Certa vez, em uma conversa coletiva (ou algum dos famosos tópicos do Facebook), um amigo ou amiga (não lembro bem) comentou, indignado, o quanto brasileiros valorizam monstros e personagens característicos da cultura do Halloween norte-americano e mal lembram do nosso “Dia do Folclore”, com Sacis, Iaras e Mulas-Sem-Cabeças. Outro participante da conversa retrucou, comentando que obviamente as crianças e jovens preferentes os mitos gringos, afinal, “bruxas, vampiros, zumbis e lobisomens são muito mais legais”. Por mais que eu tenha síndrome de Policarpo Quaresma e o patriotismo, muitas vezes, atinja níveis pouco racionais, nesse quesito preciso concordar com o segundo colega a se pronunciar na discussão: monstros são muito mais legais.

Descobri isso mais ou menos aos quinze anos, quando dediquei um ano inteiro aos clássicos da literatura romântica gótica mundial, passando por “O Médico e o Monstro”, “Frankenstein” e “O Retrato de Dorian Gray”, mas de todos a minha leitura favorita e mais envolvente foi “Drácula”, do irlandês Bram Stoker, pai do mito dos vampiros no âmbito literário, que acabou sendo propagando por todas as demais esferas artísticas, tais como teatro, cinema, fotografia, quadrinhos, e, mais recentemente, as séries de TV. Nesse último tópico, já fomos bombardeados pela impudica “True Blood”, pela romântica “The Vampire Diaries”, e outras. Nenhuma delas me cativou a nível de enredo, devido a minha fidelidade à proposta de Bram Stoker, por cuja a história e perfis dos personagens sou completamente encantada.

Há alguns semanas, visualizei em uma postagem nesse mesmo site o iminente lançamento de uma nova série, intitulada “Dracula”, da NBC. “Mais um programa deturpando a história original”, pensei, sem colocar muita fé. Contudo, a curiosidade falou mais alto e fui atrás de mais informações sobre o elenco, e o enredo. Para a minha surpresa, aparentemente, a série teria uma nova releitura, mas com muitas referências e construções fiéis a história de Bram Stoker. Alegrei-me ainda mais quando me deparei com o nome a frente do elenco: Jonathan Rhys Meyers (o Henry VIII, de The Tudors) como o personagem principal. A partir daí, a contagem regressiva para o lançamento das série iniciou-se, estava ansiosíssima pelo que estaria por vir. Até que ela chegou, no dia 25 do mês passado. Mas óbvio que, nos sites de download, houve um pequeno atraso e eu só pude, de fato, conhecer a série dia 27, domingo passado.

Dizer que fui surpreendida não seria coerente com a minha sensação. Na verdade, “Dracula” conseguiu o que poucas produções provocam em mim: superação de expectativas. Com várias referências ao filme “Dracula de Bram Stoker”, dirigido por Francis Ford Coppola e protagonizado por Gary Oldman e Winona Ryder, a nova produção televisiva da NBC agrada a antigos e novos fãs. A história se passa no final do século XIX, quando o Conde Drácula é retirado de sua tumba e reanimado e é introduzido à sociedade londrina sob o nome de Alexander Grayson, um importante empresário e incentivador de descobertas científicas. No mesmo contexto, reconhecemos personagens familiares dos contos do vampiros mais famoso da literatura: Mina Murray (Jessica De Gouw), seu noivo Jonathan Harker (Oliver Jackson-Cohen), a amiga espevitada Lucy Westenra (Katie McGrath), o fiel escudeiro do vampiro, Renfield (interpretado pelo corpulento Nonso Anozie) e o caça-vampiros Abraham Van Helsing (Thomas Kretschmann).

Obviamente, a história não é a mesma. Assim como Coppola, em sua releitura, acrescentou elementos inexistentes no livro e cativou o espectador, fazendo assim sua própria (e excelente) versão da história de Drácula, a série também se deu ao luxo de criar novidades, o que é necessário até mesmo para manter a atenção do público, já que a produção ficaria desinteressante para aqueles que já conhecem a história original. Contudo, o clima é digno de Bram Stoker. Temos uma sociedade vitoriana, um cenário e fotografia em que predominam cores escuras e um protagonista tão malvado quanto obcecado. Preciso dizer que Jonathan Rhys Meyers está tão fantástico como Drácula (não consigo pensar, além de Gary Oldman, em ninguém melhor para o papel), que pouco conseguimos notar os demais personagens. Uma decepção, contudo, foi a atriz escolhida para o importantíssimo papel de Mina Murray. Esse é o primeiro papel de relevância da apática atriz Jessica De Gouw, que passa longe de ter o carisma necessário para a protagonista.

Drácula surge como um personagem elegante, charmoso, bonito e, como não podia deixar de ser, sanguinário. Nada é muito bem esclarecido no primeiro episódio, mas o que conseguimos entender é que o conde busca vingança e acaba se deparando com uma obsessão (vampiros não se apaixonam, aprendam) pela doce Mina, que parece ter alguma ligação em vidas anteriores com o protagonista. Isso não o impede, obviamente, de seduzir mulheres em cabines de teatros e atacar inocentes (ou culpados, não importa) para se alimentar. As cenas de ação e ataques, embora ainda contidas, deixam claro que a série não tem o intuito de ser uma história de amor, e prometem um conto de vampiros como tem que ser: com horror, monstros, sangue, pescoços, espadas e estacas.
Pode ser que minha empolgação tenha sido o resultado do meu afeto imediato pela série e que a partir do segundo episódio eu já não goste tanto assim, mas de início, “Dracula” já ocupa o posto de série favorita e mais esperada da grade atual. Quanto às acusações de plágio de “The Vampire Diaries” (mimimi), por se tratar de um romance misturado à história do vampiro, recomendo assistir ao filme já citado “Dracula de Bram Stoker”, de 1992, antes de falar tamanha aresia. Quanto ao sobrenome escolhido para o personagem principal, Grayson, e o fato de que ele busca vingança, realmente, é impossível não associar com a família de patifes de “Revenge”. A escolha poderia ter sido outra, mas, convenhamos, não é nada que torne a série intolerável ou diminua o seu mérito.


Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
A história de Drácula é maravilhosa é um dos clássicos da literatura, no entanto, existem muitas versões para melhor ou para pior a atenção do público têm atraído, cada um com seus prós e contras, o fim do dia é questão de ser tolerante e ficar com a versão que você mais gosta.
Há muitas versões de Drácula, esta série é muito legal, mas eu também gosto é Penny Dreadfull , que também pode encontrar outra versão desta personagem clássico do horror
Adorei seu conteúdo Parabéns, bem completo e dinâmico.
Era exatamente o que eu estava buscando na internet e
todas as minhas dúvidas foram tiradas aqui. Muito sucesso e
gratidão!