‘Stranger Things’: a série que faltava sobre os anos 80

Quando assisti ao trailer da nova série da Netflix, Stranger Things, me perguntei o que mais dos anos 80 teriam para abordar? O que mais haveria para fazer se revival de moda, de sintetizadores e de filmes já fizeram? Bem, acho que faltava uma série que ligasse todas essas milhões de referências em um só lugar. E o melhor: sem o drama de esperar a semana toda para assistir a um novo episódio. A nova menina dos olhos do site de streaming estreou dia 15 de julho e desde então vem colhendo boas críticas e aceitação junto ao público.

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O enredo

Stranger Things é uma série de mistério e suspense que se passa no ano de 1983. Toda a estética, figurino, penteados e trilha sonora da época estão presentes. A história é ambientada na cidade fictícia de Hawkins, no Estado de Indiana, nos EUA. Os personagens moram em uma pequena área suburbana de classe média norte-americana, cenário este já usado em outras séries de mistérios, como Além da Imaginação e Twin Peaks.

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Da esquerda para direita: Lucas, Dustin, Mike e Onze

Os quatro amigos Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin) e Will (Noah Schnapp) são inseparáveis. Sempre estão pelo porão da casa de Mike jogando RPG até que, em um dia, Will desaparece. Esse fato é o motor da série. A pacata Hawkins se mobiliza, principalmente a mãe da criança desaparecida Joyce Byers (Winona Ryder). O chefe da polícia, Jim Hopper (David Harbour), tem de resolver o caso e também lidar com outros eventos que surgem na cidade. Além disso, uma garota – que se chama Onze (ou em inglês, Eleven, interpretada por Millie Bobby Brown ) – surge na cidade e se junta ao grupo dos meninos.

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Da esquerda para direita: Jonathan, Nancy e Steve

Outro núcleo tem extrema importância para trama: os irmãos. Nancy Wheeler (Natalia Dye), a estudiosa irmã mais velha de Mike. Ela namora com o popular Steve Harrington (Joe Keery). Nancy, ao lado de Jonathan Byers (Charlie Heaton), filho mais velho de Joyce, fazem uma investigação por conta própria para achar o paradeiro de Will. As quatro frentes de investigação: as crianças, a mãe, o chefe da polícia e os irmãos, levam a diferentes possibilidades que dialogam entre si.

São oito episódios ao todo e em cada novo “capítulo”, como são divididos, uma pista é inserida ao espectador. O piloto atiça a curiosidade logo nos primeiros segundos quando vemos o céu estrelado e em seguida o Laboratório Nacional de Hawkings, do Departamento de Energia dos EUA. Ali tem alguma coisa, mas fiquem tranquilos que não darei spoilers!

Os irmãos gêmeos Matt e Ross Duffer, que criaram a série, assinam o roteiro de alguns episódios e co-produzem-na ao lado de Karl Gajdusek e Shawn Levy and Dan Cohen. Sem pretensão alguma de esconder suas origens, The Duffer Brothers, como eles assinam, leram muitos livros de Stephen King, jogaram seus dados no bozo nos tabuleiros de RPG de Dungeons & Dragons; comeram muita pipoca com os filmes de Spielberg e George Lucas e não vacilaram ao mostrar que os sintetizadores são os melhores companheiros de cena de suspense e investiram no corte de cabelo de cuia. São justamente estas referências que me cativaram e me fascinaram.

And doesn't take no for an answer.

Elenco

Uma das minhas grandes dúvidas era se a série iria funcionar com um elenco majoritariamente mirim. Para minha sorte a escolha dos atores não poderia ter sido melhor. Eu estava sentindo falta de uma série original Netflix que me instigasse, me fizesse devorar todos os episódios de uma só vez e saísse recomendando para todos os amigos. Stranger Things não só tem um roteiro bem amarrado e repleto de referências oitentistas, das quais esta que vos escreve adora, como um elenco carismático e uma magia que só os filmes da nossa infância de sessão da tarde têm.

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Finn Wolfhard interpreta Mike

Finn Wolfhard, ator de 13 anos, interepreta o líder do grupo, o inteligente, criativo, sensível e gentil Mike, que acolhe Onze (Eleven) ao grupo e parte a procura de seu amigo. O ator é carismático e seu personagem é extremamente crível, poderia ser seu coleguinha nerd da escola.

Falando em coleguinha, quem não gostaria de ser amigo do Dustin que atire a primeira pedra. Gaten Matarazzo já atuou em musicais da Broadway, mas não foi cantando que ele cativou a todos, não. O “banguelo” do grupo é também o comilão, o mais sensato e leal, suas “janelinhas” são de verdade. Ele nasceu com displasia cleidocraniana, que retarda o crescimento dos dentes. A doença genética foi incorporada ao personagem da série. Gaten ao lado de Millie Bobby Brown (Onze) são os destaques do elenco mirim.

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Will (Noah Schnapp) é o motor da série

Noah Schnapp, o Will, aparece pouco. O fato curioso é que o ator já trabalhou com Spielberg: era o filho de Tom Hanks em “Pontes dos Espiões”. E o Caleb McLaughlin (Lucas), o questionador do grupo, embora tenha tido poucas participações nas telinhas, ficou famoso por interpretar Simba no musical  “O Rei Leão”.

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Winona Ryder, que já foi Nina em Drácula de Bram Stoker, musa de Edward Mãos de Tesoura, amiga do Beetlejuice e protagonista de diversas produções da década de 80 e 90, parece, enfim, ter atingido a maturidade em sua conturbada carreira. Fora das telonas protagoniza pela primeira vez uma série, Winona tem uma interpretação sensível. Seu desespero maternal e sua ingenuidade ao tentar comunicar-se de alguma forma com o filho é comovente. Fica a torcida de que a atriz volte a ter seu nome ligado aos seus trabalho e não em manchetes de fofoca.

Eu poderia passar o resto do dia citando as razões pelas quais assistir Stranger Things, dizer que tem um dos elencos infantis mais carismáticos que já vi; que tem a Winona Ryder dando a volta por cima; que tem uma trilha sonora com The Clash; que só tem OITO episódios. Mas a verdade é que depois que se assiste ao piloto, não tem mais como voltar atrás. É se entregar ao mistério e suspense que a série oferece. Depois você me conta por qual Dustin personagem você se apaixonou.

stranger things holding hands season 1 netflix handshake

Já para aqueles que assistiram a 1ª temporada e estão ansiosos para o que pode estar por vir, uma vez que ao final do oitavo episódio algumas pontas ficam soltas, sugerindo respostas nos “próximos capítulos”, deixe seu comentário e me diz se “aquilo” era “aquilo mesmo”. A segunda temporada foi confirmada e garanto que o Matt e o Ross Duffer, vão ter de pensar em algo ainda melhor para a nova temporada. Se antes eles eram um tiro no escuro, agora terão trabalho redobrado para satisfazer a legião de fãs que a série criou.

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Leila de Melo
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.
Leila de Melo

Leila de Melo

Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.

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