Spotlight – Segredos Revelados: no jornalismo e no cinema, você só precisa de uma boa história

A grosso modo, podemos dizer que o jornalismo é o processo de apuração, verificação e apresentação de fatos relevantes à sociedade através dos meios de comunicação. Junto do cinema, são pilares socioculturais que, por vezes, se cruzam em filmes de caráter jornalístico ou matérias com linguagem cinematográfica.

Essa parceria, capaz de render grandes obras ficcionais, também mostra competência ao romancear histórias verídicas, como no recente Spotlight – Segredos Revelados. A trama recria a denúncia verídica da equipe que desmascarou casos de pedofilia negligenciados pela arquidiocese de Boston, Massachusetts.

O eclético Tom McCarthy (O Visitante, 2007, e Trocando os Pés, 2014) dirige a fita com precisão e simplicidade. Apostando no elenco, vemos em tela um jogo de câmeras pouco ousado, mas favorável aos atores deixando-os conduzir a película. A sutil fotografia de Masanobu Takayanagi (Tudo Por Justiça, 2013) consegue extrair ironias das locações/cenas, como um parque infantil em frente a uma igreja ou quando uma das vítimas dá seu depoimento e, ao fundo, surge uma imponente catedral de proporções monstruosas.

Spotlight em reunião de pauta
Spotlight em reunião de pauta

A montagem de Tom McArdle, colaborador do diretor em O Visitante, é muito eficiente e mantém seu ritmo atrelado ao andamento da investigação. O início lento, remetendo ao descrédito da matéria, aos poucos é substituído por mais dinamismo e pitadas de tensão, à medida que o tema vai se aprofundando. Além disso, a montagem carrega a mesma ironia da fotografia, como no momento em que um coral infantil cantando numa missa de natal sobrepõe momentos da apuração.

O elenco experiente dá o tom exato de suas personagens, jamais caindo em excessos. Mark Ruffalo (Foxcatcher, 2014), Rachel McAdams (O Homem Mais Procurado, 2014) e Brian d’Arcy James (da série Smash) dão vida aos respectivos, Mike Rezendes, Sacha Pfeiffer e Matt Carroll. Com atuações discretas de McAdams e d’Arcy James, Ruffalo é quem rouba a cena, mostrando sensibilidade e envolvimento com o caso.

Primeira página do Boston Globe com a matéria da Spotlight
Primeira página do Boston Globe com a matéria da Spotlight

Michael Keaton (Birdman, 2014), Liev Schreiber (da série Ray Donovan) e John Slattery (da série Mad Men) dão um bom suporte aos demais e passam credibilidade. O primeiro mais participativo enquanto os outros dois editores tentam arrancar o melhor da história. Destaque para as rápidas e sempre eficiente aparições de Stanley Tucci (Margin Call, 2011) como o advogado Mitchell Garabedian.

A palavra spotlight, nome da equipe, não poderia ser mais oportuna. Afinal, o jornalismo nada mais é que uma luz em importantes temas. No Brasil, essa luz anda ofuscada. Interesses econômicos e políticos limitam nossos profissionais prendendo-os às desnecessárias ou vendidas linhas editoriais. O filme de McCarthy deve ser visto nas faculdades de Comunicação Social para servir de exemplo profissional e de inspiração aos “focas” em formação.

Mark Ruffalo e Michael Rezendes
Mark Ruffalo e Michael Rezendes

Rachel McAdams e Sacha Pfeiffer
Rachel McAdams e Sacha Pfeiffer

Também precisa ser considerado pela população brasileira. Afinal, somos um dos maiores representantes do Catolicismo no mundo. Por ser formado em comunicação social e por ter passado minha adolescência dentro da Igreja, tive um forte envolvimento emocional com a obra, já que eu poderia estar em algum dos lados dessa trama.

Spotlight – Segredos Revelados é um grande filme que se atém a sua história e não apela ao sensacionalismo, mas que não alivia em relatos. Um verdadeiro exemplar do jornalismo literário e do autêntico cinema!

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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