Vício Inerente e a paisagem mental de Paul Thomas Anderson

[dropcap size=small]C[/dropcap]ada filme tem sua própria proposta. Muitas  são repetidas e repetidas no grande circuito. Há, é claro, as de nicho. Se a proposta de um filme é: você não vai entender nada do que está acontecendo, mas mesmo assim irá se divertir muito, eu digo “Inherent Vice, aqui vamos nós”.

Após dois filmes seríssimos, Sangue Negro (2007) e O Mestre (2012), Paul Thomas Anderson nos entrega essa comédia-noir situada nos anos 70, em Los Angeles. Em Boogie Nights (1997), Paul também já havia explorado essa época em L.A, o submundo do cinema pornô, mas aqui é outro submundo, o das conspirações, dos hippies, das prostitutas, dos sequestros, nazistas, FBI e tudo isso regado a drogas tornando tudo mais psicodélico (e confuso), criando os mais diferentes e interessantes personagens para conhecermos!

É muito importante: conhecer os personagens. À medida que acompanhamos  o protagonista Larry “Doc” Sportello, um detetive-hippie, interpretado maravilhosamente por Joaquim Phoenix, que tenta ajudar sua ex-namorada, diversas personagens estranhas vão aparecendo. E o filme é sobre essas pessoas, as situações, a complexa trama não importa. Esse linha narrativa usada pelo diretor é uma das principais características dos romances de Raymond Chandler, mas primeiro vamos ao Altman!

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P.T. Anderson é fortemente influenciado pelo mestre Robert Altman, e nesta obra em questão, The Long Goodbye de Altman bate como a principal referência. O longa de Altman é adaptado do romance de Raymond Chandler, um dos principais autores do gênero na literatura, o chamando Pulp Fiction, que contribuiu fortemente pra formação do gênero noir na década de 40. Um bom exemplo é The Big Sleep, dirigido por Howard Hawks, do romance de Chandler. Big Sleep é outra grande influência para o filme de Paul, nem os roteiristas do filme sabiam o que se passava na história, de tão confusa! O autor do romance Vício Inerente, Thomas Pyncoon, homenageia os autores de romances noir, como Chandler e James M. Cain. Já Paul introduz outras influências, em uma mistura de homenagens, criando seu próprio mundo, seu próprio imaginário de uma L.A. hippie que talvez nunca existiu.

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Pra filmar esses personagens estranhos nesta confusa história, Anderson usa seu domínio total da técnica cinematográfica, as personagens são filmados de uma forma extremamente realista, são pessoas de verdade, sem excessos de maquiagem, sem astros photoshopados, é tudo naturalista. Algo que impressiona muito é a pele dos atores, dá pra sentir cada emoções através dela, cada vermelhidão, a fotografia de Robert Elswit captou cada nuance. O que vale destacar é que o filme foi rodado em 70mm, Paul juntamente com  Quentin Tarantino e Christopher Nolan fizeram um acordo pra filmar com essa película. O próprio Paul já havia feito uso no longa “O Mestre”, Nolan fez o excepcional “Interstellar” e o trabalho de Tarantino chegará este ano com “The Hatefull Eight”.

Assim como Tarantino, P.T. Anderson usa a referência, mixa com tudo que ele sabe e cria algo pessoal, sua própria visão, e tudo no maior domínio da linguagem cinematográfica, puro deleite!

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Jonathan De Assis
Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.
Jonathan De Assis

Jonathan De Assis

Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.

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