O cartaz de “S.O.S. – Mulheres ao Mar” por si só já diz muita coisa sobre o filme: três mulheres, um cara bonitão, um navio e a Itália como pano de fundo. À frente, a atriz Giovanna Antonelli (Adriana). Não fosse esse último detalhe, e Antonelli fosse substituída por outra atriz menos conhecida, o segundo filme dirigido por Cris D’Amato não seria mais que uma modesta comédia nacional, com suas sofríveis duas semanas de exibição nos cinemas brasileiros. Contudo, “S.O.S. – Mulheres ao Mar” já emenda a sua quarta semana em cartaz, feito realizável por poucos filmes nacionais.
Apesar disso, sustento a percepção de que o maior trunfo da produção é mesmo a presença da protagonista – que não só já tem nome consolidado no cenário nacional, como está atualmente na TV, com a personagem Clara de “Em Família”, novela global de Manoel Carlos – e, com toda certeza, das outras duas atrizes que acompanham Giovanna na jornada, Thalita Carauta (Dialinda) e Fabiula Nascimento (Luiza), que conquistam e roubam a cena inúmeras vezes. Além disso, há a presença de Reynaldo Gianecchini, que por alguma razão por mim desconhecida continua sendo idolatrado e arrancando suspiros do público feminino, mesmo nos papeis mais insossos, como é o caso do estilista André, sobre o qual pouco sabemos, além do fato de ser claramente o romance em potencial da mocinha da narrativa.
Adriana (Giovanna Antonelli) é uma escritora frustrada que ganha a vida como tradutora de filmes pornôs. Ao ser rejeitada pelo marido (Marcello Airoldi), ela resolver fazer a linha ex neurótica e segui-lo em um cruzeiro. Como escudeiras nessa missão auto-depreciativa, Adriana tem a irmã, Luiza, e a empregada doméstica Dialinda. No percurso de várias milhas ao mar, a vida de Adriana promete dar uma reviravolta.
Com roteiro assinado por Sylvio Gonçalves, Rodrigo Nogueira e Marcelo Saback, “S.O.S. – Mulheres ao Mar” não tem uma narrativa muito consistente. Os personagens são pouco aprofundados e seus conflitos se mostram tão superficiais quanto o nível de humor do filme – alguns poucos momentos são salvos, geralmente pelo trabalho apurado das três atrizes principais. Vale ressaltar que as melhores cenas de comédias podem ser atribuídas a Thalita e Fabiula, que protagonizam juntas, na minha opinião, o momento mais engraçado do filme.
Um dos maiores problemas do filme, contudo, está na edição. A produção chega a atingir o cruel erro de dessincronizar áudio e imagem, em uma cena de plano aberto. Provavelmente os espectadores mais atenciosos perceberam. De toda forma, “S.O.S. – Mulheres ao Mar” não parece ter sido feito para espectadores atenciosos e sim para quem busca uma leve diversão de fim de dia, com piadas batidas – mas que arrancam gargalhadas ainda assim – e a velha lição de moral, destinada muito mais a “educar” que a “fazer pensar”. Posto tudo isso, não se pode dizer que o filme seja ruim. Mas também não é dos melhores – nem mesmo se utilizamos como critério unicamente as comédias brasileiras dos últimos tempos.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.