Tim Burton para no tempo com ‘O Lar das Crianças Peculiares’

O Lar das Crianças Peculiares traz uma ótima premissa: crianças que tem habilidades especiais e vivem em uma mansão conduzida pela Miss Peregrine (Eva Green). Jake, o protagonista, é um garoto normal, que vê na morte do seu avô, com quem tinha uma relação especial, circunstâncias estranhas que irão o levar numa jornada até o lar da Miss Peregrine.

O filme se desenrola de maneira bastante satisfatória no seu primeiro ato, com um passo calmo, nos deixando cientes da mitologia e das regras daquele mundo paralelo. Logo é revelado que existem alguns peculiares que, por sua ganância, foram castigados e se tornaram monstros. Sua única esperança é se alimentar dos olhos de outros peculiares e, assim, voltar a sua forma original. O líder desse bando maléfico é Barron, interpretado por Samuel L. Jackson, o que, honestamente, me fez ter um deja vú de Jumper (2008).

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Deja vú inclusive é um sentimento recorrente nesse filme. Tim Burton utiliza boa parte do seu repertório visual, mas não traz quase nada de novo. O visual de Emma, interesse romântico de Jake é uma clara evocação do personagem de Winona Rider em Edward Mãos de Tesoura. Por falar nisso, uma cena no jardim da casa nos mostra uma série de esculturas de grama, ao melhor estilo Edward. O que Burton estaria tentando nos dizer? Que Edward é uma criança peculiar? Ou que ele, como diretor, já chegou a um nível de realização em que ele se permite a auto-homenagem, se referenciando? Sendo uma coisa ou outra, esse tipo de escolha preguiçosa, acaba podando o desenvolvimento visual e narrativo do filme.

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Um primeiro ato promissor se converte em um restante de filme pra lá de infantil. Exceto por Jake e Emma, não conseguimos nos conectar com nenhuma das outras crianças. As que ainda podem ficar na nossa cabeça são as que servem de alívio cômico.  Na batalha final são como minions batendo cabeça e ganhando tempo para que Jake, o grande herói e salvador, cumpra seu papel. As atuações são todas caricatas, o que poderia até passar de maneira incólume, não fosse a trama rasa que tentam sustentar.

O filme não é cheio de defeitos técnicos, mas é tão pouco original que transforma uma história peculiar em algo que parecemos já ter visto antes. Os últimos trabalhos de Tim Burton mostram que o diretor claramente precisa se reinventar. Assim como o lar das crianças da Miss Peregrine, Tim Burton parece viver em uma fenda temporal da qual não consegue sair.

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O final, obviamente, dá margem para continuações, nos quais possivelmente outros personagens possam ser melhor desenvolvidos, mas pelo que podemos julgar desse primeiro filme, a transformação em franquia é algo que deve ser pensado com muito cuidado.

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Victor Hugo Roque
Victor Hugo Roque

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