sua reputação de ser uma das melhores bandas ao vivo.
Fachada do Teatro Apollo em Londres, é o rock and roll voltando aos cinemas |
Com um set list em sua maioria de hits como “Dazed and Confused”, “Kashimir” e “Stariway to Heaven”, que agradou a maioria dos fãs que compareceram à quarta reunião da banda após seu fim oficial ter sido decretado, em 1980, em virtude da morte do seu baterista John Bonham. O Led mostrou que soa tão alto e tão bem como na década de setenta, enchendo os olhos dos antigos admiradores e atraindo o olhar da nova geração para seu legado.
Os músicos ensaiaram durante seis semanas antes da apresentação, livres das drogas e arrogância do passado, Robert Plant (vocalista), Jimmy Page (guitarrista), John Paul Jones (baixista e pianista) e Jason Bonham (baterista e backing vocal) mostraram logo a que vieram na primeira música “Good Times Bad Times” do seu primeiro disco homônimo com os riffs intrincados e pesados de Page. A novidade ficou por conta de “For Your Life”, extraída do álbum “Pressence”, nunca antes tocada ao vivo. O momento de maior clímax do show é a sequência de cinco músicas: o som rock progressivo de “No Quarter”; os blues-rock de “Since I’ve Been Loving You” e “Dazedand Confused”; a balada emblemática, “Stairway To Heaven” e o animado country-rock de “The Song Remains the Same”.
Grisalhos, os coroas continuam fazendo som da melhor qualidade |
Para encerrar com chave de ouro, o bis trouxe três das mais agitadas e famosas músicas do grupo: “Kashimir”, “Whola Lotta Love” e “Rock and Roll”. Ver os coroas fazendo som de novo é de alegrar o coração de qualquer fã, incluindo o meu. A voz: Plant que, após o fim da banda, encontrou seu caminho na música folk e tem uma carreira solo muito bem sucedida. A guitarra: Jimmy Page é o cérebro por trás do Led, detentor dos direitos autorais da banda, pretende relançar a discografia da banda ainda este ano. O baixo: John Paul-Jones, multi-instrumentista e um arranjador de mão cheia, Jones segue sua elaborada carreira solo, recentemente fez parte do projeto Them Crooked Vultures. A bateria: John Bonham foi um dos maiores bateristas de sua época, morreu em 1980 por overdose, seu filho Jason, baterista desde seus quatro anos de idade, assumiu as baquetas nas quatro reuniões do grupo.
A obra do Led Zeppelin, comparada a outras bandas de rock britânicas, é pequena. Sua carreira de doze anos lhes rendeu nove álbuns de estúdio e quatro álbuns ao vivo, que foram suficientes para escrever seu nome na história da música, sendo uma das poucas bandas a dar espaço a sonoridades que iam de sons mais pesados, passando pelo rock progressivo até a música regional. Quando Jimmy Page decidiu que ia montar a melhor banda de rock do mundo, Keith Moon (baterista lendário do The Who) disse que a banda seria um fiasco e voaria tanto quanto um Zeppelin de chumbo, Page aceitou o desafio, gostou do nome e o resto é história.
Chegada do Led Zeppelin aos EUA, começando assim a turnê que lhes renderia a gravação do seu primeiro filme |
Esse não é o primeiro registro do Led Zeppelin para as telonas. Em 1976, Peter Grant, empresário da banda, na época, acreditava que a qualidade do som da apresentação seria melhor transmitida no cinema do que na televisão, nascia assim “The Song Remains the Same”. As filmagens se deram durante as três noites de shows no Madison Square Garden, Nova York, o grupo vivia seu momento de apogeu, o Led era a maior banda de rock do mundo, no momento, e a grandeza subia a cabeça de seus integrantes que se apresentavam regados a drogas e álcool, muito aquém do seu potencial artístico. No entanto estávamos falando de rock nos anos setenta e isso vendia, não importava se era ou não a melhor faceta do grupo, a Warner Bros tratou de distribuir o filme em todo o mundo e não deu outra, foi um sucesso de bilheteria.
The Song Remains The Same chegou aos cinemas do Brasil em 1977, os cinemas de rua de Natal iam muito bem, obrigada, mamãe que ostentava por aí sua camisa azul marinho estampada com o guitarrista e líder da banda, Jimmy Page, enfrentou uma fila bem cumprida no finado cinema Rex, localizado no bairro das Rocas para assistir ao filme. Naquela época, os ídolos da música investiam no cinema, eram os protagonistas de suas histórias um tanto ingênuas, e toda semana estava em cartaz um filme de um artista, tais como: “Os Reis do Iê-Iê-Iê” dos Beatles; “Elvis Presley no Havaí”; o jovem astro mirim espanhol, Joselito em “Joselito o Pequeno Coronel” até os brasileiros da Jovem Guarda “Roberto Carlos a 300Km Por Hora”.
Platéia eufórica no O2 Arena |
O cinema parece estar novamente na mira de grandes apresentações, como os exemplos de “Arctic Monkeys Live at the Apollo”, filmado em 35mm exibido nos cinemas em 2008; “Shine a Light” (2008) filme dos Rolling Stones, dirigido por Martin Scorsese e o “Celebration Day” (2012) dão indícios de que o rock parece estar voltando às telonas e que há público para assistir as boas e velhas sessões de rock and roll.
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.