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O urso Ted (Seth MacFarlane), Mark Wahlberg e Mila Kunis |
Acho que tirei a última semana para recuperar meus atrasos cinematográficos e correr para as últimas sessões dos filmes que têm sido comentados no circuito comercial. O de hoje foi “Ted”, aquele do urso de pelúcia abusado que tem virado meme nas mídias sociais. Confesso que não estava com muita vontade de assisti-lo. Fui após ser persuadida, então, fiquei curiosa. Sinceramente, ainda estou tentando decidir se é um bom filme ou não. “Bom”, no meu vocabulário, é uma classificação recebida após uma resposta afirmativa à questão: “Valeu a pena pagar o ingresso?”
O enredo é simples, e o roteiro o apresenta de forma a se tornar ainda mais clichê e brega. John é um garoto desinteressante e carente até demais. Ao ponto de, aos 8 anos, dormir com um ursinho de pelúcia que repete um “Eu te amo” sempre que pressionado, ao bom estilo Juju Carente, e mais: deseja que o urso fale para que possam ser “amigos para sempre”. Segundo o narrador, breguíssimo, que narra um texto em off, nenhum pedido é mais forte que “o desejo de uma criança”, e eis que, na manhã seguinte, Ted acorda como um falante urso de pelúcia tão carente quanto o dono – sim, vivo.
A verdade é que “Ted”, do diretor Seth MacFarlane (cuja voz é emprestada ao urso homônimo), apela para clichês, um enredo chamativo e engraçado por si só, e várias bizarrices que, de tão estranhas, tornam-se engraçadas. Quer dizer, quando a gente fala que um cara de 34 anos vê-se num impasse por ter que escolher entre a namorada linda, inteligente e companheira e o melhor amigo – que, por sinal, é um urso de pelúcia pegador, um tanto ranzinza e drogado, afinal, não basta ser vivo – acha, no mínimo, engraçado e curioso e logo se sente incitado a conferir o humor que conseguiram tirar de uma situação tão inusitada.
E talvez a graça quase toda esteja concentrada somente nesse fator. Digo, dentre as atuações, nenhuma surpreende, e o roteiro do filme por vezes beira o mal gosto. Algumas situações e opções de cenas são completamente bizarras. Quando não, bregas. Contudo, os excessos são o que, para o espectador que está mais preocupado em divertir-se que em assistir a uma produção de qualidade, nos arrancam algumas risadas ao estilo: “Isso é tão maluco que chega a ser engraçado”.
Destaque para as “queimações” do filme: a cantora Norah Jones aparecer em uma participação bem pouco convincente e Flash Gordon é praticamente idolatrado no filme, com direito a participação especial do ator Sam Jones, que o interpretou na produção de 1980. A doutrinação se repete pela franquia Star Wars. Alguns produtos midiáticos, como Justin Bieber, Susan Boyle e Taylor Lautner, também funcionam como elementos de apelo para piadas que, nem sempre, acabam sendo engraçadas.
No mais, “Ted” tem todos os elementos dogmatizados para uma comédia (meio romântica) comercial: uma mulher bonita (e o fato de essa mulher ser Mila Kunis ajuda para caramba), um protagonista bonito ou bobo (ou os dois, como é o caso de Mark Wahlberg), um gay, uma cena de perseguição, alguns apelos sexuais, e um homem-estorvo, rico, chato e estereotipado, que funciona como mais um incômodo espinho na relação conflituosa do filme.
No fim das contas, não posso dizer que não me diverti com Ted. Verdade que sou incapaz de citar aspectos positivos, mesmo técnicos, da produção. Mas de tão idiota, achei engraçada. Talvez eu só estivesse de bom humor, vai saber. Por via das dúvidas, se você for um espectador muito crítico, evite sessões de ursos falantes pornográficos. Mas se o seu intuito for “desopilar”, rir mais e pensar menos, e divertir-se com piadas bestas, Ted pode ser uma boa opção.

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.