Oscar 2020: Análise dos indicados em Direção de Arte, Figurino, Efeitos Visuais e Maquiagem

Todos os prêmios que trazem indicadores para o Oscar, seja dos sindicatos ou da crítica, já tiveram seus vencedores revelados, estamos na reta final do Oscar, que acontece esse domingo, dia 9. Então é hora de fazer minhas apostas e também discorrer sobre qual é o meu favorito, em resumo: quem vai ganhar e quem eu acho que merece ganhar. Mas nesse texto não farei de todas as categorias, mas sim daquelas cujo responsável não tem tanta fama, normalmente citamos os diretores (que aqui também o farei, não tem como falar de nenhum aspecto do filme sem falar sobre eles), os roteiristas, os atores, diretores de fotografia e as vezes editores. Aqui, irei ficar nas categorias que fazem parte da mise-en-scene, que é aquilo tudo que está dentro dentro do plano, ou seja, direção de arte, figurino, maquiagem e efeitos especiais (atores também fazem parte, mas estão fora daqui). 

Eu pessoalmente considero Era uma vez em Hollywood, de Quentin Tarantino o filme mais bonito do ano, e é meu favorito em várias dessas categorias acima, mas é claro que beleza não é o único fator, o estilo cinematográfico cumpre diversas funções, irei destacar quatro que serão meus critérios nas análises de todas as categorias. Denotativo, que conta a história; expressivo, que expressa ou causa sentimentos/emoções; simbólico; e decorativo, que opera por si só, estilo pelo estilo. Contudo não seria possível analisar cada filme indicado partindo desse critérios, por isso irei selecionar um ou dois filme de cada categoria para um comentário maior.

Melhor Direção de Arte

    • 1917 – Dennis Gassner
    • Jojo Rabbit – Ra Vincent
    • Parasita – Ha-jun Lee
    • Era uma vez em Hollywood – Barbara Ling
    • O Irlandês – Bob Shaw

Esse ano não tivemos nenhum filme de fantasia/sci-fi indicado na categoria, eu tranquilamente tiraria Jojo Rabbit para por Ad Astra, e manteria a tradição. Tais filmes costumam ser premiados aqui, na última década tivemos Pantera Negra, Mad Max: Fury Road, Alice no País das Maravilhas e Avatar como vencedores, podendo-se até incluir A Invenção de Hugo Cabret e A Forma da Água nessa ideia de fantasia, mas eles são também filmes de época, que é outra tendência nessa categoria a premiação. E esse ano temos quatro filmes de época, e um único filme contemporâneo, o sul-coreano Parasita, que é um dos melhores na categoria e está de fato na competição pela vitória, os rivais aqui são 1917 e Era uma vez em Hollywood, irei discorrer sobre os três.

O sindicato de diretores de arte premiou Era uma vez na categoria de filme de época e Parasita na de filme contemporâneo (Vingadores Ultimato levou na categoria de fantasia/sci-fi), já 1917 levou o BAFTA na categoria. Antes da análise, gostaria de lamentar outra falta, de Coringa, no meu texto sobre a obra discorri um pouco sobre a direção de arte. O único filme contemporâneo a vencer na categoria na última década foi o incrível La La Land, que não se parece em nada com Parasita, mas sim com o seu rival, Era uma vez. 

Parasita tem poucos cenários, mas cada um deles é um personagem por si só, seja a casa da família rica ou o cortiço de casas-porões em que a família pobre vive. Funcionam para destacar as diferentes classes sociais, mas não só isso no que competem contar a história, foram construídos para caber perfeitamente no formato anamórfico de tela escolhido pelo diretor e criar encenações em profundidade (discorro sobre o formato no texto de Fleabag). Planos onde temos um personagem na escada e outros na sala de estar só são possíveis devido ao trabalho de design de produção (como também é chamada a direção de arte). Ladeiras e escadas também desempenham um papel importante no filme, seja a função simbólica de representar a separação entre as classes sociais (procure por linhas) e a ascensão ou declínio dos personagens. Spoiler: A cena da descoberta do homem vivendo escondido na casa rica é presidida por uma descida em corredores que parecem não acabar mais, criando enorme tensão (função expressiva), o longo cenário também marca o fim da narrativa irrestrita, agora estamos juntos com os personagens, não sabemos o que está no fim do corredor e devemos ir até o final para descobrir.

Sobre 1917, repito o que coloquei na review que escrevi sobre ele, cada novo cenário parece uma fase de videogame, com novos desafios, o trabalho da fotografia sugere essa associação ao mundo dos jogos, seja as tumultuadas trincheiras, a terra de ninguém cheia de buracos, corpos, ratos, ou um dormitório subterrâneo as escuras e com… ratos, sendo essa uma das cenas mais tensas da primeira parte do filme. Os cenários funcionam para contar o que aconteceu antes assim como expressam uma sensação de morte aos dois protagonistas, do seu possível destino. 

Contudo, o meu favorito e minha aposta é em Era uma vez em Hollywood. Se Parasita é o mais minimalista, Era uma Vez é o mais grandioso. Os US$ 90 milhões de orçamento foram bem gastos na recriação de Los Angeles dos anos 1960. Tarantino se recusa a usar computação gráfica, então tudo o que vemos no filme foi realmente criado, o nível de detalhe das ruas, assim como das casas de cada um dos personagens é incrível. Enquanto Parasita e 1917 têm ideias mais específicas para seus cenários, mantêm o objetivo ao decorrer do filme (sem tirar o mérito deles por isso), Tarantino juntamente com a designer Barbara Ling tem inúmeras delas, devido à natureza do filme que é construído de forma episódica, seja os sets de filmagens, os filmes exibidos, as ruas de LA, as casas dos personagens e o já clássico Rancho Spahn, habitado pelos seguidores de Charles Manson. Um texto futuro de análise fílmica será dedicado apenas à Era um vez em Hollywood.

Vai ganhar: Era uma vez em Hollywood

Deveria ganhar: Era uma vez em Hollywood


Melhor Figurino

    • Adoráveis Mulheres – Jacqueline Durran
    • Era uma vez em Hollywood – Arianne Phillips
    • O Irlandês – Sandy Powell, Christopher Peterson
    • Coringa – Mark Bridges
    • Jojo Rabbit – Mayes C.Rubeo

Faço a seguinte colocação: se pegarmos um manequim e colocarmos o figurino de Adoráveis Mulheres nele, acho muito difícil alguém associar diretamente ao filme, o mesmo pode ser dito de O Irlandês e Jojo Rabbit, sem diminuir o trabalho dos profissionais de cada filme, posso dizer que não são icônicos, mas é claro que faz parte da construção de mundo dos filmes. Não dá para imaginar O Irlandês sem os ternos, Sandy Powell vencedora de três oscars é a responsável por eles, tendo trabalhado diversas vezes com Scorsese, vencido inclusive por O Aviador. Voltando ao manequim, os figurinos de Era uma vez em Hollywood e Coringa seriam facilmente reconhecidos, e são meus preferidos aqui, embora não sejam os favoritos a ganhar. 

O sindicato de figurinistas premiou Jojo Rabbit na categoria de filme de época,  todos os indicados desse ano são filmes de época. No Oscar de figurino, filmes de fantasia/sci-fi são premiados as vezes, Pantera Negra e Mad Max venceram nesta última década, mas o domínio nas indicações e vencedores é total de produções de época, filmes contemporâneos não têm vez aqui.  

Mark Bridges está indicado por Coringa, e venceu recentemente pelo brilhante Trama Fantasma do genial Paul Thomas Anderson, aliás fez o figurino de todos os filmes do diretor, então Todd Phillips escolheu a dedo o responsável por vestir o vilão mais famoso dos quadrinhos. É um personagem com diversas representações, tanto no cinema quanto nas HQs, estão é um desafio criar algo único que remete àquele Coringa em específico, e conseguiu. No teste do manequim, dificilmente alguém terá dúvidas sobre qual Coringa se trata, além de expressar o momento de exaltação vivido pelo personagem quando finalmente se torna o Coringa, um vermelho forte, enquanto o resto do figurino de Arthur Fleck é bem depressivo.

Mas novamente me rendo a Era uma vez em Hollywood, porque um manequim não é suficiente para o filme, precisaria de no mínimo três para cada personagem principal, Rick Dalton, Cliff Booth e Sharon Tate, é muito estilo! O filme tem uma estrutura de “Um dia na vida”, então acompanhamos os personagens em suas atividades o dia inteiro, e eles tendem a usar o mesmo figurino por todo aquele dia, então como função fílmica do estilo, o figurino deve expressar características dos personagens por um longo período de tempo, em cenas longas e diferentes situações, então precisa ser bastante icônico. Rick (DiCaprio) é quem mais muda de figurino, por interpretar vários personagens ao decorrer do filme, embora passe muito tempo com cada um deles, já Cliff (Pitt) mantém o mesmo figurino o dia inteiro, são três dias de enredo, três figurinos estilosos para você usar no Carnaval. 

O trabalho de Arianne Phillips e Tarantino conta quem são aqueles personagens. Na primeira vez que vemos Rick e Cliff, eles estão no set de filmagem com a mesma roupa (a cena é em preto e branco) mas na sequências de créditos quando os dois entram no carro, e os vemos primeiramente de costas, já podemos delinear as diferenças, e quando saem do carro temos um contraste de seus sapatos, as botas da Sharon também recebem destaque nesta abertura. E no bar, quando Tarantino enquadra a bebida podemos ver o anel de ouro de Rick, assim como seu relógio e colar, mas a câmera se desloca para Cliff e já temos outro mundo. Só nessa abertura, sem diálogos, temos um bom indicativo de quem são aqueles personagens. 

Elogios a parte para Era uma vez em Hollywood e Coringa, não creio que iram ganhar, acredito inclusive que a disputa atualmente é entre Adoráveis Mulheres e Jojo Rabbit, mas ao meu ver a Academia não irá deixar o filme da Greta sair sem nenhum prêmio, a sua não indicação a direção  já causou muita polêmica, talvez leve roteiro adaptado também partindo dessa ideia. Só não acho que a Academia irá premiar os uniformes nazistas de Jojo, o mais próximo foram os uniformes do Império em Star Wars, e o filme não é só isso, é inclusive muito icônico, então a torcida está com Era uma vez em Hollywood.

Vai ganhar: Adoráveis Mulheres

Deveria ganhar: Era uma vez em Hollywood


Melhores Efeitos Visuais

  • 1917
  • O Rei Leão
  • Vingadores: Ultimato
  • O Irlandês
  • Star Wars: A Ascensão Skywalker

Aqui elementos fantásticos predominam, comentei sobre os filmes fantasia/sci-fi nas outras categorias, mas a verdadeira casa deles é aqui. Na última década, cinco filmes de Ficção Científica levaram a estatueta: Avatar, A origem, Interstellar, Ex Machina e Blade Runner 2049, e sou muito fã de todos eles, em especial Blade Runner. Animais também podem render o Oscar, como é o caso dos vencedores As aventuras de Pi e Jungle Book. Gravidade e O Primeiro homem não são sci-fi, mas estão mais próximos do que longe, e também venceram na categoria. A categoria está de parabéns por seus vencedores nesta última década. 

O terceiro filme do Damien Chazelle, o fantástico O Primeiro Homem, é o vencedor do ano passado, e também o filme mais pé no chão a ganhar recentemente, isso pode ajudar O Irlandês e 1917, com a inclusão de diversos novos membros, talvez seja o novo gosto da academia, efeitos visuais auxiliares, que não tomam o primeiro plano. A tecnologia de captação de movimento de O Irlandês é inovadora, os atores não precisam usar nenhum tipo de aparelho para terem suas feições captadas, toda a tecnologia está na câmera, que usa três lentes ao mesmo tempo. Os efeitos nos presentearam com as incríveis atuações de DeNiro, Al Pacino e Pesci em diferentes idades, já é um grande feito. Talvez esse seja o único prêmio dessa obra-prima do Scorsese na noite do Oscar, tendo inclusive levado o prêmio de efeitos auxiliares no Visual Effects Society Awards, o outro prêmio principal foi para o Rei Leão, mas não o vejo com chances no Oscar.

Um único filme de super herói conseguiu levar essa estatueta, foi Homem-Aranha 2 em 2005 (a vitória de Superman na década de 70 foi um prêmio especial). Sendo assim, a Marvel nunca conseguiu emplacar, e esse ano vem com Vingadores: Ultimato, ao meu ver não acrescenta nada de novo em termos de efeitos, uma vitória aqui seria pelo conjunto de todo o universo Marvel no cinema. Pode acontecer.

1917 é um dos favoritos no Oscar 2020, e vem forte em diversas categorias, mas filmes de guerra geralmente não são premiados aqui, e no quesito de efeitos auxiliares, O Irlandês leva vantagem. Ao meu ver, a competição aqui é entre Vingadores e O Irlandês, ironicamente, devido às declarações de Martin Scorsese a respeito dos filmes de super herói. 

Vai ganhar: O Irlandês

Merece ganhar : O Irlandês


Melhor Maquiagem e Penteados

  • 1917
  • Judy
  • O Escândalo 
  • Coringa
  • Malévola: Dona do Mal

Transformações realizadas nos atores é o que geralmente se premia aqui, podemos dizer que são efeitos especiais práticos nos corpos dos atores. O Irlandês infelizmente não foi considerado aqui como um trabalho de maquiagem, não estando na shortlist dos filmes que podiam ser nomeados. Era uma vez em Hollywood estava nessa shortlist e merecia a indicação.

Como não vi todos os filmes não irei realizar análise de quem merece ganhar. Mas posso elogiar o trabalho de Coringa, pelo visual icônico do personagem, assim como foi em Dark Knight, mas o toque de sangue na maquiagem em duas cenas foi fantástico. Uma das cenas mais impactantes de 1917 é quando vemos a ala médica repleta de soldados feridos e agonizantes, aqui a maquiagem funciona para mostrar o efeito da guerra assim como expressar uma enorme angústia e horror no espectador.

Mas quem é o favorito é O Escândalo, pela recriação das apresentadoras da Fox News nos corpos de Charlize Theron e Nicole Kidman, esse trabalho afeta mais o público americano por ter contato direto com as jornalistas retratadas. 

Vai ganhar: O Escândalo 


Então é isso, um pouco de análise, um pouco de histórico do Oscar, um pouco de previsão, e muito de gosto pessoal, vamos ver se acerto os vencedores, embora prefira sair feliz do que acertar.

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Jonathan DeAssis
Estudante de mestrado da UFRN. Aspirante a cineasta. Tenta analisar filmes.
Jonathan DeAssis

Jonathan DeAssis

Estudante de mestrado da UFRN. Aspirante a cineasta. Tenta analisar filmes.

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