Zootopia – Essa cidade é o bicho aborda temas difíceis com leveza

Em Zootopia – Essa cidade é o bicho, assim como no livro A revolução dos Bichos, de George Orwell, vemos uma realidade em que os bichos vivem em comunhão e harmonia aparente, uma utopia que aos poucos vai sendo quebrada. A diferença nas duas tramas é a divisão de poder: se na alegoria de Orwell quem expulsou os humanos e comandava a fazenda eram os animais mais inteligentes, os porcos, no filme há apenas a divisão entre “predadores” que ocupam posições de comando na cidade enquanto as “presas” são relegadas à trabalhos mais inofensivos. Na cidade de Zootopia, humanos não existem e os animais interiorizam os costumes humanos (antropomorfia); por isso eles andam com duas patas, usam celulares, tomam café e vestem roupas.

A história é focada em Judy Hopps (na versão brasileira, voz de Mônica Iozzi), uma coelhinha que desde pequena está determinada a perseguir seu grande sonho de se tornar policial. O problema é que ela faz parte da classe “presa”, e segundo o costume, presas não podem ocupar postos mais agressivos ou de poder, além de enfrentar o desafio de mudar-se para uma cidade grande. Com determinação, ela consegue enfim passar pelo teste físico para ser policial em um programa especial “de inclusão” das presas em outras categorias de trabalho, mas que no final acaba levando-a a ser policial de trânsito.

Nesse ponto, o espectador que não conhece nada do enredo acha que tudo vai girar bonitinho, como no restante dos roteiros com personagens femininas fofinhas: trabalhar para se provar relevante, enfrentar o malvadão e viver um conto de fadas com um coelhinho encantado igualmente fofinho. Mas aí é que Judy encontra Nick Wilde (voz de Rodrigo Lombardi), uma raposa golpista que a envolve em suas trambicagens, mas logo em seguida, incrivelmente, ajudando a protagonista a resolver um caso.

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Um bom ponto do roteiro de Zootopia é não apelar para a necessidade de inserir um romance na trama, a exemplo de Frozen – uma aventura congelante, que embora destacasse o relacionamento das irmãs Ana e Elza, havia um romance coadjuvante entre Anna e Kristoff. Aqui, o foco é a superação de preconceitos, como já sugere a música-tema cantada por Shakira, Try Everything (Tente tudo, em tradução livre). A própria cantora colombiana, aliás, está representada como Gazelle, uma popstar cujo público é tão amplo que até policiais fazem parte do seu fandom.

A ambientação do filme está incrível com a cidade grande toda dividida em habitats que vão do gelo à floresta tropical e até uma cidade em miniatura para os ratinhos. Na área de grande circulação de espécies, o longa de animação mostra os animais indo ao trabalho passando por portas adaptadas aos seus tamanhos.

Não sei dizer se a versão original do filme com Idris Elba (Luther) emprestando sua voz ao personagem Chefe Bogo está melhor do que a versão dublada a que assisti. Porém, considero a dublagem perfeita por não reconhecer as vozes tão famosas dos atores brasileiros responsáveis pelos personagens principais. Há também destaque para personagens que remetem a clássicos do cinema, como o caso do ratinho Mr. Big, inteiramente inspirado em Don Corleone de O Poderoso Chefão, entre outros easter-eggs que provavelmente deixei passar.

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Mr. Big

As melhores animações da Disney são aquelas que não duvidam da inteligência das crianças ao tratar temas adultos. No caso de Zootopia e em outra produção da Disney mais recente, Divertidamente, temas como ética, diversidade e preconceito e a discussão da formação dos sentimentos são abordados. Com direção de Byron Howard (Enrolados, Bolt) e Rich Moore (Detona Ralph), ela cumpre muito bem seu papel nesse aspecto de uma forma leve, colorida e muito bem humorada.

Além de agregar aos pequenos discussões de temas tão complexos, Zootopia é um bom filme para que os pais também possam assistir, ao contrário de outras animações como Minions, que deixam muito a desejar pelo seu recheio repleto de sacadas rápidas de riso instantâneo como peidos e quedas e, por isso, tornam inviável o interesse de alguém com mais de 12 anos de idade.

Veja o Trailer:

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Emilly Lacerda
Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.
Emilly Lacerda

Emilly Lacerda

Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.

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