Criança entre os anos 90 e 2000, tive o privilégio de conhecer desenhos sensacionais que marcaram época. Desenhos repletos de personagens com características únicas e personalidades marcantes, mas somente aos 24 anos tive o prazer de conhecer animações que abordam com linguagem infantil e despretensiosa temas importantes para formação de mentes mais inclusivas. Assim, depois de várias recomendações e de algumas tentativas frustadas de maratona, terminei a primeira temporada de Steven Universe, um desenho animado do canal americano Cartoon Network. E olha, que surpresa!
Criado por uma das ex-escritoras e artista de storyboard de A Hora da Aventura (outro grande sucesso da emissora), Rebecca Sugar, o desenho tem Steven (sobrenome: Universe) um garoto meio humano e meio alienígena como protagonista. A história gira em torno das Crystal Gems, uma equipe de guardiãs mágicas que protegem o universo de ameaças terríveis.
Filho de Rose Quartzo e Greg Universe, Steven herdou da mãe sua pedra (localizada no seu umbigo), após esta abandonar sua forma física para dar luz ao filho. Educado pelas habilidosas Garnet (Granada), Ametista e Pérola, o menino passa seus dias em Beach City ajudando-as a salvar o mundo ou brincando com sua amiga Connie.
Até aí nada de mais para um desenho, contudo o destaque da série é para a construção de narrativas um tanto quanto novas paras as crianças. Mas como assim? O personagem possui uma família diferente daquilo que geralmente é mostrado pela indústria infantil, tanto que em um dos episódios os pais de Connie convidam sua família para jantar e o menino acha nada mais justo do que ser acompanhado pelo trio de super-heroínas (fundidas em uma “giant woman”, Alexandrite).
Já que toquei no assunto, devo explicá-lo melhor: fusão é quando duas Gems se juntam (por meio de uma dancinha) e combinam corpos e habilidades criando uma nova personagem. Na série, a fusão representa, de forma alegórica, as relações entre os personagens, sendo essencial para o processo que estas estejam dispostas e que tenham o mínimo de afinidade, caso contrário a junção pode ser instável e/ou desfeita.
Além de ter uma organização familiar fora das convenções sociais (ignorando o fato delas serem alienígenas), as personagens femininas são poderosas e cheias de personalidade. Garnet (a líder) é alta e tem cabelo crespo, algo que se assemelha a um black power, Ametista (a engraçada) é baixa, gordinha, de cabelos longos e adora mudar de forma, já Pérola (a metódica) é inteligente, magra e de cabelos curtos. Steven, por sua vez, é um menino criativo, carinhoso, que se emociona facilmente e que tem uma compaixão além do imaginável.
Com personagens que quebram paradigmas, o desenho foi a primeira produção dirigida e criada por uma mulher para o Cartoon Network. Steven Universe já está na sua quarta temporada e vocês podem conferi-lo na Netflix ou pela TocaToon.
Sagitariano, quase Engenheiro Eletricista, com inclinações para o insult comedy, cantor frustrado, cinema, séries e fotografia. Hipocondríaco de gravidade exponencial. Escreve quando a universidade permite – por prazer e para se ver livre dos cálculos. Assina a coluna Set List.