Nascido e criado como Imperator, o Centro Cultural João Nogueira se destaca como um dos melhores centros culturais do Rio de Janeiro. A casa que na década de 80 abrigava o maior cinema da América latina – com 2.400 lugares disponíveis para a exibição de sucessos como “Dona Flor e seus dois maridos” e filmes hollywoodianos estrelados por James Dean, Marilyn Monroe e Elvis Presley – hoje, é mais reconhecida pela mudança que proporcionou na rotina dos moradores da Zona Norte.
Localizada mais precisamente no Méier, a casa de espetáculos ganhou em sua reinauguração o nome de um dos moradores mais ilustres do Bairro, o sambista e compositor, João Nogueira, falecido no ano de 2000. Logo na entrada do salão principal, é possível ver um acervo permanente de objetos pessoais do cantor cedidas de bom grado pela família, que costuma estar presente e participar ativamente dos projetos do Imperator. O filho de João, Diogo Nogueira, fez o show de reabertura do centro cultural. Ângela Nogueira, viúva do sambista, deu início a um projeto conhecido como “Clubinho do Samba” em referência ao aclamado Clube do Samba de João Nogueira, mas voltado para jovens que, na época em que o Clube do Samba reunia os maiores nomes do samba, nem eram nascidos. O projeto, desde seu início em 2013, já contou com aproximadamente 100 crianças e ressalta a importância de um centro cultural como esse para o bairro.
“Ela (Ângela) tinha uma ideia e a gente trouxe pra cá pro Imperator pra ideia se tornar real. A gente coloca um pré-requisito: tem que estar matriculado em escolas da rede municipal ou estadual, até porque uma das missões do Centro Cultural é preservar a educação ou ampliar a educação”, disse Paulo Lopez, em entrevista ao blog.
O “Clubinho do Samba” ainda apresenta maneiras diferentes de incentivar ainda mais a música no cotidiano desses jovens. “A criança pode levar o instrumento para casa para desenvolver, de fato, a habilidade no instrumento. Como é que ela vai exercitar se os pais, que talvez ganham um salário-mínimo, não tem condições de comprar um violão pra criança? Acredito que estamos dando uma oportunidade de vida para esses jovens. Nesse sentido, o projeto é mais do que eles virem aqui só tocar e ir embora”, garante o diretor.
O Imperator ainda conta com diversos outros projetos de teatro, música e até uma companhia de dança para a terceira idade, mas segundo Paulo Lopez, a missão do Imperator para a Zona Norte é muito mais abrangente. O diretor destaca que grande importância dele é estar geograficamente num local em que o público não teria acesso a esses gêneros artísticos ou culturais. “Eu acho que isso é a grande vantagem do Centro Cultural João Nogueira com relação aos outros centros culturais, até entre aqueles que se localizam no Centro e na Zona Sul. Além dos gêneros musicais, como o pagode e o Funk, nós damos a oportunidade ao público para ter acesso a uma variedade de gêneros culturais que, na Zona Norte, são muito limitados. Embora a região conte com o teatro Miguel Fallabela, no Norte Shopping, localizado no vizinho bairro do Cachambi, a programação de lá é esporádica e pulverizada. O Imperator é o único que abre todos os dias da semana. O CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) fecha, o da Caixa Federal, o dos Correios, o Oi Futuro, também”, diz.
O Imperator é um espaço democrático. Além de funcionar em todos os dias da semana, lá coexistem eventos gratuitos, aqueles com preços populares e os eventos pagos. Já recebeu companhias de dança contemporânea e de balé, com o clássico “O Lago dos Cisnes”. Uma apresentação de mulheres que cantavam Beatles ocupou o mesmo espaço que o carioquíssimo Baile Charme. Depois da reinauguração, o Centro Cultural teve a honra de receber Stevie Wonder, em apresentação com Gilberto Gil em dezembro de 2012. Mesmo com essas e outras grandes estrelas se apresentando no Imperator, Paulo garante que o Imperator é também um espaço de convivência.
“Se a pessoa não tem dinheiro pra pagar um show, ela pode vir ver uma exposição que é gratuita. Ela também pode frequentar a praça, onde ela pode ficar à vontade, tomar um sol e não precisa consumir pra estar aqui sentada. Temos salas seguras, bem iluminadas, climatizadas e que podem receber adultos, crianças, bebês, idosos e portadores de necessidades especiais, seja qual for a deficiência dele. A grande vantagem do Centro Cultural é conseguir – dentro de um só espaço – oferecer muitas coisas com segurança e conforto”, enfatiza.
Não foi à toa que segundo uma pesquisa realizada no bairro do Méier, o Imperator recebeu mais de 90% de aceitação dos moradores e Paulo acredita que isso se dá devido à uma demanda reprimida do morador que por alguns anos ficou carente de grandes eventos.
“Pensa no Méier, que é o segundo bairro com mais idosos do Rio de Janeiro (só perde para Copacabana), o bairro que tem mais escolas, o local que teve o maior cinema da América Latina, o local que teve uma das maiores casas de Shows do Brasil, não tinha absolutamente nada? É de espantar! O público estava louco pra entrar no espaço pra consumir. Não tinha era o espaço”, pontua.
A partir de uma perspectiva geral da Cidade, Paulo acredita que mais centros culturais como esse precisam ser construídos. “Fomos eleitos o melhor centro cultural pela Revista Época em 2013. Recebemos um milhão de pessoas em quinze meses. O que eu vejo é que precisa ter mais uns cinco Imperator aqui no Rio de Janeiro. Precisa ter um grande na Baixada Fluminense, um grande na Zona Oeste, tem que ter mais um na Zona Norte. Precisa de mais espaços culturais. O público talvez não tenha acesso e a pessoa fica muito presa dentro de um pequeno universo que ela não tenha acesso à outras coisas”.
Mas o Imperator não é só mais um centro cultural como os outros. Além de ser responsável por levar entretenimento diverso às pessoas, ele recebe como retorno a apropriação do lugar como um local de todos. Dispondo de uma área livre de 200 metros quadrados no terraço, é normal testemunhar encontros de estudantes, idosos e crianças que descobrem ali uma maneira melhor de passar o tempo.
“Isso é que é uma coisa muito legal. Você vê as pessoas se apropriando do centro cultural. A galera vai lá em cima e fica tocando violão. Aí vem uma outra galera e diz… ‘Posso fazer um ensaio de dança?’ ‘Pode’. Isso é maravilhoso, cara. O espaço ta aí, ta aberto pras pessoas. É só (elas) entrarem”, finaliza.
Por Reinaldo Rodrigues, especialmente para o blog O CHAPLIN