Wilder Mind e a reinvenção do Mumford & Sons

Folk feliz do tipo que colocam em filmes com paisagens bonitas recheadas de pessoas sorridentes, banhos de mangueira e comunidades hippies, tudo isso igualzinho e genericamente tomado como original e “cheio de alma” pelos críticos musicais. Essa era a fórmula de sucesso que seguia o Mumford & Sons nos seus dois primeiros discos, e que felizmente para mim, venceu o prazo de validade.

A troca do banjo pelas guitarras é a transição não-natural de uma banda de folk que cultivava uma imagem tão rural como o Mumford & Sons, e por isso mesmo tão chocante e capaz de causar rejeição do público e da crítica especializada. O novo álbum Wilder Mind soa como um projeto ousado de redescoberta de identidade do grupo inglês, que aposta em guitarras minimalistas, teclados reconfortantes e drum machine em seus arranjos agora, de puro indie-rock.

Banjo é chato, gente.
Banjo é chato, gente.

Música para manhãs preguiçosas” é assim que eu definiria a faixa de abertura do disco, Tompkins Square Park, que curiosamente é o nome de um parque de Nova York próximo ao estúdio de Aaron Dessner, guitarrista do The National e um dos produtores do disco junto com James Ford (membro do Simian Mobile Disco, que já produziu álbuns de Arctic Monkeys e Florence + the Machine). A segunda faixa Believe é uma balada que segue na temática dos relacionamentos, uma música que começa minimalista com harmonizações de teclado para depois explodir com a bateria e os outros instrumentos, sendo o oposto da canção seguinte The Wolf que já começa agitada e enorme.

A faixa-título Wilder Mind – e também a melhor música do álbum – é toda bem marcada, com percussão eletrônica (drum machine) e camadas de som das guitarras que lembram o trabalho de Dessner no The National, mas sem a voz “gripada” de Matt Berninger. No lugar, apenas o ingrediente principal da banda, a voz do seu vocalista Marcus Mumford, que traz coesão até em faixas mais fracas como Just Smoke (a mais parecida com os discos anteriores da banda) e a morna e arrastada Monster, da mesma forma como brilha e é reconfortante em faixas como Snake Eyes (que possui uma capacidade imensa de figurar na trilha sonora de algum seriado) e na emocionante e melancólica Cold Arms, mais dois pontos altos do disco.

O disco Wilder Mind na sua versão deluxe ainda conta com versões ao vivo de Tompkins Square Park, Believe, The Wolf e Snake Eyes. Uma boa pedida para aqueles que assim como eu não irão conseguir ver a banda, que se apresentará pela primeira vez no Brasil no festival Lollapalooza de 2016. Caso você já tenha garantido seu ingresso, saiba que você terá a sorte de ver e ouvir uma das poucas bandas que ao vivo toca exatamente como ouvimos no disco.

Veja o clipe de Snake Eyes

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Emilly Lacerda
Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.
Emilly Lacerda

Emilly Lacerda

Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.

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