A polêmica 5ª temporada de Game of Thrones e a infantilidade de seus fãs

Com um enredo de abordagens polêmicas, personagens com destinos questionáveis e uma camada gigantes de imbecis sedentos por dar spoilers (sim, imbecis!), a quinta temporada de Game of Thrones chega ao seu fim em mais um ano desequilibrado. Com muitos episódios monótonos e uma reta final bem mais ousada, a produção inspirada na obra de George R. R. Martin conseguiu entregar mais que os anos anteriores, mas ainda insiste em adiar muitos acontecimentos.

Dona de um investimento altíssimo, GoT tem os critérios técnicos como ponto mais forte. Efeitos especiais, cenografia, figurino e fotografia são extremamente primorosos e de muito bom gosto. Com filmagens por grande parte da Europa, a atração dispõe de duas equipes que trabalham simultaneamente para que o cronograma seja cumprido. Porém, tenho a sensação de que o texto da série sofre por não ter a mesma praticidade da produção.

Cersei Lannister (Lena Headey) continua sendo uma das personagens mais poderosas em GoT
Cersei Lannister (Lena Headey) continua sendo uma das personagens mais poderosas em GoT

Muitos fãs reclamam de algumas alterações no enredo de Martin. Entretanto, a tentativa de manter o máximo de fidelidade da obra inspiradora faz mal. O excesso de personagens, de tramas paralelas e a ausência de um núcleo central não funcionam tão bem na telinha. Cada um dos livros apresenta mais de 700 páginas, é impossível manter tudo de acordo entre as duas mídias. Por isso, muita coisa é reduzida, alterada e muitas peças acabam envolvidas em outras situações.

Ainda assim, a atração da HBO perde muito tempo tentando ser fiel, o que resulta em muitos episódios monótonos. O tempo de leitura é muito diferente do tempo de tela, a TV precisa de mais dinamismo. No caso desta quinta temporada, apenas três dos dez episódios usuais foram realmente eficientes. Os demais capítulos se limitaram a bons diálogos, falta de ritmo e poucas coisas interessantes, além das habituais cenas de guerra mal dirigidas e confusas.

Na pele do Alto Pardal, Jonathan Pryce compõe o poderoso elenco da atração da HBO
Na pele do Alto Pardal, Jonathan Pryce compõe o poderoso elenco da atração da HBO

O elenco continua, em sua maioria, oferecendo um trabalho eficaz. Peter Dinklage (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido) e Lena Headey (300 – A Ascensão do Império) continuam excelentes como os respectivos Lannisters Tyrion e Cersei. Kit Harington (Pompeia) compensa a falta de talento com um Jon Snow muito carismático. Já Emilia Clarke (do inédito O Exterminador do Futuro – Gênesis) parece sofrer de paralisia facial como Daenerys Targaryen e suas feições de porta.

11719845_726542924121032_823610199_nDe todas as coisas rendendo boas discussões em GoT, os fãs preferem as polêmicas mais tolas e descartáveis. A narrativa é repleta de violência, sexo e reviravoltas inesperadas. Tudo isso está presente desde o primeiro episódio. Mesmo assim, parece ter ofendido os espectadores só agora. Cansei de ver textos na internet reclamando de como as mulheres são maltratadas e como esta é machista. Me desculpem os que pensam assim, mas é sem propósito.

Existe machismo sim, mas porque as personagens são machistas. As referências à Idade Média são gritantes, a mesma Idade Média que tratava suas mulheres com insignificância. É verdade que as cenas de estupro são incômodas, mas são parte da narrativa. Elas estão ali pra retratar uma mentalidade infeliz e ultrapassada de alguns. Se hoje em dias as mulheres ainda são subjugadas, avaliem numa época remota como a retratada em cena.

Esses protestos são tão deslocados quanto acusar A Lista de Schindler (do diretor Steven Spielberg) de xenófobo ou Ninfomaníaca (do diretor Lars von Trier) de depravado. Produções competentes escolhem a linguagem mais adequadas para o tipo de história contada. Não precisamos gostar, mas temos que entender porque certas escolhas são tomadas. Será que o público já esqueceu o quanto Cersei já se impôs, o qual forte e relevante foi Catelyn Stark, o quanto Arya é incrível ou o que Daenerys representa?

Compensando a falta de talento com carisma, Kit Harington faz de Jon Snow uma das personagens mais amados da adaptação em GoT
Compensando a falta de talento com carisma, Kit Harington faz de Jon Snow uma das personagens mais amados da adaptação em GoT

Outro comportamento irritante do público é o de se achar dono da história e se dar o direito de estragar a surpresa dos outros. As pessoas que leem os livros ou que assistem aos episódios no dia de lançamento precisam se tocar que eles não têm o direito de dar spoiler nas redes sociais. O curioso é que tem gente que não gosta que estraguem sua experiência, mas não perde a oportunidade de estragar a dos outros. É preciso respeitar os que não conseguem acompanhar a série no mesmo ritmo. E outra coisa, depois de cinco livros e cinco temporadas vocês ainda não entenderam que o autor não poupa nenhuma personagem? Sério? Não precisa reclamar disso nas redes sociais numa espécia de combo demoníaco BIRRA + SPOILER!

Não sou fã de Game of Thrones. Acho que o número excessivo de subtramas e personagens prejudica o andamento fluido dos roteiros. Além disso, as vezes acho que o senhor George R. R. Martin não tem ciência de onde quer chegar. Seu universo é repleto de dragões, zumbis de gelo, magia e pessoas capazes de controlar as mentes alheias. Porém, essas coisas entram em cena ao bel prazer do autor. Essa ausência de “regras” em seu universo serve como carta branca para Martin criar o que lhe for conveniente, o que parece apelativo. GoT é a melhor novela jamais produzida pela Rede Globo, mesmo assim, tem frutos positivos e deve seguir fazendo sucesso. Espero que episódios mais construtivos venham na já confirmada sexta temporada.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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