“Waking Life” é um filme lançado em 2001 que traz consigo novas discussões sobre os limites dos sonhos e de como os exploramos, já que passamos aproximadamente um terço de nossas vidas sonhando. O filme, cujo diretor é o americano Richard Linklater (“O Homem Duplo”, 2006), nos conduz por um mundo de reflexões sobre os vários momentos de nossas vidas, colocando na tela impressões e sentimentos de um personagem que, mesmo dirigido pelo inconsciente, busca ainda resquícios de uma forma consciente.
O longa conta a história de um jovem (não intitulado) que não consegue acordar de um sonho e passa a viajar por um mundo onde busca respostas para sua existência por meio de conversas com as pessoas que marcaram sua vida, travando com elas discussões religiosas, filosóficas, psicológicas, antropológicas, culturais e artísticas. Porém, o grande diferencial do filme, que lhe permite conseguir romper a barreira da realidade a ponto de construir na obra um mundo totalmente surreal e ilusório, é a técnica denominada de rotoscopia.
O uso de rotoscopia no filme permitiu a Linklater desenvolver imagens às vezes distorcidas, às vezes realistas e até mesmo criar ambientes onde ocorre a mistura do onírico com o real, estabelecendo, assim, no enredo, o paradoxo humano no qual não é possível discernir exatamente o “real”. Traçando um paralelo entre o mundo dos sonhos e o mundo da vida real, Linklater se apoia bastante na afirmação de Jung de que “a psique cria realidade todos os dias”.
Uma grande inovação relacionada à rotoscopia foi a necessidade do desenvolvimento do Software “Rotoscoping Rotoshop”, que tem como principal função desenvolver essa técnica sem a necessidade de desenhistas. Porém, “Waking Life” não foi o único filme a se utilizar deste novo recurso tecnológico, pois cinco anos depois o mesmo diretor iria lança a obra “O Homem Duplo”.
“Waking Life” é um desenho animado que favorece a liberdade de expressão para o diretor e toca nossa criança interior. Como afirma Horschutz (2006, p. 2), “ao trazer sequências de imagens que remetem ao universo onírico, o filme revela a possibilidade de se poder mergulhar tão profundamente nos próprios sonhos até à fusão com os mesmos, o que poderia significar a perda total da consciência, ou mesmo a morte do Eu”.
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.