Apesar de ter morrido como uma das escritoras de romances policiais mais bem sucedidas do mundo, Agatha Christie tinha uma receita de bolo pronta, responsável por dar à luz a sua mais de uma centena de livros publicados. Para os leitores mais treinados, era comum identificar semelhanças no método da autora e, consequentemente, reconhecer antes do final da obra o responsável pelo crime. Contudo, vez ou outra, “a rainha do crime” ainda consegue nos surpreender e uma das suas marcas, certamente, é a imprevisibilidade. Arrisco-me a dizer que um história de investigação policial, seja ela transcrita nos livros ou em película, só é válida se esta for uma característica presente: o imprevisto. Afinal, de que adianta acompanhar um enredo alucinante de cujo desfecho já se tem conhecimento?
Essa introdução se fez necessária para justificar o insucesso do filme argentino “Sétimo” (Patxi Amezcua, 2014), protagonizado pelo tarimbado Ricardo Darín. Tive a oportunidade de assistir à obra no Festival do Rio, em setembro deste ano, e saí desapontada com uma representação tão fraca do cinema latino-americano, que vem surgindo com tantos filmes marcantes.
A história começa quando um pai apressado, Sebastián (Ricardo Darín), vai buscar seus filhos, Luna (Charo Dolz Doval) e Luca (Abel Dolz Doval), na casa da ex esposa (o casal está recém saído de um divórcio) para levá-los à escola. Mesmo atrasados, o pai cede à insistência dos filhos para que coloquem em prática uma brincadeira comum entre o trio: os filhos descem os sete andares pela escada e o pai pelo elevador, quem chegar primeiro ao térreo ganha a disputa. Sebastián não contava, porém, com o fato de que seus filhos nunca chegariam à portaria do prédio, e a partir daí começa a busca de um pai desesperado que se sente culpado pelo desaparecimento de suas crias.
Apesar de só contar com menos de 1h30 de duração, a impressão que fica é que é tempo demais para um roteiro tão vazio. O filme é sustentado por cenas de Ricardo Darín correndo por todos os lados, burlando regras e desafiando conhecidos, amigos e inimigos para encontrar seus filhos. Contudo, não há uma história realmente convincente por trás do desaparecimento, além da obviedade na descoberta do responsável pelo ato.
Mesmo em meio a uma trama tão fraca, Ricardo Darín destaca-se com uma boa atuação. Belén Rueda, que interpreta a mãe, Delia, apresenta-se em um papel apático e não convence. Depois de Darín, a dupla de crianças são os atores de mais presença em cena, e trazem algum ânimo ao filme.
“Sétimo” é um filme forçado, uma tentativa mal sucedida de uma trama policial pouco elaborada. Apesar disso, as câmeras agitadas e o clima tenso conseguem prender a atenção pelo pouco tempo de película, sempre na espera – frustrada – de que algo interessante aconteça. Uma obra destoante diante da grande quantidade de bons filmes produzidos nos últimos tempos na terra de Kirshner.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.