Nos dez primeiros minutos escuta-se o primeiro sinal. Cinco minutos depois, mais dois sinais, e na hora do espetáculo três longos toques marcam o início da peça teatral. Todos os “passageiros” precisam estar a bordo, vai começar a viagem da imaginação.
O termo tem origem grega théatron e é conceituado como “uma forma de arte em que um ator ou conjunto de atores interpreta uma história ou atividades para o público em um determinado lugar”. Mas teatro é muito mais… é se permitir imaginar. Acredito que seja o teatro a arte em que mais nos permitimos.
Ir até o Teatro Alberto Maranhão na minha opinião já vale a pena independente do que se for assistir, apesar do “assalto” no tal estacionamento de rua que sofremos quando um papel te coage a pagar um determinado valor pelo tal flanelinha, qualquer coisa vale a pena pela suntuosidade do ambiente. Sem falar que particularmente o TAM tem gosto de saudade, foi lá que estreei quando fazia teatro amador, eu amava aqueles palcos, e foi por lá e pelo finado Sandoval Wanderley que ficou a Anna Paula atriz.
A sensação que tive após assistir ao espetáculo “Encruzilhada do mundo: sobre a areia e o vento” foi que com o desenrolar da história a cada cena eu imaginava que aquilo tinha sido escrito pra mim. Um liquidificador de emoções e eu comecei a me reconhecer um pouquinho em cada personagem. Mas como era que aquele autor que havia ganhado o edital do Natal em Cena 2013 sabia tanto da minha vida? Das minhas incertezas e vontades? Voltei com mais perguntas que respostas, e é pra isso que serve a arte, para te dar um “chacalhão” na vida. Quem pôde assistir aos dois modelos de espetáculos – a versão rua e palco italiano – preferiu as ruas, embora o palco também não deixe a desejar.
Como qualquer peça de arte, o espetáculo foi uma experiência única, logo só posso narrar o meu ponto de vista. E por lá, vi detalhes que fazem a diferença como um figurino satisfatório e muito bem empregado, a narrativa bem construída e um cenário simples, mas totalmente convincente. A estória acontece em meados da Segunda Guerra Mundial, mas não se limita aos fatos históricos, permeia os mais diversos assuntos: representação da mulher na sociedade, racismo, descriminação social, prostituição e o abismo social cultural que por muitas vezes insistimos em manter.
Preciso parabenizar a direção pela preocupação da interação com público, resgate da história e a relação do clássico com o moderno que prendem o espectador na cadeira. Assisti no sábado (26) à noite e tive vontade de voltar.
Jornalista por formação, e também, por paixão. Aquele tipo de pessoa que aprecia estar nas ruas e conhecer de perto a realidade. Filha do mundo no qual considera somente o solado dos pés como território nacional. Coragem nunca se viu faltar e parece que este é o melhor tempero para suas histórias. Há dois anos resolveu unir o útil ao agradável e escrever sobre suas andanças pelo mundão afora. Dúvidas, crises, histórias engraçadas e muitas dicas vão rechear essas páginas. Vem que tem!