Vingadores – Ultimato: Uma carta cheia de amor aos fãs

“Eu sou o Homem de Ferro”!

11 anos separam o Tony Stark (Robert Downey Jr.) que disse essa frase pela primeira vez, em Homem de Ferro (2008), do que a repete em Vingadores – Ultimato (2019). Nesse intervalo, muita, mas muita coisa rolou. Durante 21 filmes, personalidades foram montadas e remontadas, um estúdio se firmou com um trabalho ambicioso e muitas histórias foram contadas – ora relevantes, ora desinteressantes. O fato é que em 2019, a Marvel entrega o ápice esperado, o 22º capítulo, o clímax de uma saga que chega como verdadeiro presente aos fãs que, pacientemente, compraram essa jornada.

Após os trágicos acontecimentos de Guerra Infinita (2018), os Vingadores originais tentam lidar com as dores das perdas e o desejo de vingança. Os heróis passam a monitorar o universo em busca de qualquer sinal de Thanos (Josh Brolin), na tentativa de confrontá-lo e desfazerem o que foi conseguido graças a Manopla do Infinito.

[alert type=white ]ATENÇÃO! ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS E NÃO É RECOMENDADO PARA QUEM AINDA NÃO ASSISTIU AO FILME.[/alert]

Assim como no anterior, a direção fica sob a responsabilidade dos irmãos Anthony e Joe Russo e o roteiro, da dupla Christopher Markus e Stephen McFeely. O trabalho do quarteto é impressionante ao oferecer peso dramático e trazer novas camadas a personagens que já acompanhamos há tanto. Nesse sentido, o início já é extremamente relevante para a construção da trama.

A morte de Thanos, debilitado após ter destruído as Jóias do Infinito, é um artifício muito eficiente: para os heróis, representa a impotência diante de mais uma derrota, de não conseguirem o que pretendiam; para a plateia, uma frustração pela simplicidade do ato – e por ter acontecido tão cedo – ao mesmo tempo que nos deixa sem saber o que esperar, uma dúvida sintetizada num sonoro “e agora?”.

Cinco anos se passam… Esse hiato é crucial para oferecer um panorama diferente do que nos acostumamos a ver nos cinemas. Não existe mais a segurança dos vitoriosos, apenas incerteza e inquietação. Essa situação molda os protagonistas: Steve Rogers (Chris Evans) insiste em fazer a diferença ao liderar um grupo de apoio aos sobreviventes, mas em seu interior segue quebrado e sem esperanças; Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) canaliza suas forças para organizar o que sobrou do grupo; Bruce Banner (Mark Ruffalo) encontrou uma maneira harmoniosa de conviver com sua condição e se tornou um “Hulk sensato”; Thor (Chris Hemsworth) se castiga por não ter matado Thanos e a culpa o transformou num alcoólatra gordo; Clint Barton (Jeremy Renner), que perdeu a família no estalar dos dedos, se tornou um assassino; e Tony Stark amadureceu, casou com Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) e se tornou pai.

E por que tudo isso é importante? Porque é necessário dar substância, peso, valor às atitudes e escolhas da produção. É preciso despertar um engajamento genuíno na plateia para que as emoções sejam verdadeiras, e os roteiristas sabem disso. Diferente de Guerra Infinita, que matou apenas personagens que já tinham continuações confirmadas e sabíamos que eles voltariam de alguma maneira – uma escolha nada eficiente -, aqui as perdas têm peso maior, sabemos que serão definitivas.

Não por acaso, a estrutura narrativa entrega três atos inteligentes, onde o primeiro e parte do segundo são dedicados ao desenvolvimento substancial da trama, o restante do segundo é uma preparação para o clímax e o terceiro, na hora certa, traz toda a ação épica aguardada. E se não fosse assim, a grande batalha final não seria tão impactante, tão pouco as perdas que temos pelo caminho…

O recurso de viagem no tempo é outro acerto da produção, principalmente pela maneira como foi utilizado. Na tentativa de reescreverem a história, os Vingadores se dividem e visitam momentos específico dessa trajetória de 11 anos: a batalha de Nova York em The Avengers – Os Vingadores (2012), a visita de Jane (Natalie Portman) a Asgard em Thor – O Mundo Sombrio (2013) e quando Peter Quill (Chris Pratt) rouba uma das Jóias em Guardiões da Galáxia (2014). Além de permitir belos momentos pessoais para as personagens envolvidas, em mais um toque emocional, o recurso serve como costura de tudo o que foi feito nessa jornada e como autorreferência, numa espécie de recompensa para os que dedicaram tempo e dinheiro para acompanhar cada uma das aventuras da Marvel nas telonas.

Embora tenha inúmeros acertos, não dá pra dizer que o filme, por si, é irretocável. Alguns tropeços deveriam ter sido vistos com mais cuidado pela produção, como o fato de um rato, completamente ao acaso, acionar a máquina quântica e libertar o Homem-Formiga (Paul Rudd); a maneira como o vilão, no passado, descobre o plano dos Vingadores ou como ele e seu exército conseguem viajar no tempo. A teoria de viagem no tempo adotada também não é precisa, permitindo a existência de paradoxos – embora, nesse caso, eu ache aceitável já que viagem no tempo é algo meramente especulativo e impossível de chegar a uma versão realmente consistente.

Porém, todos esses tropeços sucumbem diante da paixão que é posta em tela. O que os irmãos Russo fazem é uma verdadeira carta de amor aos fãs – e não por acaso, os créditos finais trazem o autógrafo de cada um dos protagonistas -, repleta de emoção e momentos icônicos. Anthony, Joe, Markus e McFeely dão um encerramento apoteótico à saga, trazem rimas visuais icônicas como recriar uma cena de elevador ou dar ao Falcão (Anthony Mackie) a frase que ouviu do Capitão América numa corrida simples, ambos momentos de Soldado Invernal; fazer o Capitão erguer o Mjolnir, remetendo à cena da festa em Era de Ultron (2015); ou fazer Tony Stark encerrar tudo ao dizer “eu sou o Homem de Ferro” 11 anos depois, não só como autorreferência, mas como ponte da evolução. A personagem que era arrogante e egoísta agora compreende bem o altruísmo inerente de sua posição. O cara que começou tudo está ali, pondo um ponto final…

Por tudo isso, não dá pra dar espaço aos tropeços de Vingadores – Ultimato. Não se trata apenas de mais um capítulo de franquia, é o encerramento épico e encantador. É quando o calor das emoções e a satisfação de vivenciar esse evento são maiores que a frieza do rigor analítico da crítica, do critério extremamente técnico do fazer cinema. Não se pode negar o feito que é construir um universo de 22 filmes, todos interligados – mesmo com alguns em menor escala. É preciso compreender e respeitar toda a história construída em mais de uma década e Ultimato o faz!

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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